Quando se inicia um novo ano, muitas pessoas decidem fazer uma profunda reflexão sobre suas próximas metas e estratégias. Essa reflexão é especialmente significativa para aqueles que assumem novos cargos de liderança, enfrentando desafios e oportunidades únicas. Espere! A primeira coisa que recomendo é não ir com muita sede ao pote. Não vamos colocar o carro na frente dos bois.
Em minha trajetória profissional, vivenciei diversas transições, desde liderar grupos com poucas pessoas até assumir a liderança de uma organização de um país inteiro. Durante essa jornada, aprendi valiosas lições sobre como implementar mudanças efetivas em um novo cargo de liderança, e a principal delas é respeitar a ordem com a qual implementamos mudanças.
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Lembro-me de uma situação que aconteceu comigo e me marcou muito. Depois de uma semana como diretor de uma nova área, num novo país, avisaram-me que os distribuidores queriam se reunir num hotel e que seria uma choradeira só, cheia de reclamações. Todos me aconselharam a não ir pois estaria “dando corda”. Fiz exatamente o oposto. Não só fui como incentivei a me falarem tudo o que estava errado. E não falei nada do que iria fazer. Não era hora de falar. Era hora de escutar.
Ao ingressar numa nova posição, é natural avaliar as práticas anteriores e considerar mudanças. Vejo, contudo, que um dos maiores riscos ao assumir um novo cargo é comunicar imediatamente suas intenções de mudança. Na minha perspectiva, essa deve ser a última ação a ser executada.
A primeira ação a ser tomada é a conexão. Se você não se conectar com seu novo time, nunca terá uma verdadeira equipe, apenas funcionários. É fundamental estabelecer relações genuínas com as pessoas ao seu redor. Quais suas expectativas de carreira? Qual é a história de cada uma? O que as aflige? Demonstre empatia! Demonstre que está disposto a ajudá-los em suas necessidades urgentes ou preocupações.
Eu me lembro de uma época em que estava muito ansioso por uma promoção. Meu chefe, percebendo como isso estava me perturbando, procurou-me e conversou sobre minha performance, o quanto a companhia me valorizava, que boas coisas iriam acontecer, mas que teria de esperar uma posição se abrir. Deixou claro que não existiam dúvidas a meu respeito. Claro que adoraria que ele tivesse me comunicado a data da promoção, mas o simples fato de demonstrar a preocupação assim como a clareza e a honestidade da conversa já me trouxeram a paz de espírito para eu me focar no meu trabalho.
Para construir confiança, priorize sempre a franqueza, incentivando feedbacks sinceros e diálogos abertos sobre as percepções das pessoas em relação ao negócio que você lidera. Mostre-se como uma pessoa, além da posição de líder. Compartilhe aspectos sobre si mesmo, seus interesses e o estilo de liderança que adota. Destaque seus valores e como pretende superar as expectativas.
Quando inicio em uma nova função, costumo usar seis letras para falar de seis coisas em que acredito. A letra A, por exemplo, é atitude. Prefiro colaboradores com desempenho mediano e atitude excepcional do que o contrário pois a performance pode ser aprimorada, as habilidades podem ser treinadas, mas uma atitude ruim contamina a todos. A letra C fala de competência e caráter, e já falamos sobre isso em outro artigo. Aos poucos, revelo as outras letrinhas.
A segunda ação é aprender. Iniciar em uma nova posição exige humildade e escuta atenta. Ouça sua nova equipe, seus clientes e todos com quem você irá interagir. Ouvir o seu chefe ou aqueles que tomaram a decisão de colocá-lo no cargo também é importante, mas não pare aí. Seu novo time possui muitas histórias para contar. Há pessoas com grande experiência, críticos e até mesmo os mais céticos, que demorarão a se abrir. Escutando um pouco de cada um deles, você começará a montar o quebra-cabeça.
Não se esqueça de ouvir os clientes, sejam eles internos ou externos. Quais histórias eles têm para contar? Estão satisfeitos com os resultados atuais? Com a forma como estão sendo entregues? Não hesite em perguntar e anote suas primeiras impressões. Registre suas observações nos primeiros 90 dias, período em que a experiência é mais intensa. Essas anotações serão guias valiosos para suas decisões futuras, lembrando o aprendizado inicial.
A terceira ação gradual é a busca por pequenas vitórias que mostrem suas habilidades naturais e atendam às expectativas ao seu redor. Seja ousado ao corrigir processos deficientes, conquistar clientes inativos ou restabelecer relacionamentos com fornecedores. Essas conquistas iniciais não apenas fortalecem sua credibilidade, mas também geram um impulso positivo, preparando o terreno para mudanças mais significativas.
A última ação é comunicar seu plano. O plano é o tal carro que não pode ir na frente dos bois. Após ter trabalhado na conexão, nos aprendizados e nas pequenas vitórias, e tendo construído confiança, chega o momento que acredito ser ideal para comunicar seu plano. Esse plano não veio pronto; ele foi sendo aprimorado com cada conexão estabelecida e aprendizado adquirido. Não é um plano apenas seu, mas de todos. Na minha experiência e para o meu estilo de liderança, é a melhor forma de desenvolver o planejamento e, ao mesmo tempo, motivar a minha equipe, mostrando que, de fato, ela faz parte de tudo.
Enfrentar um novo desafio profissional demanda não apenas habilidades técnicas, mas sobretudo inteligência emocional e uma mentalidade resiliente. Situações inesperadas surgirão, mas é a forma como reagimos que determina o impacto. Por isso, um dos exercícios mais importantes que realizo é sempre me lembrar de que, embora nem tudo esteja sob meu controle, uma atitude positiva e ações planejadas delineiam o caminho para o sucesso contínuo. Para mim, tem funcionado.
Ao compartilhar um pouco de como penso, o que apliquei e aprendi, espero que não apenas facilite sua transição, mas também inspire uma trajetória profissional duradoura e bem-sucedida.
Feliz 2024!
*André Felicíssimo, presidente da P&G Brasil
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