Gerônimo Theml dormiu até os 17 anos num colchonete de costas para uma geladeira, em Botafogo (zona sul do Rio de Janeiro). Acordava às 4h da manhã com a luz do refrigerador, acionada a cada vez que a porta abria. Era o pai, taxista, que exigia que o filho cumprisse seu sonho: ser doutor – tanto fazia se em direito ou em medicina.
“Vivi a história dos meus pais até os 35 anos”, diz o advogado e palestrante de 42 anos, autor de “Produtividade para Quem Quer Tempo”, livro mais vendido do país na última semana de abril – bateu Padre Marcelo e Kéfera, entre outros. Foram 8.843 cópias sem que a publicação nem mesmo tivesse sido lançada – o evento está previsto para o dia 17 de maio. Todo esse número veio da pré-venda da editora Gente, que já encomendou segunda e terceira edições e prepara um novo livro de Theml para breve.
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Antes de liderar paradas, Theml foi professor de direito na Universidade Cândido Mota, no Rio, advogado da União, jogador de pôquer patrocinado e até salvou a vida de uma criança – estava entra ela e a bala, que acertou sua barriga, enquanto o banco que havia entrado foi assaltado. Fez até um radio para o Botafogo, o clube de futebol, e chegou a ser procurador-chefe da AGU (Advocacia Geral da União) no Espírito Santo, com salário de 22 mil reais.
Por que mudar, então? “Estava girando em círculos”, diz. “Um plano de fim de ano foi buscar um certificado na Sociedade Brasileira de Coaching para enfim mudar de profissão.” Em seu norte, estava dar palestras – e ganhar a vida com isso. A entrega de sua carta de exoneração (“não pedi licença porque não queria voltar”) foi filmada pela mulher e mesmo 20 telefonemas naquela semana não o fizeram mudar de ideia”.
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“A vida é um quebra-cabeças”, define, entre um café e um copo de água no restaurante de um hotel na zona sul de São Paulo. “Se a pessoa não tem a fotografia do quebra-cabeças, ela não sabe qual peça ela vai pegar.”
O quebra-cabeças que Theml definiu aquele instante para a vida era desafiar pessoas que, como ele, queriam mudar de vida. Definiu duas abordagens: a capacitação de coachings e a Academia de Produtividade, que deu origem ao livro. Sua empresa, a Full Ideias, faturou 5 milhões de reais em 2015. Neste ano, já bateu esse número e espera juntar 12 milhões de reais até o dezembro.
“O coaching não te dá a resposta. Você vai buscar a resposta dentro de você”, propagandeia. Theml acumula teorias. Uma delas é a da Alice (aquela, do País das Maravilhas): se você não tem um caminho, vai para onde te levam. A outra é a do Palio. “Se você não tem objetivos, o carro mais caro vai parecer um popular.”
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As teorias que elabora são práticas. Propõe exercícios, sobretudo mentais. Sua conta não vê méritos em vidas vazias (com tempo e sem resultados), em arrastadores de pedra (tem resultado, mas não tem vida) e ocupadões (que não têm resultado nem tempo). Para ele, é preciso antes de tudo equilíbrio e despreza o mérito que a sociedade distribui para o chamado “esforçado”. “A sociedade admira o cara com olheira e gravata frouxa. É o modelo do arrastador de pedra. O grande perigo é que ele tem resultado. Mas ele só vai perceber o que perdeu quando questionar o quanto contribuiu para a família, a atenção que não deu ao filho ou à mãe quando precisava. Você ter a fotografia do quebra-cabeça para aprender a ser produtivo. O primeiro passo é ter clareza da vida como um todo, ou nada vai funcionar.”
A resposta está apenas no indivíduo, então? Na verdade, não é bem assim. Na visão de Theml, companhias ainda estão 30 anos atrasadas, pensando em problemas da era digital com a cabeça dos anos analógicos. Apresenta a experiência com um time de suporte que comanda. Diminuiu pela metade a carga horária. Como resultado, viu a produção continuar a mesma, com o nível de satisfação do cliente melhorando.
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“Falta coragem para as empresas abrirem mão de um modelo que funcionou por muito tempo. E, antes de tudo, entender que, com a mudança, vai piorar antes de melhorar. Tudo funciona assim, mas é preciso experimentar. É preciso tentar um modo com mais respeito ao outro, ao ser humano com quem trabalha.”
Gerômino diz ser megalomaníaco. Quer vender um milhão de livros – não deste, “Produtividade para Quem Quer Tempo”, mas dele e dos outros que virão. “Meu segundo livro está pronto na minha cabeça”, ri. É o que define como ciclo da realidade. “Primeiro você tem que ser, para depois fazer e depois ter.” Mais ou menos como fez esse Forrest Gump dos negócios: ele é, fez e tem. Parece simples, não?