“Eleição é como nuvem: você olha e está de um jeito; olha de novo e já mudou tudo”. A frase, cuja autoria já foi atribuída a Magalhães Pinto, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, reflete totalmente o espírito da corrida presidencial de 2014. Num primeiro momento, Dilma Rousseff era favorita absoluta, com chances de ganhar a disputa no primeiro turno. Com o acidente fatal de Eduardo Campos, Marina Silva assumiu a candidatura do PSB e mostrou-se favorita.
Com pouca rejeição naquele momento e com um volume considerável de votos na algibeira, Marina chegou a empatar com Dilma nas intenções de voto no primeiro turno e sairia vencedora na segunda etapa das eleições. Aécio Neves, a essa altura do campeonato, era carta fora do baralho.
O PT e PSDB, então, começaram a desconstruir a imagem de Marina. Aos poucos, sua curva de intenções de votos começou a cair, assim como seu índice de rejeição, que passou de 11 % a 25 % (o de Dilma, a título de comparação, é 31 %). A campanha petista pegou mais pesado com Marina. Nesta fase, Dilma distorceu fatos sobre a ex-senadora. Mas o número maior de ataques à ex-ministra veio do PSDB, que questionou fortemente a capacidade de gestão de Marina.
O que se viu foi uma queda paulatina da candidata do PSB nas pesquisas. Em contrapartida, Aécio passou a subir. A distância entre as duas candidaturas, em meados de setembro, era superior a 10 pontos. A uma semana do primeiro turno, Marina chega desidratada ao pleito. Sua diferença para Aécio está entre 5 e 6 pontos, dependendo da pesquisa.
Antes, Marina tinha mais de 14 milhões de votos de dianteira em relação ao candidato do PSDB. Hoje, essa diferença caiu à metade. Em tese, Aécio pode tomar a vaga no segundo turno ao abocanhar 3 milhões de votos válidos nesta reta final. Não é impossível, dada a progressão de queda de sua rival e de sua ascensão.
Agora, resta a saber se Aécio consegue essa virada. O problema é que ele não é o único beneficiado pelo esfacelamento da candidatura do PSB. Dilma também cresceu nestes últimos dias. Durante o mês de setembro, a ex-senadora caiu de 34 pontos para 20 pontos. Ou seja, perdeu 14 pontos. Aécio, por sua vez, subiu seis. Mas Dilma também avançou cinco pontos neste intervalo.
O bombardeio em cima de Marina, assim, leva a três cenários, não necessariamente listados por ordem de probabilidade, pois a essa altura ninguém pode prever o que vai acontecer no dia 5 de outubro.
O primeiro é a ida de Marina ao segundo turno, ganhando de Aécio no photochart. Neste caso, Dilma é a franca favorita no segundo turno, pois enfrentará uma adversária em queda e com rejeição em alta.
O segundo é a ida de Aécio à segunda etapa, o que necessariamente ocorrerá por uma diferença pequena. O problema, para ele, é que por enquanto as pesquisas mostram que ele seria derrotado por Dilma. Mas seu maior desafio seria atrair Marina para seu palanque, depois de toda a munição que os tucanos dispararam em cima da ex-ministra.
Por fim, há também a possibilidade de Dilma levar essa fatura no primeiro turno. Basta que Aécio fique estagnado, Marina continue a cair e Dilma suba de três a quatro pontos. De todos os cenários possíveis, talvez esse seja o mais improvável.
Curiosamente, o PT que seria o mais prejudicado pela situação de estagnação econômica, está com a faca e o queijo nas mãos. Dona do maior tempo no horário eleitoral, Dilma poderá reduzir os ataques à Marina para conter o avanço de Aécio e evitar o confronto com um candidato que está em crescimento no segundo turno. Ou, se preferir, poderá continuar a queimar Marina por acreditar que terá mais chances se enfrentar os tucanos na etapa final (o placar das pesquisas mostra que Dilma venceria o segundo turno por 49 % a 41% contra Marina e 50% a 41 % contra Aécio).
Mas, como dizia aquela frase antiga, o cenário está mais volátil que a formação das nuvens no céu. E vai continuar mudando até o final da semana. Uma coisa é certa: Marina, depois da polêmica envolvendo seu voto na aprovação da CPMF, quando era senadora, deve continuar a definhar. O que vai definir a parada é a velocidade de seu derretimento comparada ao incremento dos tucanos.
Essa montanha russa reflete a falta de solidez das candidaturas junto aos eleitores e isso é um sinal dos tempos. Se os consumidores já não são fiéis a uma marca só de produto, é natural que mudem de ideia sobre em quem votar com maior facilidade; além disso, parece que esses novos eleitores sensibilizam com a pancadaria vista na campanha. É o início de um novo jeito de fazer política: quem bater melhor ganha. E quem ficar em pé, após a surra dos adversários, também.