Eu sei que na maioria das vezes a economia parece algo muito complicado e cheio de mistérios insondáveis para quem está começando. Isso acontece, em parte, por causa dos termos sofisticados que o mercado utiliza para algumas coisas que, na verdade, se tornam simples quando você deixa de se preocupar com a nomenclatura e foca em entender os fatos.
O que é ciclo econômico
Ciclo econômico caracteriza-se por flutuações de mercado, ou seja, períodos alternados de expansão, estagnação e contração na atividade econômica.
Vários fatores influenciam os ciclos econômicos. Os mais importantes são as políticas monetária e fiscal, a taxa de desemprego e a de produção industrial, além de fatores macroeconômicos locais ou globais. Esses ciclos são observados por meio da análise de inúmeros indicadores econômicos.
No Brasil, os mais importantes são o PIB (Produto Interno Bruto), que é o valor de todos os bens e serviços produzidos na economia em determinado período e a Taxa de Desocupação, medida continuamente na PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar), do IBGE, que mede os níveis de emprego e desemprego em todo o país.
Quando a economia está se expandindo o número de empregos cresce e os salários aumentam. Com mais dinheiro em circulação, as atividades prosperam. Por outro lado, durante períodos de recessão, há menos vendas, menos atividade econômica e, consequentemente, menos empregos.
Essas fases não se sucedem de forma abrupta e repentina. Há uma dinâmica na economia que caracteriza as mudanças de ciclos. Compreender essa dinâmica te ajuda a planejar melhor suas estratégias financeiras e agir de forma racional com seus investimentos, e não mais com base no pânico ou na euforia coletiva.
O que esperar em cada fase do ciclo econômico?
Uma expansão caracteriza o crescimento na maioria dos setores da economia, com aumento do emprego, gastos do consumidor e investimento empresarial.
À medida que um estágio expansionista se aproxima de seu pico, a inflação começa a subir. Muito dinheiro circulando aumenta a demanda e os preços. Nesse momento inicia-se uma reversão de ciclo. A alta da inflação faz os consumidores perderem poder de compra e consumirem menos, levando as empresas a desacelerar seus investimentos em produção e a reduzir os empregos.
Os reflexos desse movimento vão se fazendo presentes de forma gradativa, até que a maioria dos setores econômicos comece a enfrentar retração e a inflação comece a diminuir. Isso segue até a atividade atingir um mínimo. E então a economia inicia uma nova fase de recuperação que, conforme as políticas monetárias e fiscais vigentes, pode ou não evoluir para um novo ciclo expansionista.
Nesta fase intermediária do ciclo, o crescimento econômico volta a ser positivo e a inflação costuma ser moderada, pois o aumento nos níveis de emprego demora mais tempo para acontecer, já que é necessário que o setor produtivo recupere sua confiança na economia.
Com isso, imagino que você já entendeu que não é possível definir com precisão a duração de um ciclo econômico, pois há fatores objetivos ligados à macroeconomia e às políticas monetárias e fiscais, mas também fatores subjetivos, ligados aos sentimentos e ao grau de confiança do mercado em relação ao futuro. E aqui, me referi a um ciclo sem considerar eventos não esperados, como foi o caso da pandemia em 2020.
Um critério bastante usual entre analistas de mercado é que dois trimestres consecutivos de crescimento do PIB são o início de uma expansão, e dois trimestres sucessivos de declínio do PIB indicam o início de uma contração. Esse é um ponto de partida que pode ser confirmado quando várias métricas econômicas, como a renda real, o emprego e a produção industrial, passam a indicar um ponto de virada em um ciclo econômico.
A influência dos ciclos na bolsa de valores
Na bolsa de valores, os ciclos econômicos interferem diretamente no sentimento dos investidores e, consequentemente, no preço dos ativos. Durante períodos de expansão econômica, quando as empresas têm maiores lucros, o otimismo toma conta do mercado e os aportes em ações aumentam, elevando os preços.
Já durante períodos de recessão, o consumo diminui e as empresas tendem a apresentar resultados piores. Com isso, os investidores tornam-se mais reticentes, o que pode levar à queda no preço das ações. É comum que investidores menos experientes vendam suas ações justamente no momento de queda, por puro medo de que elas caiam mais.
Em suma, os ciclos econômicos influenciam a bolsa de valores, afetando tanto a demanda quanto os preços das ações. Contudo, é importante lembrar que os movimentos de mercado estão sujeitos às influências de inúmeros fatores, e que a volatilidade nem sempre é algo ruim, ao contrário, pode significar uma excelente oportunidade para os investidores.
As políticas governamentais também contribuem para toda essa movimentação. Em períodos de retração econômica, por exemplo, o governo tende a adotar políticas monetárias expansionistas com redução na taxa de juros para estimular a economia. Nas fases de forte expansão da atividade econômica, pode ser necessário adotar políticas contracionistas, com a elevação da taxa básica de juros (Taxa Selic), visando conter a inflação.
Sendo a Taxa Selic balizadora de todas as demais taxas da economia, a política monetária define também para os rumos da bolsa de valores. Um movimento comum é o de migração de investidores para a renda fixa, quando uma estratégia inteligente seria uma carteira equilibrada ao longo dos anos, aproveitando bons títulos e contemplando também, bons ativos em preços descontados.
Acompanhar o noticiário vai te ajudar a tomar decisões melhores
Apesar de ser um defensor convicto da formação do investidor, sei que nem todo mundo tem tempo ou interesse para fazer um curso de finanças que possibilite passar a investir com fundamentos mais aprimorados. Minha sugestão nesse caso é que pelo menos dedique alguns minutos todos os dias para ler o noticiário econômico.
Esse hábito simples irá ampliar seus horizontes e ajudar na tomada de decisão quanto aos seus investimentos, pois quando você compreende o que está acontecendo no mercado consegue definir critérios mais consistentes para cada investimento que for realizar.
Em 2022 eu escrevi, aqui na Forbes, um artigo falando sobre as oportunidades em cada ciclo de mercado e a importância de você evitar a armadilha do comportamento de manada. Recomendo a leitura.
Você não tem como mudar os movimentos da economia, isso não está sob seu controle, mas, tem a alternativa de se adequar aos movimentos e extrair o melhor de cada fase e o que vai te instrumentalizar para isso está aqui na Forbes todos os dias: informação.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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