Mais de 80% dos diretores admitem que a falta de habilidades digitais tem impacto negativo sobre sua empresa. O dado é resultado de um estudo feito no ano passado pela AND Digital, empresa europeia de capacitação em digital skills com mais de 40 mil pessoas já treinadas em diversos países. O dado reforça que o desejo de lideranças em promover a transformação digital em suas companhias nem sempre vem acompanhado de mudanças no perfil profissional dos funcionários.
Ganhar habilidades digitais – isto é, ter competências técnicas que envolvem tecnologias para aplicar no cotidiano do trabalho –, significa acompanhar o ritmo das mudanças que vai mudar a cara das empresas nos próximos anos. “Com aceleradores e chips que estão sendo construídos, podemos ter sistemas de IA mil vezes mais poderosos do que são hoje até 2030. Não é exagero”, disse a futurista Amy Webb em sua palestra na conferência SXSW no início do mês.
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São conhecimentos como leitura e análise de dados, interação com inteligência artificial ou até o básico em robótica que diminuem em 59% as chances de alguém perder o emprego, mostrou uma pesquisa feita no Reino Unido. E isso não tem a ver só com quem trabalha em TI. Estamos falando de gente de marketing, RH, finanças. Logo, é aí que está o pulo do gato para sua carreira nos próximos anos, um processo que ficou evidente com a chegaa do ChatGPT e o advento da inteligência artificial. “Enxergamos um movimento em que empresas, universidades e escolas terão que capacitar as pessoas para um outro tipo de trabalho, que envolve a combinação do homem com a máquina”, diz Luciana Lutaif, diretora da prática de talentos e organização da Accenture.
Funcionários, não freelancers
Indústria, finanças, recursos humanos, advocacia e marketing são as áreas apontadas como aquelas que estão mais investindo nessa transformação digital para realizar processos operacionais. E que, portanto, vão exigir profissionais mais antenados e “digitalizados”. “A automação pode liberar os profissionais para realizar tarefas mais complexas e estratégicas, que exigem habilidades humanas, como criatividade, julgamento e tomada de decisão”, diz Luis Barosa, sócio de consultoria em capital humano na Deloitte.
E a maioria das pessoas que vão ajudar nessa transformação digital não vai vir de fora, mas da força de trabalho contratada formalmente. Ainda que uma reação inicial possa ser tercerizar ou contratar temporariamente pessoas com as habilidades necessárias, ter profissionais capacitados dentro das empresas é o que vai sustentar a mudança. Além disso, esse é um importante fator de retenção de talentos, já que a possibilidade de crescer e de ganhar habilidades dentro da empresa é altamente valorizada pelos profissionais brasileiros. Um relatório da consultoria de head hunting Korn Ferry mostra que a retenção de trabalhadores é 34% maior quando os profissionais têm essas oportunidades.
Como incluir digital skills no currículo
O Global Digital Skills Index 2022, levantamento da Salesforce, empresa norte-americana de softwares, mostrou que somente 28% dos trabalhadores do mundo todo estão ativamente envolvidos em aprender digital skills, sendo que 76% deles sentem que não têm os recursos necessários para desenvolver essas habilidades.
Se o seu empregador oferecer cursos ou plataformas nas quais você pode se capacitar em habilidades digitais, busque aproveitar esses recursos. Entre em contato com a tecnologia que você quer entender melhor e use o conhecimento teórico adquirido no seu cotidiano profissional. “O aprendizado se torna muito mais efetivo quando a pessoa consegue aplicar no seu trabalho a ferramenta para a qual ela se capacitou ou, ainda, transitar entre as áreas da empresa para ver como as habilidades que você obteve podem se aplicar a diferentes contextos”, diz Lutaif.
Mesmo com essas oportunidades, ainda é importante que o profissional tome a frente no desenvolvimento dos suas digital skills. “Você não precisa do apoio do seu empregador para se desenvolver e colocar o conhecimento em prática, mas precisa aprender algo que faça sentido com o dia a dia do seu trabalho”, diz Adriano Almeida, COO e cofundador do Grupo Alura, empresa de educação em tecnologia. Caso a sua empresa não ofereça ferramentas de aprendizagem, obter certificações, fazer cursos presenciais e online ou assistir vídeo-aulas no Youtube – claro, de professores qualificados – podem ser alternativas para atualizar seu rol de competências digitais.
Digital skills em demanda
De acordo com os profissionais consultados pela Forbes, todas as carreiras podem se beneficiar de funcionários com digital skills, apesar de algumas competências serem mais demandadas pelo mercado. Elas são:
Análise de dados: as tecnologias que permeiam nossas realidades são construídas com base em dados. É por isso que, com um uso mais constante delas, cada vez mais vamos ter que conseguir entender o que esses dados significam, a importância deles e como eles podem ser traduzidos em ideias e ações. Nos negócios, ainda, eles são importantes para comunicar ideias, construir estratégias e analisar resultados de decisões tomadas.
Programação básica e robótica: ter essa digital skill não significa que você saberá escrever e código, mas sim, entender como as tecnologias com as quais você trabalha são formadas e saber dar comandos básicos para que elas façam aquilo para que foram programadas.
Operação de máquinas: saber usar o sistema tecnológico implantado em uma máquina que a possibilita fazer tarefas que antes eram feitas manualmente.
Segurança da informação: se proteger de ciberataques é uma preocupação de muitas empresas incluídas no cenário digital. Antivírus e outras tecnologias não são suficientes para fazer essa proteção se os seus funcionários não souberem se comportar no ambiente digital de forma segura. Logo, eles devem saber identificar potenciais ameaças de roubo de informações, em que plataformas podem navegar, como proteger senhas, como identificar informações falsas e que softwares e meios de comunicação devem usar dependendo do nível de sensibilidade da informação com a qual trabalham.
Conhecimentos em inteligência artificial: com o lançamento da IA generativa, saber dar comandos e fazer perguntas se tornou uma competência importante de saber. Ainda, saber usar as funcionalidades da IA em tarefas operacionais e em união com outros sistemas que você usa no trabalho é fundamental para tornar mais eficiente a implementação dessa tecnologia.
Aqui estão alguns exemplos de como as digital skills podem ser úteis em quatro diferentes carreiras:
- Marketing: usar inteligência artificial para criar textos publicitários, analisar métricas e dados da entrega e do impacto do seu conteúdo e identificar as tendências do seu mercado-alvo.
- Indústria: analisar dados de produção, programar máquinas e garantir a operação eficiente das tecnologias.
- Engenheiro: operar máquinas e usar a análise de dados para otimizar a tomada de decisão nos projetos.
- Recursos humanos: usar inteligência artificial para gerar descrição de vagas, para classificar e organizar informações de candidatos e proteger dados em processos seletivos.