Quem nunca sonhou em trabalhar de casa? Ou exercer sua atividade profissional do outro lado do mundo? Viajar pelo globo e fazer dinheiro ao mesmo tempo é a fantasia de muita gente – especialmente dos millennials, que descobriram que o segredo da felicidade é ter experiências em vez de acumular bens materiais e empregos flexíveis no lugar de enormes salários.
Com base neste cenário, há muitos programas que buscam conciliar as duas coisas – viagens e trabalho remoto – e uma onda massiva de empresas que permitem que grupos de nômades digitais realizem este sonho. Um dos exemplos de maior sucesso é o Terminal 3, fundada por uma mulher com muitos anos de experiência em viagens: Mevish Aslam, uma advogada de 31 anos que decidiu inovar. A startup reúne um grupo de empreendedores e freelancers que exploram uma cidade diferente por mês. Ficam sob sua responsabilidade todos os detalhes: desde acomodações até wifi, passando pelos espaços de coworking. “No Terminal 3, nós acreditamos que viajar é o melhor investimento no seu crescimento”, afirma Mevish.
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Ela conta que a ideia do Terminal 3 surgiu a partir de sua estadia e experiência no Brasil, em 2015, por meio de um projeto chamado EU Brazil Connect, que, com duração de seis meses e programas desenvolvidos especialmente para trabalhadores remotos, liga empreendedores da Europa a incubadoras do país. “Logo nas primeiras semanas no Brasil, nosso grupo tornou-se uma incrível comunidade de pessoas com mentalidade semelhante, como uma família. Quando me dei conta, estava organizando jantares, eventos de networking, programas culturais, viagens de fim de semana para o Rio de Janeiro e muito mais. Tudo isso acabou levando ao nascimento da Terminal 3, de forma natural, alguns meses depois em Bruxelas”, lembra.
Mevish explica que os programas do Terminal 3 são desenhados por trabalhadores remotos para trabalhadores remotos, com duração de seis meses (embora haja a flexibilidade de aderir mês a mês). Os participantes experimentam morar em uma cidade por mês, são inseridos na cultura local e vivem como se fossem nativos – e não como turistas. Para viabilizar o processo, a startup contrata gerentes locais em cada uma das cidades. E seu trabalho se divide em duas partes: primeiro, se certificar de que tanto a acomodação quanto o espaço de coworking tenham um ótimo wifi. Depois, auxiliar o grupo a ter experiências locais autênticas. Além de uma excursão por mês, há um retorno para a comunidade.
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“Em Marrocos, por exemplo, nós fomos mentores em empreendedorismo social. Em Berlim, atuamos como voluntários em um campo de refugiados. Enfim, todos os integrantes do Terminal 3 têm um objetivo profissional ou pessoal. E isso pode ser qualquer coisa, desde desenvolver uma rotina matinal ou um plano de exercícios físicos, até lançar um negócio. Geralmente, viajar é algo que pode deixar os planos de uma pessoa de lado, mas não no Terminal 3. Um mês antes da data de início do programa, uma sessão individual é agendada com um coach para desenvolver um planejamento que ajude a alcançar o objetivo. A partir disso, o coach vai fazer sessões mensais com cada um durante o programa.”
Atualmente, cerca de 70% das consultas para o programa são de millennials, enquanto 30% são da geração X. Apesar de não haver um critério de qualificação, a prioridade é para pessoas em busca de crescimento, que querem viajar para fazer a diferença e têm um projeto (ou um emprego estável para financiar esse projeto), além de uma mente aberta para viajar pelo mundo e sair da sua zona de conforto.
O último grupo – batizado de Os Alquimistas – começou em julho de 2015 em Rabat, no Marrocos. Desde então, passou por Berlim, Budapeste, Seul, Chiang Mai (a segunda maior cidade da Tailândia) e Bali. O próximo, chamado de Rumi, está previsto para maio de 2017 e começará na Tailândia. De lá, seguirá para Malásia, Japão, Espanha, Croácia e República Theca.
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Quando perguntada sobre as desvantagens do trabalho remoto, Mevish, ela própria uma nômade digital que passou os últimos oito anos antes da criação do Terminal 3 viajando por 30 países nos cinco continentes, diz que existem alguns pontos negativos, como a falta de interação humana, que pode facilmente prejudicar a produtividade. A solidão também é um obstáculo, assim como o fato de trabalho e vida pessoal se misturarem quando o mesmo ambiente físico é usado para as duas funções. “O Terminal 3 resolve todos esses problemas. O participante do programa está inserido em um grupo de trabalhadores remotos, o que faz com que raramente se sinta solitário. Tem sempre alguém com quem jantar ou um companheiro para uma aula de yoga. Também há uma clara distinção entre o espaço pessoal e o espaço de trabalho”, explica.
Já sobre as vantagens, Mevish disse que as lições de vida aprendidas ao longo do caminho impulsionam o crescimento pessoal e profissional. “Pedir sua comida usando a linguagem de sinais, pegar um ônibus errado que te leva ao outro lado da cidade, se perder completamente, ser convidado para um jantar por um morador local – são esses desafios que nos fazem crescer. Isso não tem preço. Investimentos em bens materiais não podem comprar essas coisas. O melhor investimento da vida é em você mesmo.”
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A executiva também é cofundadora da Sprinters, responsável por promover uma série de meetups (encontros informais) e hackathons (maratonas de programação) de três dias para apoiar as mulheres em startups em todo o mundo. “Nós estamos engajando as mulheres no empreendedorismo e construindo irmandades de startups nos quatro continentes”, conta. “Como uma mulher da área de tecnologia, eu percebia o tratamento dispensado às profissionais do setor. A maioria dos hackathons na América do Sul e na África era promovido por homens, o que deixava as mulheres inseguras em participar, com medo de serem demitidas. Era preciso ter um programa como o Sprinters. Tive a ideia em Paraty, no Rio de Janeiro, durante um passeio de ônibus pela cidade. Lancei a sugestão para Saskia Naujok, uma empresária de Berlim. Ela adorou e colocamos a iniciativa em prática.”
Antes do Terminal 3 e da Sprinters, o salário anual de Mevish Aslam era de, aproximadamente, US$ 100.000. Atualmente, seus rendimentos estão abaixo dos US$ 10.000. Entretanto, para ela, a maior diferença não é a falta de dinheiro, mas sim poder fazer todos os dias algo de que ela realmente goste. “É uma oportunidade única de fazer a diferença. À medida que você cresce, você percebe que viver uma vida plena significa retribuir, de uma maneira ou de outra.”
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A empreendedora diz que, se pudesse dar um conselho para outras pessoas interessadas em começar seu próprio negócio, seria: “Não sente em cima da sua ideia e passe uma vida inteira arrependido. Lançar uma startup é um trabalho árduo, mas com paixão e persistência, tudo é possível. Se você começar, esteja preparado para dar o seu melhor – é tudo ou nada. Teste o mercado, trabalhe para obter os melhores resultados sempre e, mais importante, seja original.”
Mevish também tem uma dica para quem quer viver e trabalhar remotamente. “Teste um programa por um mês para ter certeza se esse tipo de vida realmente se encaixa com o seu estilo. Isso ajuda a mitigar o risco e o compromisso de longo prazo. É comum as pessoas imaginarem que trabalho remoto é sinônimo de diversão e tempo livre. Não é assim que funciona. Os profissionais remotos trabalham mais do que qualquer outro profissional que eu conheço. Além disso, é preciso ter a mente aberta para viver em comunidade, para saber lidar com as diferenças, construir amizades incríveis e viver experiências inesquecíveis.”