A Conferência das Partes (COP) é o principal fórum global para discutir ações climáticas e implementar os compromissos do Acordo de Paris. A edição deste ano, COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, reuniu cerca de 70 mil delegados de todo o mundo com foco em temas como financiamento climático, mercado de carbono e transição para uma economia de baixo carbono.
A COP29 foi chamada como a “COP do Financiamento”, destacando a definição de um Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento Climático (NCQG). Este substitui a meta de US$ 100 bilhões anuais anteriormente estabelecida, com o objetivo de prover maior suporte aos países em desenvolvimento e que não foi totalmente cumprida. Além disso, houve avanços na discussão sobre o mercado global de carbono, indicadores de adaptação, perdas e danos, e a promoção de tecnologias sustentáveis.
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Embora a nova meta de financiamento – ao menos US$ 300 bilhões por ano até 2035 para os países em desenvolvimento, chegando em US$ 1,3 trilhão em 2035 – já represente algum progresso, muitos países em desenvolvimento e, inclusive a delegação brasileira, consideram insuficiente, demandando US$ 1,3 trilhão por ano.
Isso porque, algumas pesquisas mostram que os números necessários são muito maiores. De acordo com um levantamento realizado por um grupo de pesquisadores que assessora as COP, estima-se que o valor anual necessário poderia chegar a US$ 6,5 trilhões. Em outro estudo, segundo a Universidade de Oxford (Reino Unido), o montante poderia ser de até US$ 9,5 trilhões. Esses recursos são importantes para que os países possam desenvolver suas estratégias de mitigação, adaptação e resiliência frente às mudanças climáticas.
Um avanço interessante também aconteceu nas discussões sobre food systems. O Grupo de Agricultura (Sharm el-Sheikh joint work on implementation of climate action on agriculture and food security) contará com uma plataforma para conectar projetos, iniciativas e políticas públicas a parceiros e financiadores, com o objetivo de viabilizar ações voltadas para a adaptação da produção de alimentos às mudanças climáticas, aliando também a redução das emissões (mitigação) como co-benefício. Esse ambiente será importante para troca de experiências e transferência de tecnologia.
Rumo à COP30
É bem sabido que uma peça chave para levar o Brasil ao patamar de uma das maiores economias agroexportadoras foi nossa capacidade de empregar ciência e tecnologia na produção agropecuária nas últimas décadas. O que o Brasil desenvolveu é surpreendente se olharmos o salto de produtividade que tivemos. E por mais que tenhamos sim desafios como o desmatamento ilegal, ser capaz de ter 25% do território nacional em dedicada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais, não é algo trivial (Fonte: Embrapa).
O Brasil tem ainda uma grande oportunidade na agenda climática global: ser um exportador de tecnologias e soluções climáticas. E podemos fazer isso enquanto produzimos alimentos e desempenhamos um papel central na segurança alimentar. Como? Com ciência e tecnologia, pilares do nosso agro que nos trouxeram até aqui e devem seguir nos guiando nas próximas décadas.
E já estamos no caminho certo, adotando desde práticas de agricultura de baixo carbono e atividades conservacionistas a fim de proteger a saúde do solo até o uso de ferramentas digitais para tornar a agricultura mais precisa, sustentável e resiliente.
O financiamento climático é importante para seguir fomentando a pesquisa, a ciência e a adoção de novas práticas e tecnologias por parte de produtores rurais, cooperativas, e indústrias que almejam transformar suas cadeias de suprimentos.
Mas o agro tem um desafio a mais: não basta apenas fazer, é preciso saber comunicar o que tem sido feito. E para isso, os dados são essenciais. Quando falamos sobre o Brasil assumir o protagonismo dessa agenda, significa também trazer a nossa história, amparada por pesquisa, resultados e impacto.
Como anfitrião da COP30 em Belém, o Brasil terá a oportunidade única de mostrar ao mundo o seu papel estratégico na agenda climática global. Além de sediar discussões cruciais sobre financiamento climático, adaptação e mitigação, o país poderá destacar suas iniciativas em agricultura de baixo carbono, conservação ambiental e exportação de tecnologias sustentáveis. Belém será o palco para reafirmar o Brasil como um líder global na integração entre produção agropecuária sustentável e segurança climática, impulsionando investimentos e colaborando para a construção de um futuro mais resiliente.
* Mariana Vasconcelos é co-fundadora e CEO da Agrosmart, Young Global Leader pelo World Economic Forum, Membro da Comissão de Segurança Alimentar da Fundação Kofi Annan e conselheira consultiva da Thought For Food, Fundação Espaço Eco (BASF) e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Tem formação executiva em negócios pela UNIFEI, Stanford, LSE e Singularity University.
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