As exportações brasileiras de carne bovina continuaram batendo recordes, inclusive agora em 2022. Foi registrado em julho o melhor mês da história em termos de faturamento. US$ 1,1 bilhão, além do registro do segundo melhor julho da história em termos de volume. Foram 167,3 mil toneladas exportadas. Desse total, vejam aí o calibre do cliente, 110,7 mil toneladas foram destinadas à China, uma proporção de 66% de tudo que foi embarcado e 23% de tudo que foi produzido de carne bovina pelo Brasil nesse período.
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Um dos pontos de atenção é a busca incessante pela abertura de novos mercados para que possamos diluir essa concentração. Desde 2015, o ano em que estabelecemos essa parceria comercial da carne bovina para a China, nós tivemos boas novidades. A abertura do Canadá em 2022, Indonésia em 2019, carne resfriada para Israel em 2018, Cingapura, Tailândia em 2020, carne com ossos para o Uruguai em 2022 e também reabilitamos os Estados Unidos em 2020, cuja participação nas exportações brasileiras começou a ganhar espaço com aquele recuo chinês no final do ano passado. Mas não é o único modo de mitigar o risco, já que o apetite daquele dragão não é fácil de aplacar ou substituir.
Centenas de milhares de produtores vendem o animal no padrão China e o Brasil registra recorde de venda de carnes no mercado externo. Qualquer bloqueio a esse fluxo traria um aumento interno de oferta e uma queda grotesca de preços ao produtor, que já vivencia um momento de margens desafiadores pelos altos custos de produção e preços em queda. Sem resultado, o produtor acaba liquidando a produção, fazendo com que os preços subam ainda mais ao varejo no futuro. Resta, portanto, aprender a viver com esse ambiente inóspito de maior volatilidade através da gestão de riscos. A comercialização antecipada nunca fez tanto sentido como hoje, em que os níveis de volatilidade dos preços pecuárias subiram praticamente 500% desde a década de 1990. E a tradução para este fenômeno é risco. O produtor vive em um ambiente de mais risco do que nunca.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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