O Grupo Los Grobo, uma das maiores empresas do agronegócio na Argentina, com sede em Carlos Casares, na província de Buenos Aires, tenta encontrar uma saída para o momento complexo que enfrenta.
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A situação da companhia — segundo os caminhos que estão sendo analisados internamente — será resolvida de duas formas, e ambas terminarão do mesmo modo. Se tudo ocorrer conforme o planejado, novos acionistas entrarão e as empresas passarão a operar separadamente.
O primeiro passo é fazer as empresas voltarem a girar a engrenagem. E para isso, há apenas uma solução: recuperar a confiança dos acionistas, que deverá se traduzir na assinatura de acordos comerciais com fornecedores que tenham disposição e interesse em ajudar a empresa a se reerguer.
Superada essa fase, esses “parceiros” deverão fornecer insumos — matérias-primas, no caso da Agrofinia, e sementes e comercialização, entre outros, no caso da Los Grobo — para que toda a operação possa ser retomada.
De acordo com o plano da companhia, com as operações retomadas, será a hora de iniciar a segunda etapa: a entrada de novos acionistas, e muito possivelmente alguns deles serão os mesmos que terão ajudado por meio dos acordos comerciais.
Segundo apuração da Forbes Argentina, os executivos do Grupo Los Grobo já comunicaram esse plano aos fornecedores atuais e afirmam que, com base nas respostas recebidas, estão otimistas quanto à possibilidade de um acordo no futuro.
No âmbito financeiro e jurídico, as dívidas seguirão o processo de recuperação judicial. A depender do caso, alguns interessados que participarem do processo poderão optar por capitalizar as dívidas.
A análise que a empresa faz sobre sua situação é um dos pilares sobre os quais as expectativas se sustentam, indo além dos aspectos estritamente financeiros.
A companhia acredita que, para potenciais novos acionistas, o investimento pode representar uma boa oportunidade de crescimento, especialmente pelo nível de ativos que possui. Entre eles, destacam-se a planta de processamento da Agrofinia em Zárate, cidade localizada na província de Buenos Aires, seu laboratório modelo, além das 18 unidades de armazenamento, 27 depósitos e 36 filiais da Los Grobo.
A crise estourou
Nos bastidores da empresa, a percepção é de que a crise financeira atual surgiu de um momento para outro. “Tudo explodiu de repente”, afirmam. A referência é ao fato de que os acionistas — Victoria Capital Partners (VCP), o grupo de investimentos de private equity voltado para a América do Sul, controla 90% do capital da empresa, enquanto os irmãos Gustavo e Matilde Grobocopatel detêm os 10% restantes — esperavam uma injeção de capital entre março e abril, algo que nunca aconteceu.
Esse foi se acumulando ao longo dos últimos anos, mas a prática — como em muitas outras empresas do agro — era rolar a dívida constantemente, sempre com a expectativa de uma futura capitalização. A situação se agravou ainda mais quando o prazo esperado chegou e nada aconteceu.
E, em meio a essa gestão financeira, Los Grobo entende que o que aconteceu com outra empresa do setor, a Surcos — empresa argentina de capital nacional que desenvolve, produz e comercializa insumos para o setor agrícola — foi um fator decisivo. Em dezembro de 2024, a companhia entrou em recuperação judicial. Embora sua dívida bancária não fosse tão alta, a empresa teve 61 cheques rejeitados, somando mais de 600 milhões de pesos (R$ 3,4 bilhões).
Para Los Grobo, esse foi o estopim para o setor financeiro perder a confiança no agronegócio, deixando-o sem acesso a crédito. “Quando a Surcos deu calote, ficou muito difícil renovar os títulos de crédito. Foi uma tempestade perfeita. O negócio ia bem”, dizem fontes da empresa.
Os números
Dos US$ 800 milhões (R$ 4,5 bilhões) de faturamento da Los Grobo, cerca de US$ 130 milhões (R$ 741 milhões) correspondiam à Agrofinia, enquanto outros US$ 130 milhões (R$ 741 milhões) vinham da distribuição de insumos da Los Grobo Agropecuaria.
Outros US$ 20 milhões (R$ 114 milhões) eram gerados pela produção de grãos. O restante — cerca de US$ 520 milhões (R$ 2,9 bilhões) — vinha da operação de comercialização de grãos.
No que se refere especificamente à dívida, dos pouco mais de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão), a empresa deve cerca de US$ 50 milhões (R$ 285 milhões) a um grupo de sete bancos liderados pelo Banco Galicia, um dos principais bancos privados da Argentina, parte do Grupo Financiero Galicia, além de um valor equivalente referente a pré-financiamento de exportações.