Uma pesquisa sobre os impactos da Lei de Cotas no Brasil mostra que o acesso ao ensino superior permitiu o acesso dos beneficiários das cotas a trabalhos menos precarizados e a melhora financeira de suas famílias, com 73% dos cotistas entrevistados empregados ao saírem da faculdade e 80% trabalhando em regime CLT. O relatório, realizado pela consultoria estratégica de comportamentos Box1824 e a plataforma de inclusão Empodera, entrevistou 632 pessoas, entre cotistas (aquelas que se beneficiaram das cotas universitárias) e elegíveis (as que seriam elegíveis mas não fizeram uso da política afirmativa).
Com a lei federal 12.711, a Lei de Cotas, completando 10 anos em 2022, o estudo buscou identificar avanços e limites dessas ações afirmativas para aqueles que se beneficiaram delas. Além de beneficiar os próprios cotistas, a pesquisa relatou que os impactos da lei foram para além do ambiente universitário. Apesar disso, esses indivíduos ainda encontram dificuldades no desenvolvimento acadêmico e profissional e preconceito. Confira outras conclusões da pesquisa a seguir.
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Impacto para além do estudante
O maior ingresso de estudantes de escolas públicas, de baixa renda, pretos, pardos e indígenas no ensino superior permitiu a formação de referências para os estudantes em fase escolar que desejam o mesmo – além de mostrar o ingresso na universidade como possível para esses estudantes. Na pesquisa, 83% dos cotistas entrevistados afirmaram que influenciaram amigos e familiares a estudarem mais ou voltarem a estudar.
Adicionalmente, o relatório observou saltos de renda individual que chegavam a multiplicar em 10 vezes os ganhos obtidos durante a universidade. Isso permite que esses indivíduos possam oferecer melhores condições de vida para suas famílias.
Valorização do diploma
Os jovens cotistas que ingressam no mercado de trabalho com diploma de ensino superior ampliam suas visões de mundo e as oportunidades dos ingressantes no mercado de trabalho. 75% dos beneficiados pelas cotas disseram que aumentaram muito o seu ciclo de amizades e contatos profissionais. “O diploma da UFF (Universidade Federal Fluminense) me fez ter oportunidades que eu não teria se eu fosse egresso de uma faculdade particular aqui da região”, diz um estudante cotista e negro de 26 anos.
Conscientes do prestígio e qualidade da formação que tiveram, esses estudantes também tendem a construir grandes expectativas sobre seus futuros profissionais, mas isso nem sempre acontece quando vão para o mercado de trabalho. Apesar de 73% deles deixarem a faculdade já empregados, o estudo mostra que ainda são colocados em postos de trabalho inferiores aos ingressantes do mercado de trabalho que não foram cotistas.
Empresas precisam contribuir mais
Ao superarem os desafios de ingressar por cotas nas universidades, os estudantes cotistas encontram mais obstáculos ao adentrar o mercado de trabalho – mesmo quando ainda buscam estágio. “No final do curso eu tinha que pensar em projeto e trabalhar”, conta uma estudante cotista negra de 30 anos. “Foi um período bem difícil da faculdade.”
Devido ao tabu sobre ações afirmativas no mercado, jovens profissionais altamente qualificados precisam migrar para outras áreas ou aceitar a estagnação em cargos de assistência, indica oestudo. Ele relata que é necessária maior contribuição das empresas em políticas afirmativas para incluir universitários cotistas no mercado de trabalho. Mesmo assim, 86% dos estudantes entrevistados afirmam que gostariam de trabalhar em uma empresa com alguma política afirmativa interna.