8 recomendações para desenvolver uma carreira em ESG
Mateus Omena
Apresentado por
12 de agosto de 2021
howtogoto/Getty Images
Profissionais de ESG podem ajudar as empresas a ter protagonismo em seus setores e a impulsionar transformações positivas no mundo ao redor
Já está claro para grande parte dos negócios que quem não aderir às práticas de responsabilidade ambiental e social, levando em conta os impactos de suas ações na natureza e suas contribuições às comunidades, vai ficar para trás. Por isso, o conceito ESG (ambiental, social e governança, em português) está ganhando espaço no mundo corporativo e influenciando estratégias que trazem diferenciais competitivos às organizações e possam ajudar a atender as demandas urgentes. No entanto, para alcançar suas metas, as empresas passaram a buscar profissionais especializados no tema, algo que ainda não é tão fácil de encontrar.
De acordo com um levantamento de 2020 do grupo global de capacitação profissional CFA Institute, a demanda por profissionais com expertise em ESG é alta, mas a oferta ainda é baixa. No estudo, a instituição analisou 1 milhão de contas na plataforma LinkedIn e concluiu que menos de 1% dos perfis tinham qualificação na área. Mas, para Nelmara Arbex, sócia-líder de ESG da KPMG, a intensa procura por especialistas no tema existe desde a Conferência Eco 92, no Rio de Janeiro, quando empresas e gestores começaram a entender a importância da sustentabilidade nos negócios.
“Naquela ocasião, as grandes companhias foram chamadas para discutir a agenda ESG e como colocá-la em prática. A partir dos anos 2000, surgiu um impulso multidirecional, porque muitas empresas, ONGs e institutos perceberam que poderiam ter bons resultados em suas operações ao assumir esse compromisso com o meio ambiente e a sociedade. No entanto, eles começaram, também, a se deparar com a escassez de profissionais e cursos ligados à área”, conta.
A especialista aponta que, atualmente, as pessoas que querem ingressar no mundo do ESG têm mais recursos para se informar e saber como tirar esses princípios do papel. As ofertas de cursos, diretrizes e orientações de entidades do setor cresceram fortemente em razão do acesso à internet. Contudo, o Brasil ainda encontra-se atrasado na formação de profissionais em ESG. “Não há muitas opções de formação no mercado brasileiro. E essa carência ocorre também nos Estados Unidos e em vários países europeus. Mesmo assim, nesses locais, existem programas de estudos voltados à elaboração de estratégias e previsão de impactos para projetos de governança, meio ambiente e questões sociais. São bastante robustos, inovadores e fogem das teorias. E percebo que não temos isso no Brasil ainda. Então, temos um grande lição de casa a cumprir, para que essas iniciativas alcancem as lideranças corporativas e os cidadãos”, explica Nelmara.
A importância de profissionais especializados
Segundo Marlene Oliveira, conselheira do Gera Social, negocio social carioca voltado à capacitação de pessoas e organizações em ações sustentáveis, os colaboradores com expertise em ESG podem ajudar as empresas onde trabalham a se tornarem protagonistas nos mercados em que atuam à medida que suas operações impulsionam transformações positivas no mundo ao seu redor. “Trata-se de um conjunto de ações de responsabilidade ambiental, social e ética que pode ser executado pelas empresas. O papel de um profissional ESG é garantir que essas iniciativas sejam eficientes”, pontua. “E isso se torna extremamente relevante num momento em que a sociedade está cobrando posicionamentos e atitudes das companhias frente aos problemas que enfrentamos. As pessoas estão cultivando novos valores e os negócios precisam acompanhar isso, pois suas finalidades não podem se resumir apenas à geração de lucro”, completa.
Outra motivação para a força desse movimento é a pressão do mercado, pois muitos investidores ao redor do mundo estão exigindo melhores práticas das empresas, sob pena de não direcionarem seus recursos a elas. De acordo com um relatório da PwC, os critérios ambientais, sociais e de governança tendem a remodelar as finanças, fundos passivos e gestões. O estudo indica que, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os princípios ESG, o equivalente a € 7,6 trilhões de (US$ 8,9 trilhões). Esse índice é muito maior do que os 15,1% registrados no fim do ano passado. Além disso, 77% dos investidores institucionais pesquisados pela PwC disseram que planejam parar de comprar produtos que não foram confeccionados de modo sustentável nos próximos dois anos.
“A pesquisa é uma prova de que o mercado financeiro percebe que a melhor maneira para um negócio crescer expressivamente é seguir diretrizes sustentáveis. Com as catástrofes climáticas do momento e os problemas sociais, os novos empreendedores devem ter em mente que a gestão social, ambiental e de governança é boa para o mercado e, especialmente, para a sociedade. As empresas que não têm esse compromisso precisam correr contra o tempo para adotar boas práticas, senão perderão relevância, público e credibilidade”, alerta Marlene.
Do outro lado, Nelmara Arbex reforça que as empresas engajadas na agenda ESG tendem a desenvolver estratégias mais eficientes, conquistar melhores resultados e ser mais valorizadas pela ótica do mercado. “Existem empresas que selecionam atualmente seus fornecedores e parceiros por meio de critérios ambientais e éticos. Aquelas que não participam dessa agenda tendem a ficar fora de mercados importantes e estáveis”, afirma. “Tudo indica que a sustentabilidade, hoje, está numa posição de protagonismo em grandes decisões corporativas e políticas, porque ela está ligada à tecnologia e outras inovações que, além de reduzirem emissões de CO2, por exemplo, estão se mostrando muito lucrativas. Então, os negócios que operam sob esses conceitos tornam-se mais competitivos e têm mais acesso a investimentos, créditos e parceiros”, conclui a especialista.
Levando em conta esse cenário, Nelmara aponta que, nas empresas, os profissionais de ESG devem fazer parte de um hub que fiscaliza os diversos setores e se eles estão funcionando com ética, transparência e eficiência. “Esses profissionais vão agir como guardiões da coerência da companhia, principalmente para alertar seus líderes de caminhos perigosos. Qualquer apoio a uma causa, seja para redução de emissões de gases poluentes ou combate às discriminações, deve fazer parte da cultura da organização e de suas decisões cotidianas. E quem contribui para isso é um profissional de ESG.”
Já a conselheira do Gera Social afirma que as empresas são capazes de influenciar culturas, pontos de vista e políticas públicas. E, por isso, também são vistas como elementos de transformação. “Essa percepção foi intensificada pela pandemia à medida que muitas empresas doaram EPIs e recursos financeiros para mitigar os danos. Então, num cenário como esse, um profissional de ESG pode orientar os gestores de uma empresa a adaptar seus negócios às novas realidades e colocar em prática iniciativas que ajudem as pessoas, ao mesmo tempo em que o negócio mantém sua rentabilidade e cria novos valores”, explica.
Outra vantagem em ter um colaborador com essa especialização, segundo Marlene Oliveira, é que ele pode ajudar a transformar a empresa por dentro e por fora. “As medidas adotadas pelas empresas, elaboradas pelos profissionais de ESG, não apenas deixam seus colaboradores mais orgulhosos em fazer parte da organização, como também os incentivam a assumir responsabilidades ambientais e sociais, a fazer parte de voluntariados e a repensar suas ações cotidianas. É uma mudança na comunidade corporativa que passa para as famílias e outras pessoas do entorno. Mesmo que ela não seja radical, mas aos poucos alcança o coletivo”, finaliza.
Visão futurística
Todos os dias, os profissionais especializados em ESG colaboram para que diversas empresas alinhem seus negócios aos esforços de redução de danos ambientais e promoção da diversidade no ambiente de trabalho, como é o caso da produtora de vinhos Veroni. A companhia passou a produzir uma linha da bebida cujo processo de clarificação não envolve produtos de origem animal. E passou a cumprir uma série de responsabilidades econômicas, ambientais e sociais para tornar toda a cadeia produtiva mais justa, o que ajudou a sua vinícola no Chile a conquistar a certificação da Fairtrade International por implementar melhores condições de trabalho aos colaboradores.
Atualmente, 70% dos funcionários da vinícola são mulheres, dos cargos de produção ao C-Level, como CFO, CMO e COO. “Além dessas conquistas, o apoio de profissionais especializados em ESG ajudou os colaboradores a terem uma mentalidade disruptiva, fugindo de abordagens convencionais, e senso crítico a respeito de questões socioambientais, acompanhando questões relevantes”, afirma Leonardo Mencarini, cofundador e CEO da empresa.
No caso da Start Química, a presença de profissionais especializados impulsionou iniciativas de atenuação dos impactos ambientais das suas operações. Todos os produtos de limpeza confeccionados foram reformulados para levar menos água em suas composições. Em 2020, houve um crescimento de 25% nessa categoria de produto, e a meta para esse ano é crescer 35%.
“Percebemos que esses profissionais trazem uma visão futurística das principais tendências e, diante disso, estamos questionando como trabalhamos e implementando métodos para redução de resíduos. Com a ajuda deles, conseguimos implementar, ainda, projetos de logística reversa das embalagens, fazendo com que 60% delas sejam de materiais reciclados”, conta Marcos Pergher, vice-presidente da empresa. “E, com esses princípios, passamos a dar atenção ao nosso consumo de energia e a medir os resultados de longo prazo. Por isso, adquirimos uma planta de energia solar fotovoltaica para que nossas operações funcionem com fontes limpas e renováveis.”
Se você se interessou pelo tema e quer construir – ou pivotar – sua carreira para buscar uma posição como especialista em ESG, veja, na galeria de fotos a seguir, as dicas fornecidas pelos profissionais consultados pela Forbes: