“Obrigado, Senhor Prefeito!” Foi isso que eu disse no início da minha conversa com um dos maiores — talvez o maior — prefeito da história recente de Nova York, Rudolph Giuliani, chamado carinhosamente por aqui como “Rudy”.
Eu agradecia o fato de ter sido ele o responsável por transformar a minha cidade predileta no mundo nesse lugar seguro que nos acostumamos a conviver nos últimos 20 anos. Para os mais novos — eu inclusive —, basta assistir ao clássico Taxi Driver, de Martin Scorsese, para saber como era a NYC pré-Rudy.
Às vésperas das campanhas para as eleições municipais que acontecerão em 2016 (texto publicado em novembro de 2015), olhar para o case que foi a administração Giuliani é quase uma obrigação para todo postulante ao cargo de prefeito das cidades brasileiras.
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Conhecido por implementar durante o seu governo — 1994 e 2001 — o programa “Tolerância Zero”, o advogado e político ítalo-americano nascido no Brooklyn há 71 anos tornou-se uma das figuras públicas mais conhecidas e admiradas dos Estados Unidos. Não só pela excelente gestão de seus dois mandatos, mas por ter sido o prefeito que carregou a cidade nos braços durante o seu momento mais difícil: os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Foram dele, naquele dia, as palavras que deram o tom de recomeço a toda uma nação, reconhecida pela sua enorme capacidade de resiliência.
“Amanhã Nova York vai estar aqui e nós vamos reconstrui-la, e vamos ser ainda mais fortes do que éramos antes… Eu quero que o povo de Nova York seja um exemplo para o resto do país e do mundo, que o terrorismo não pode nos parar.”
Mais do que oratória, Rudy é um homem de ação. Antes de se tornar prefeito, Giuliani foi um severo promotor de justiça que combateu impiedosamente o crime, em todas suas variáveis: dos pequenos delitos, passando pelos crimes de colarinho branco e o crime organizado. Ao encontrá-lo no Rio de Janeiro, recentemente, eu perguntei como ele se sentia no Brasil e se a sensação de insegurança o incomodava. Ele respondeu que o único lugar em que ele
não se sentia seguro e que, portanto, ele não poderia visitar era a Sicília, na Itália. Faz sentido, quando lembramos que Rudy foi o responsável por mandar para a cadeia mais de 1.200 criminosos ligados à máfia que agia em Nova York, entre eles o notório gângster John Gotti.
No modelo de gestão pública americano, a segurança pública das cidades é de responsabilidade dos prefeitos, diferentemente do Brasil, onde é tarefa dos governos estaduais. O prefeito-promotor Rudy não perdeu tempo. Os resultados na redução da criminalidade alcançados em sua gestão são realmente impressionantes:
Redução de 65,4% nos homicídios
Redução de 52% nos crimes em geral
Redução de 68,1% nos roubos de carros
Redução de 52% nos crimes em geral
Redução de 65,4% nos homicídios
Aumento na taxa de ocupação nos hotéis 21,7%
Perguntei o que o tinha levado a candidatar-se prefeito e a resposta foi instantânea: “Eu queria combater e acabar com a criminalidade na minha cidade”, para logo depois emendar “Eu não sabia muito sobre economia… mas o que não esperava era que as minhas ações contra a violência viriam a ser as principais medidas para o crescimento da economia local”. Para Giuliani, ninguém quer viver, investir ou visitar uma cidade violenta. A essa altura da conversa já era impossível não comentar, em tom de desabafo, que a violência e a insegurança pública eram as principais preocupações dos brasileiros — que, cada vez mais, buscam segurança em países como os Estados Unidos.
Giuliani — que além do escritório de advocacia do qual é sócio, tem uma empresa de consultoria em segurança e gestão pública — foi taxativo ao dizer que o problema do Brasil tem solução. “É preciso, acima de tudo, pulso firme e determinação”, disse. E, para ilustrar sua afirmação, ele apresentou números
da cidade de Medellín, na Colômbia, onde o governo local vem, nos últimos cinco meses e meio, colocando em prática as medidas apontadas pela sua consultoria como as necessárias para o combate a violência. Resultado: o índice de crimes violentos caiu 19,3%, os homicídios diminuíram em 36,5% e os roubos de carros encolheram quase pela metade, 45,8%.
Engana-se, entretanto, quem pensa que, apesar dessa eficiência, estamos diante de um homem duro e rude. Nossas conversas sempre foram permeadas de sorrisos e gentilezas. Quando eu o provoquei a falar mal do atual prefeito da cidade, Bill Di Blasio, apontado como o responsável pelo aumento da violência em NYC nos últimos dois anos, desde que aboliu um dos principais programas de Giuliani — mantido e ampliado pelo seu sucessor Bloomberg — ele foi político: “Eu não votei nele…”. O programa, chamado Stop and Frisk, autorizava policiais a parar e revistar suspeitos sem a necessidade de mandados de busca.
Perguntado quem será o vencedor das eleições para presidente nos Estados Unidos no ano que vem, a resposta foi dupla: “Se você quer saber quem eu prefiro, eu prefiro o Jeb” [Bush, irmão do ex-presidente George W. e filho do ex-presidente George H. W., ambos Bush e republicanos]. “Mas quem eu acho que tem maiores chances pelos republicanos é o [Marco] Rubio”, senador de 44 anos que representa o estado da Flórida.
Combinamos de conversar mais quando ele estiver no Brasil, no primeiro semestre de 2016, a convite da FORBES Brasil. Pausa para uma foto, um aperto de mão (firme e forte) e mais um sorriso. “Obrigado senhor prefeito.”
Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil
Texto publicado na edição 37 de FORBES Brasil, de novembro de 2015