Esse é o montante que os produtores acreditam que poderiam alcançar, caso as retenções fossem eliminadas, uma medida que sem dúvida melhoraria as perspectivas do setor e impulsionaria as exportações.
Entretanto, há um outro compromisso que o governo assumiu antes mesmo de assumir o poder. “As retenções são contrárias à produção”, destacou o presidente Javier Milei, deixando claro que seu objetivo era eliminar esse imposto. Mas isso nunca se concretizou, e agora a questão se transformou em uma discussão cíclica.
O esquema vigente é o do “dólar blend”, que permite aos produtores de grãos receberem 20% do valor exportado à taxa do dólar CCL (contado com liquidação) e 80% à taxa oficial. O setor agropecuário reivindica que 100% do valor de suas vendas para o mercado externo seja superior ao dólar oficial; sem isso, os produtores continuarão estocando boa parte da produção, à espera de melhores condições.
“Assim não dá para continuar; a urgência é agora”, afirmou Carlos Castagnani, presidente da Confederação Rural Argentina (CRA), ao destacar a necessidade do setor. Em consonância, a Mesa de Enlace aguarda uma reunião com o ministro da Economia, Luis Caputo, para recolocar o tema em pauta. “Para nós, o ideal seria a eliminação das retenções; para isso, a equipe técnica da Mesa de Enlace está preparada para trabalhar no intercâmbio de ideias e buscar soluções viáveis”, apontou Castagnani.
Andrea Sarnari, presidente da Federação Agrária Argentina (FAA), também comentou sobre os impactos do imposto sobre exportações: “É um imposto ruim, e as entidades vêm dizendo isso há muitos anos. Queremos mostrar ao ministro Caputo quais são as nossas urgências e ouvir do governo o que pode ser feito, quais são os limites, e garantir que os produtores possam operar com rentabilidade na próxima safra”, destacou.
Sem Novidades sobre Mudanças
Para atingir esses números, a contribuição das retenções do setor agropecuário foi fundamental e deverá ser ainda mais em 2025. Estima-se que o setor contribuirá com cerca de US$ 11 bilhões (R$ 65 bilhões) em impostos, o que representa um aumento de 100% em relação a 2024.
Se o governo decidir reduzir ou eliminar as retenções, precisará encontrar outra fonte de recursos. E hoje, o objetivo de déficit zero é prioritário. As previsões de exportação são favoráveis, mas não necessariamente otimistas. No ano passado, a receita com exportações totalizou US$ 30,2 bilhões (R$ 178,1 bilhões), um aumento de 30% em relação a 2023, um ano fortemente impactado pela seca.
Em comparação com uma safra sem essas adversidades, como a de 2022/2023, que contou com preços internacionais recordes, houve uma queda de 27%.
Para ilustrar, em algumas regiões da província de Buenos Aires, as chuvas de dezembro totalizaram apenas 30 milímetros, muito abaixo da média histórica de 110 milímetros. Um efeito semelhante já é observado na soja, principal cultura em termos de volume exportado, onde surgiram alertas sobre a produtividade esperada.
A Bolsa de Cereais de Buenos Aires advertiu, em um estudo, que as condições climáticas adversas já comprometeram um em cada cinco hectares de soja na região núcleo do Pampa e no oeste de Buenos Aires, que se encontram em condições ruins ou regulares. Para essa cultura, o momento atual é crítico no ciclo produtivo, exigindo chuvas urgentes para garantir o potencial produtivo esperado.
“Em nível nacional, a proporção de áreas com condições hídricas adequadas ou ótimas caiu 13 pontos na última semana, em função das altas temperaturas e da falta de precipitações no centro e leste da área agrícola”, diz o relatório da Bolsa de Cereais.