Caminho da agenda ESG no Brasil é a agenda 2030 das Nações Unidas

11 de janeiro de 2022
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Gigantes da área financeira veem investimentos verdes e sociais como essenciais para reduzir riscos do planeta e para obter retornos sustentáveis

Sabemos que catalisar altos volumes de dinheiro privado para investimentos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) continua sendo uma via considerável para alcançar a escala necessária nos países em desenvolvimento.

Na verdade, o próprio setor privado está virando a esquina, em propósito, se ainda não em ações. As gigantes globais da gestão de patrimônio, capital privado e investimento institucional veem os investimentos verdes e sociais como essenciais, tanto para reduzir os riscos do planeta quanto para obter retornos sustentáveis. O desafio é direcionar mais para os mercados emergentes e países pobres.

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Os investimentos ESG e de impacto desempenham um papel vital no apoio aos esforços dos países para fazer avançar os ODS por meio de financiamento direto e fomento para projetos e programas, além de ajudar na mobilização de recursos públicos e privados para investimentos alinhados aos ODS.

A adoção das boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, do inglês “environment, social and governance”) é um imperativo sem volta para avaliar as empresas e seus investimentos, tais práticas parecem caminhar de modo acelerado, sendo incorporadas na pauta das investidoras do novo capital ESG e de impacto. O caminho da agenda ESG tem como meta a agenda 2030 das Nações Unidas.

A sistematização dos critérios ESG nas decisões dos investidores pode ser entendida como uma ampliação do foco tradicional, ou seja, os acionistas, para todas as partes interessadas. Com isso, a tomada de decisão do investimento passa a levar em consideração os benefícios, ou como queiram, o impacto deste em todas as partes interessadas: funcionários, consumidores, fornecedores e comunidade – e não somente o lucro potencial para o negócio e seus donos. Não é por menos, que o ESG é compreendido como investimento responsável e ético.

A nova modelagem não é simples, já que cada um dos componentes ESG é composto por uma diversidade de fatores. Nas boas práticas ambientais se verificam, entre outros, elementos como emissão de carbono, consumo de água, geração de resíduos e desflorestamento. No social, condições de trabalho, políticas de inclusão e diversidade, segurança e impactos sobre a comunidade.

Na governança, questões como programas de compliance, lobby político, diversidade dos conselhos e colegiados, e transparência.

Além do compliance, um ponto merece atenção. É possível destacar o resultado da reputação ou da satisfação dos empregados. Há ainda evidências favoráveis de que critérios ESG estão associados à maior lealdade por parte dos consumidores e à mitigação de risco sistêmico, o que se reflete em menor custo de capital das empresas com melhores práticas (Amel-Zadeh, 2018).

Mesmo o mundo em mudança acelerada, os investidores privados não emprestam capital suficiente, especialmente onde é mais necessário para a redução da pobreza e da desigualdade, ou no combate aos efeitos das mudanças climáticas.

Sobre isso, veja o que diz o Preto Zezé, em ESG da vida real: “…o maior desafio, sem dúvida, é o do “S”, do social, diante das desigualdades que temos no Brasil. Então, nós estamos trabalhando junto às empresas para conectar mudanças de valores com ações práticas. Se não, mudam-se os valores, mas erra-se na implementação. As empresas precisam de um movimento para dentro, na questão de mudança de valores e de estruturas corporativas; depois, de fazerem investimentos em suas cadeias de fornecedores, para que incorporem os mesmos valores; e, externamente, de ações de empoderamento e fortalecimento na sociedade, que dialoguem com esses valores. Quando esse tripé está pronto, a empresa consegue fazer com que sua marca, produto ou serviço tenha mais aderência às práticas ESG.”

Grande parte do desenvolvimento do setor privado envolve a busca por produtos, serviços e modelos de negócios que funcionem em ambientes de baixa renda. Provavelmente, os maiores sucessos no desenvolvimento do setor privado foram a criação e o crescimento de novos modelos de negócios e produtos, como serviços financeiros móveis, microfinanças comerciais e energia renovável doméstica e fora da rede de distribuição.

Porém, há desafios. É lugar comum assumir os avanços na agenda ESG, mas, percebam que, aproximadamente, um quarto dos investidores privados incluem com alguma frequência informações não financeiras em suas decisões de investimento, e apenas 10% recebe treinamento formal em como incorporar práticas ESG em suas análises (Fried, Busch e Bassen, 2015. In: ESG and financial performance: Aggregated evidence from more than 2000 empirical studies).

Tais resultados podem levar a uma percepção, vinda de um viés de determinados investidores, de que o ESG teria menor rentabilidade. Assim, é lúcido entender por que os investidores socialmente e ambientalmente responsáveis estão dispostos a ter menor retorno em fundos sustentáveis.

Uma das questões que afetam a rentabilidade de investimentos ESG é a habilidade de certos investidores de excluir negócios que reduzem a base de diversificação do portfólio e eliminam ações potencialmente rentáveis. Outro ponto importante, é incluir critérios não financeiros potencialmente geradores de conflito de interesses, no caso de investidores que utilizam o investimento ESG como mero pretexto para perseguir suas agendas pessoais.

Por tudo, reitero que o caminho da agenda ESG tem como meta a agenda 2030 dos ODS.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

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