A Vibra é uma empresa grande em vários sentidos. Antigamente chamada BR Distribuidora e controlada pela Petrobras (PETR4), ela agora não tem um dono definido. É o que os profissionais de mercado chamam de corporation.
Possui a maior rede de distribuição de combustíveis do Brasil, com cerca de 8 mil postos em 1.800 municípios, espalhados por todos os 27 estados brasileiros. Em suas apresentações aos acionistas, ela informa que três em cada dez litros de combustível vendidos no Brasil passam por suas bombas e que atende 30 milhões de clientes por mês.
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Manter tanta gente – consumidores, funcionários, acionistas, proprietários de postos e autoridades (o setor é pesadamente regulado pela Agência Nacional do Petróleo, a ANP) – satisfeita dá trabalho. O comando da Vibra está a cargo do engenheiro mecânico Ernesto Pousada. Graduado pela Escola de Engenharia Mauá, na Grande São Paulo, ele assumiu a presidência da Vibra em fevereiro de 2023. Tem uma experiência longa no setor industrial. Trabalho na Dow Chemical durante 15 anos, foi Chief Operations Officer da Suzano (SUZB3) e CEO da VLI Logística. Ele falou com a Forbes:
Formação
Sou engenheiro de formação e tenho 35 anos de vida executiva. Sempre fui ambicioso por crescer. Gostava de desafios, sempre gostei. E sempre tive a consciência que só cresceria profissionalmente se aprendesse e entendesse como funcionava a dinâmica dos negócios em que eu atuava.
O interessante é quando comecei, lá atrás, eu não tinha essa ideia de ser CEO de uma empresa. Esse caminho veio se sedimentando naturalmente há cerca de oito anos, quando eu comecei a ver que existia essa possibilidade para mim.
Após construir uma carreira na Dow eu mudei de empresa e de setor. Fui trabalhar na Suzano. Era algo totalmente diferente. Ambas são companhias globais. Mas a Dow é uma corporation americana, como a Vibra é uma corporation brasileira. A Suzano também é uma companhia aberta, mas possui um acionista de referência [a família Feffer] que fundou a empresa e mantém o controle. A cultura é bastante diferente.
Ouvir as bases
A Vibra é uma empresa de varejo de âmbito nacional. São milhares de postos. Muitos entrepostos e depósitos, que servem a milhões de clientes todos os dias. Nós estamos na Faria Lima e nos rincões. Há uma grande distância entre o dia a dia da presidência e o que ocorre na base. Por isso eu gosto de visitar nossas operações. Já rodei o Brasil para ouvir nossas bases.
Além dos consumidores de varejo, 80 das 100 maiores empresas do Brasil são nossas clientes. Por isso eu converso de maneira sistemática com quem está na linha de frente. E quando eu faço visitas eu não fico em uma sala com ar condicionado tomando água gelada. Eu vou falar com quem está na ativa. Pergunto como estão os negócios, quais os problemas e oportunidades, o que podemos fazer para melhorar o atendimento.
Foco nos resultados
Fala-se muito atualmente em perenizar as empresas. Qualquer empresa tem de dar resultados. Isso independe do tamanho, do ramo de atuação e da estrutura de controle societário. O foco tem de ser na entrega de resultado no curto, no médio e no longo prazo.
Os resultados vêm de pessoas ambiciosas que elevam a barra, que têm ambições maiores de entrega de resultado. O desafio para os líderes e para o CEO é como colocar isso em prática dentro de um modelo de gestão que otimize os esforços e perenize o resultado. Porque procuramos obter resultados por meio de pessoas.
Montagem de times
Saber montar times é essencial. Eu sempre procuro ter times fortes e tecnicamente capazes. Isso é padrão para qualquer organização. Mas eu busco, além disso, montar times onde haja diversidade de gênero e de pensamento. E é preciso permitir essa diversidade. É preciso criar um ambiente saudável em que as pessoas possam sair de casa e vir ao trabalho e permaneçam as mesmas.
Ao montar um time, em geral há vários candidatos que parecem ser indicados para uma vaga. Como eu escolho? Se houver um empate nos dois primeiros itens – o aspecto técnico e a cultura empresarial – , o candidato ou candidata escolhido é quem complemente melhor as características da equipe.
Se o time é predominantemente analítico, preciso de alguém rompedor, mais agressivo. Fazer boas análises é necessário, mas chega uma hora em que é preciso parar de analisar e tomar uma decisão.
Aprender com os erros
Erros acontecem. As pessoas erram, eu já errei algumas vezes. Errar nunca é bom. Deixa você vulnerável à avaliação dos seus chefes, dos seus pares e dos seus subordinados. Quem tem a coragem de mostrar essa vulnerabilidade se torna melhor, pois fica mais seguro de si mesmo.
Eu vejo isso como um investimento da companhia na formação daquele executivo. Permite corrigir a rota e indicar para a corporação um caminho que não deve ser seguido. O que não pode acontecer é esconder o erro para debaixo do tapete e encobrir o que aconteceu. Nesse caso a companhia terá jogado dinheiro dos acionistas fora.
Demiti e recontratei
No início de 2024 fizemos um evento de líderes com 230 pessoas de todas as áreas. Discutimos diversos assuntos: estratégias, resultados. Coincidiu com meu primeiro ano na presidência da Vibra. E eu achei importante compartilhar os erros que eu havia cometido no primeiro ano, as lições que eu havia aprendido e como me tornei um profissional melhor.
Anos atrás eu ainda não era CEO, mas era diretor de uma empresa. Assumi uma operação nova com o objetivo de fazer mudanças. Nesse processo de transformação eu acabei dispensando algumas pessoas que conheciam a operação a fundo. Claro, a empresa começou a ter problemas operacionais e o resultado piorou.
Sair da zona de conforto
O ser humano tem a tendência de buscar uma zona de conforto e permanecer nela. Isso vale para mim também. Não é natural se impor desafios, mas isso é necessário para o progresso, tanto individual quanto da empresa. Quem está na zona de conforto não cresce. Por isso todos os dias eu procuro pensar “hoje eu vou sair da minha zona de conforto” e procurar fazer algo diferente, desafiador, que melhore algum aspecto pessoal e profissional.
Minha atividade fora do trabalho é correr. Corro há 20 anos, sou maratonista. E isso me ajuda muito no meu trabalho. Corridas de longa distância não exigem apenas uma boa forma física. É necessário ter disciplina, ser resiliente e planejar. Na maioria das vezes ocorre algo inesperado. É muito parecido com a administração de uma companhia.