O câncer colorretal é um dos tipos de câncer mais comuns no Brasil, sendo o segundo mais frequente entre as mulheres e o terceiro entre os homens. Para 2024, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima mais de 45 mil novos casos da doença no país, refletindo a relevância da prevenção e do desenvolvimento de tratamentos inovadores.
No último Congresso Europeu de Oncologia (ESMO 2024), realizado em setembro, pesquisadores apresentaram os resultados de um estudo recente conduzido na Itália com 180 pacientes com câncer de reto médio ou distal (que se desenvolve na parte final do intestino grosso) em estágio inicial, que investigou abordagens menos invasivas para o controle da doença.
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Tradicionalmente, o tratamento para o câncer de reto envolve uma combinação de quimioterapia, radioterapia e cirurgia, sendo que esta última pode resultar na amputação do órgão, uma intervenção que impacta significativamente a vida do paciente. O estudo em questão avaliou uma estratégia que combina quimioterapia seguida de quimiorradioterapia, permitindo, em alguns casos, que a cirurgia fosse dispensada.
Dos 180 pacientes tratados, 25% atingiram uma resposta completa, confirmada por exames de imagem e retossigmoidoscopia. Esses indivíduos foram acompanhados sem necessidade de cirurgia, e 95% deles permaneceram livres da doença por pelo menos dois anos. Para os que não alcançaram resposta completa, a cirurgia foi realizada, e cerca de 74% deles também ficaram livres da doença no período de acompanhamento.
Esses resultados são promissores, pois indicam que pacientes que respondem completamente ao tratamento quimioterápico e à quimiorradioterapia podem evitar a cirurgia em algumas situações, preservando o reto e evitando sequelas significativas.
Imunoterapia também é usada para câncer colorretal
Além dos avanços nas estratégias mais tradicionais, outro campo promissor é o uso da imunoterapia, especialmente para pacientes com uma condição chamada “instabilidade de microssatélites” (MSI), presente em aproximadamente 15% dos pacientes com câncer de cólon e reto. Essa alteração genética torna o tumor mais responsivo a tratamentos imunológicos, que estimulam o próprio sistema imune a atacar as células cancerígenas.
Outro trabalho apresentado na ESMO 2024 investigou a eficácia de dois imunoterápicos – nivolumabe e relatlimabe – em 59 pacientes com câncer de reto. Esses medicamentos foram administrados em apenas duas doses, com intervalo de quatro semanas entre elas.
Os resultados mostraram que 96% dos pacientes apresentaram uma resposta significativa ao tratamento, e 68% experimentaram o desaparecimento completo do tumor. Esse avanço representa uma esperança para pacientes com câncer de reto avançado, especialmente aqueles que enfrentam o risco de amputação definitiva do órgão. Para os pacientes que possuem a alteração MSI, a imunoterapia pode se mostrar uma alternativa promissora e menos invasiva, proporcionando altas taxas de cura sem a necessidade de cirurgia.
Os avanços nesses estudos internacionais contribuem para debatermos o cuidado com o câncer de cólon e reto no Brasil. O desenvolvimento de novas terapias, especialmente aquelas que permitem uma abordagem menos invasiva e com menos efeitos colaterais, é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e oferecer opções de tratamento mais personalizadas e eficazes.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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