Leslie Morgan Steiner fazia livros antes mesmo de escrever. Aos 4 anos, ela desenhava e rabiscava, depois grampeava os papéis, ansiosa para contar histórias. Era uma espécie de preparação de terreno para o que se tornaria uma carreira bem-sucedida.
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Hoje, Leslie é autora de três livros, incluindo “Crazy Love” (“Amor Louco”, em tradução livre, sem versão em português), bestseller do “New York Times”, um livro de memórias sobre como sobreviver ao seu primeiro casamento abusivo. Ela também fez um discurso popular do TED sobre por que as vítimas de violência doméstica não vão embora.
Seus outros dois títulos – “Mommy Wars” e “The Baby Chase”, ambos sem versão em português, colocaram em evidência os problemas das mulheres relacionados à maternidade, carreira e mães de aluguel. Ela está atualmente trabalhando em sua quarta obra.
Mãe de três filhos, Leslie encontra as histórias íntimas da vida como uma mulher e mãe norte-americana fascinante. Contá-las, segundo ela, é sua missão.
Veja, na entrevista a seguir, as lições aprendidas por Leslie ao longo do tempo.
Forbes: Você viveu com medo e sua coragem a levou a superá-lo. Como assim?
Leslie Morgan Steiner: As duas vezes em que tive que ter coragem em vez de medo foram o fim de ambos os meus casamentos. Eu fui casada duas vezes com homens que eu realmente amei. Mas toda vez que tomei a decisão de terminar o casamento, foi a coisa mais difícil e assustadora que já fiz.
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F: Seu primeiro casamento foi abusivo. Como foi esse relacionamento e o fim dele?
Leslie: Eu estava com ele há quatro anos – e ele ia me matar. Ele tinha sido terrivelmente abusado quando criança, e começou a me bater cinco dias antes do casamento. Isso durou até o último dia em que ficamos juntos. E, embora parecesse assustador deixá-lo, era mais assustador ainda continuar com ele. Mesmo assim, foi incrivelmente doloroso desistir dele, porque eu queria muito ajudá-lo. E foi aterrorizante porque, na surra final, ele chegou muito perto de me matar. Havia várias coisas envolvidas e eu tinha apenas 26 anos. Então, eu realmente precisava ser muito forte de maneiras que não estava preparada.
Forbes: Como foi o seu segundo casamento? E como foi desistir dele?
Leslie: Quando terminei meu segundo casamento, que era uma circunstância muito diferente, estávamos juntos há 20 anos e tínhamos três filhos. Do lado de fora, as coisas pareciam maravilhosas. Ele era um homem estável e parecia muito gentil e amoroso. Mas ele tinha sido emocionalmente negligente e prejudicial para mim. Eu tinha desistido de uma carreira corporativa para criar nossos filhos, então eu estava preocupada com meu futuro financeiro. E eu estava com muito medo de que isso machucasse as crianças.
F: Eu imagino que deixá-lo ainda foi assustador na época, não?
Leslie: Eu acho que as transições voluntárias são as mais difíceis, já que há alguma escolha envolvida e você realmente precisa encontrar sua própria força. Nas duas vezes eu não sabia se ia conseguir. Mas uma das minhas frases favoritas é: “Pule e a rede irá aparecer”. Isso é realmente difícil de fazer. Parece que não há rede, mas em ambos os casos, a rede era formada por minhas amigas. Isso explica por que eu escrevo sobre mulheres.
F: Qual foi a principal coisa da qual você teve que abrir mão?
Leslie: A mais difícil foi deixar a ideia de que havia alguma definição da esposa perfeita e da mãe perfeita por aí. Eu acho que isso vem da minha mãe. Realmente importava para ela que tudo parecesse perfeito da porta para fora. Ela era linda. sabia qual garfo usar, era uma grande atleta e sempre foi magra sem se esforçar. Ela era uma especialista em parecer a esposa e mãe perfeitas. Era presidente da Associação de Pais e Mães e organizou grandes festas para o escritório de advocacia do meu pai. Eu cresci com essa ideia de que se você fizesse tudo parecer perfeito do lado de fora, você viveria feliz para sempre.
F: A ideia de uma perfeição inalcançável engana muitas de nós, não é mesmo?
Leslie: Tive muita dificuldade ao perceber que não há valor na perfeição, especialmente quando se trata do tipo de esposa e de mãe que você é. Se você tentar ser perfeita como mãe, tudo o que você faz é convencer seus filhos de que a perfeição é importante, e você lhes dá um enorme complexo de inferioridade. Eu tenho sido uma mãe realmente imperfeita. Meus filhos vão atestar isso. Acho que foi realmente importante deixar isso de lado e dizer: “Não vou fazer tudo certo”. Como mulheres, recebemos mensagens muito fortes de que há uma maneira definida de fazer as coisas. É como um papel de parede em nossas vidas – ninguém vem até nós e diz: “Você precisa fazer isso desse jeito”. Mas absorvemos essas mensagens o tempo todo. Desprezar tudo isso é um caminho muito melhor para o sucesso, a felicidade pessoal e a maternidade.
F: Agora que você terminou esses relacionamentos e abandonou a ideia da perfeição, como está a sua vida?
Leslie: De certa forma, sinto que minha vida inteira é uma jornada circular para voltar a ser quem eu era quando tinha 8 anos de idade – despreocupada, confiante, pateta e caprichosa. Eu tentei tanto voltar para aquele lugar. E ignorar os deveres, ser corajosa, mal humorada e ouvir minha própria voz interior, me levou a ser uma mãe de uma maneira que muitas pessoas acham que não é convencional. E isso me trouxe a uma carreira não convencional. Mas essas coisas me dão felicidade interior, paz e alegria.
F: Qual é a melhor parte de viver de acordo com seus próprios termos?
Leslie: Algo que eu costumava dizer enquanto escrevia “Mommy Wars” era: “Mães são como flocos de neve”. As pessoas lidam com a maternidade de forma diferente. E há muita alegria nisso – em viver a vida do jeito que você quer viver. Recebemos todas essas mensagens que dizem que, se somos incomuns ou um pouco malucos, não somos tão amáveis e não nos adaptamos. Adorei transmitir tudo isso. E a boa notícia é que fica mais fácil à medida que você envelhece. Ser mulher é uma aventura incrível.
F: Que conselho você daria para mulheres que desejam fazer o mesmo?
Leslie: É mais fácil se eu pensar em dar conselhos às minhas filhas. Eu digo o tempo todo que elas são ótimas do jeito que são. Elas recebem essa mensagem implacável de que têm que ser magras e bonitas, e que há um grande valor nessa ideia estereotipada de perfeição feminina. É um clichê, mas é verdade: você precisa ficar do seu próprio lado. É o básico do feminismo, mas olhe-se no espelho e diga: “Hoje fiz um bom trabalho”. Essa voz interminável que diz que não somos suficientes é tão destrutiva… E a pior parte é que de alguma forma é bom – como se nos criticarmos e nos esforçarmos mais pudesse nos fazer melhores. Não é assim. É um completo desperdício de energia.
F: Você diz que passou um bom tempo aprendendo a ser assertiva, mas que agora está aprendendo a não ser mais. Você poderia explicar?
Leslie: Eu, assim como a maioria das mulheres, passei a minha vida aprendendo a ser assertiva. O que é complicado é que, quando você se torna realmente assim, aprende que há momentos em que você precisa parar. As dicas que estou recebendo dos meus filhos mostram que é hora de ser menos assertiva com eles e ouvir mais. E isso é difícil. É como se eu estivesse treinando para expressar minhas opiniões e estar em contato comigo mesma, e agora a lição é encontrar o valor de ficar de braços cruzados e escutar – ouvindo tanto as pessoas em minha vida quanto a mim mesma, descobrindo o poder que vem de ficar quieta.