Os turistas vão à Itália para conhecer suas cidades artísticas e resorts deslumbrantes. Mas um número crescente de visitantes com ascendência italiana (60 a 80 milhões de pessoas ao redor do mundo podem reivindicar essa origem) está olhando além do itinerário tradicional de férias para planejar viagens que os ajudem a se reconectar com suas “raízes”.
No Brasil, cerca de 30 milhões de brasileiros têm ascendência da Itália, de acordo com dados da Embaixada. Durante os anos de maior emigração, muitos italianos também se estabeleceram nos EUA, Argentina, Canadá, Austrália e em diversos países europeus.
Leia também
Para ajudar aqueles com linhagem italiana a se conectarem com a história de suas famílias, o Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália desenvolveu uma iniciativa de turismo baseada em raízes chamada Italea, com uma plataforma online (disponível em quatro idiomas) lançada no início deste ano. Foram mais de 75 mil cadastros nos seis primeiros meses.
Segundo Giovanni Maria De Vita, conselheiro do Ministério e chefe do projeto Italea/Turismo de Raízes, o objetivo é apoiar “cada etapa da jornada de redescoberta — desde a pesquisa histórico-familiar até a organização de experiências de viagem personalizadas na Itália”. O Italea tem ramificações nas 20 regiões da Itália (além da plataforma nacional), explica ele, com o apoio de especialistas em genealogia, designers de viagens e guias turísticos para ajudar os “turistas de raízes” (em busca de suas a se conectarem com sua herança.
Relatórios governamentais estimaram que o “turismo de raízes” representava de 10 a 15% do turismo total na Itália antes da pandemia. Embora os dados de 2023 ainda não tenham sido confirmados, De Vita afirma que as primeiras estimativas sugerem um aumento significativo, de até 11% em comparação com 2019.
A Itália designou 2024 como o “Ano Mundial do Turismo de Raízes”, que, além do lançamento do site, foi marcado por uma série de eventos culturais em mais de 800 pequenas cidades em todo o país. A plataforma Italea também foi apresentada em São Paulo, bem como em várias cidades nos EUA, Toronto, Montevidéu e Melbourne.
Em busca do passado
Em uma era de turismo em massa, onde experiências únicas estão no topo das listas de desejos dos viajantes mais exigentes, uma viagem de raízes pode ser a forma definitiva de viagem personalizada. “As pessoas estão buscando uma parte de si mesmas através de um lugar”, diz Antonella Riccardi, chefe de turismo da Italea Ligúria. “Ao longo do tempo, perdemos muitos vínculos, mas agora esperamos criar novas pontes com o passado.”
O ponto de partida, claro, é recriar uma árvore genealógica. Registros civis estão prontamente disponíveis desde o século 19, mas alguns documentos municipais e muitos registros de igrejas remontam a séculos anteriores, até o século 16, graças ao Concílio de Trento (1545-1563), quando os líderes da Igreja Católica ordenaram que as paróquias registrassem todos os nascimentos, casamentos e óbitos.
Escalar essa árvore genealógica pode levar algum tempo, embora o Italea diga que a pesquisa inicial pode variar de alguns dias a semanas, dependendo da complexidade da linhagem e de quão distante alguém deseja ir. A plataforma fornece estimativas de tempo e custo para projetos de ancestralidade solicitados após o preenchimento de um formulário no site.
O Italea também oferece sugestões de como começar a busca (muitos registros já estão disponíveis online). Entre os lugares para conferir estão o FamilySearch.org, um site genealógico gratuito com recursos extensivos, e o “Portale Antenati” (o Portal dos Antepassados), com uma vasta coleção de registros civis italianos. Mas contratar um pesquisador na região que conheça bem os arquivos locais pode economizar muito tempo e esforço, não apenas para encontrar os registros corretos, mas também para decifrá-los — os documentos mais antigos costumavam ser escritos em latim, com uma bela caligrafia medieval.
Planejando uma jornada ancestral
Uma vez que se tenha informações sobre onde seus ancestrais nasceram, se casaram e morreram, é possível solicitar informações ao Italea sobre a organização de uma viagem para os lugares mais significativos. Será solicitado que você indique áreas de interesse específicas para a viagem, como pesquisas genealógicas adicionais, encontros potenciais com parentes distantes e preferências por viagens mais amplas para conhecer a cultura e a história da sua região ancestral.
-
Siga o canal da Forbes e de Forbes Money no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Além dos itinerários personalizados pelas cidades natais, existem também roteiros temáticos de raízes a serem considerados. Por exemplo, aqueles cujos ancestrais embarcaram em Gênova rumo ao Novo Mundo podem se interessar por um roteiro de dois dias do Italea que destaca a cidade sob a perspectiva de seus emigrantes, com paradas no centro histórico medieval da cidade; o porto, com seus antigos cais de onde muitos navios partiram para a América do Norte e do Sul; o Museu da Emigração Italiana, MEI, com exposições interativas que narram a experiência de expatriados; e o Museu do Mar e da Navegação, para entender as condições enfrentadas pelos emigrantes ao atravessarem o Atlântico em navios a vapor e transatlânticos.
Montar um roteiro de raízes envolve mais planejamento do que outros tipos de viagem à Itália, mas o Italea acredita que o tempo investido trará muitos benefícios. O turismo ancestral pode dar destaque para áreas menos conhecidas do país, um objetivo importante em um lugar onde os destinos populares estão sofrendo com o excesso de turismo. “Nosso objetivo é promover a variedade e a singularidade de cada canto da Itália, destacando as tradições e a cultura particulares que definem cada região italiana”, diz De Vita.
Existem também as vantagens intangíveis. “Estamos tentando encontrar um lado mais humanista do turismo”, diz Antonella Riccardi. “Algo mais ligado à alma.”