Antes da pandemia, já havia uma tendência de usar roupas mais casuais para o trabalho, especialmente entre os profissionais millennials e da geração Z. Nesse período, ficou popular declarar guerra às gravatas e aos sapatos altos para comparecer a reuniões, muito influenciada pela contracultura corporativa que o crescimento da indústria de tecnologia criou no mundo do trabalho. Essa tendência tem se fortalecido desde o começo do retorno ao trabalho presencial. Os funcionários e muitas empresas que aderiram ao trabalho remoto estão descobrindo que podem ser igualmente produtivos em roupas mais confortáveis e em relação a quando se vestem formalmente. Ainda, as expectativas em relação à aparência na condução do trabalho também tiveram transformações.
Uma das principais razões para essa mudança é a transformação da abordagem do trabalho e da carreira entre os millennials e a geração Z. Essas gerações são mais focadas no equilíbrio entre vida e trabalho e ficam menos trabalhando longas horas simplesmente para agradar seus superiores. Esses grupos trabalham de maneira muito mais ágil e não passam o dia todo no escritório, então vestir roupas que as permitam se mover confortavelmente entre diferentes ambientes se tornou fundamental para suas identidades profissionais.
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Outro fator que contribuiu para esse movimento foi o crescimento da gig economy – que faz referência às formas alternativas de emprego – e da realização de trabalhos extras para obter renda – ou, pelo menos, a abordagem do trabalho pela gig economy, a qual gerou um aumento dos trabalhos remoto e freelancer. Muitos millennials e integrantes da geração Z escolheram essa maneira de trabalhar porque proporciona maior flexibilidade e autonomia, bem como formas mais variadas e estáveis de fluxo de renda. Esse tipo de trabalho normalmente não requer trajes formais e, ao contrário, pode ser realizado de qualquer lugar e com qualquer vestimenta confortável enquanto fazem algo que amam – algo que trabalhadores de escritórios querem imitar.
É claro que a pandemia teve um importante papel nessa tendência. Enquanto as companhias mudavam para o trabalho remoto, muitos funcionários viram que não precisavam se arrumar para chamadas de vídeo ou reuniões virtuais. Assim, a maneira como nos apresentamos virtualmente rapidamente mudou desde os primeiros dias de isolamento. Há um nível de conforto e de realidade que foi conquistado através da intromissão do trabalho nos ambientes domésticos, até mesmo com pessoas alternando entre ir para o escritório e ficar em casa para trabalhar.
As pessoas estão usando os “looks de trabalho” para carimbar suas personalidades na forma como se apresentam no trabalho e estão aderindo à ideia de que uma gravata ou sapatos de salto altos não são um bom indício da capacidade de alguém de fazer seu trabalho.
Elas também estão questionando a razão dessas normas sociais – em locais mais quentes, por exemplo, vestindo shorts e roupas mais casuais para os escritórios –, o que tem proporcionado mais conforto para o dia de trabalho. A pergunta então se transforma para “Por que relativizamos essas vestimentas somente em relação ao clima?”
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Algumas empresas têm visto seus funcionários mais produtivos e engajados quando estão confortáveis em suas roupas de trabalho, gerando uma atmosfera de trabalho calorosa. Enquanto alguns empregadores permitiam trajes casuais somente um dia por semana, com as sextas-feiras casuais (casual fridays, em inglês), a pandemia tornou essas fronteiras ainda mais nebulosas. Todo dia pode ser uma sexta-feira casual.
A rejeição das vestimentas formais de trabalho entre os millenials e os integrantes da geração Z pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo as diferentes abordagens deles em relação a trabalho e carreira, o crescimento da cultura corporativa da tecnologia e a mudança ao trabalho flexível na pandemia. Provavelmente veremos outras tendências parecidas moldando aspectos da cultura corporativa nos próximos anos, com cada vez mais companhias adotando trajes flexíveis e casuais por conta dessas transformações de atitude.