China é conhecida como a capital mundial dos produtos falsificados, mas criar um boato envolvendo um ônibus futurístico feito para cortar o trânsito habitual das ruas é levar as coisas para um outro nível.
Desde o primeiro “teste” do Transit Elevated Bus (Ônibus de Trânsito Elevado – TEB) há uma semana, as coisas não vão bem para o projeto ou para as empresas responsáveis pelo meio de transporte.
LEIA MAIS: Cidade indiana aposta em táxis do futuro para driblar trânsito
A mídia estatal chinesa foi rápida ao levantar questões de viabilidade após o teste, com uma notícia do jornal “People’s Daily” apontando que o veículo andou apenas 300 metros e que o projeto não levou em conta condições reais das ruas ou coisas simples, como maneiras de fazer o ônibus virar.
Outra questão que minou a credibilidade do projeto foi a altura do veículo. De acordo com as leis chinesas, apenas veículos com até 4,5 metros de altura podem circular nas ruas, e a altura máxima permitida para os veículos embaixo do ônibus é de 2,1 metros. Como o ônibus do futuro poderia dividiria espaço com os veículos mais altos?
LEIA MAIS: Nasa cria supercâmera para estudar decolagem de foguete
Em resposta, os fabricantes do TEB disseram que o teste dos 300 metros foi feito para “uso interno” e para avaliação de aspectos como frenagem e consumo de energia. A TEB Technology Co. Ltd., empresa encarregada de construir o ônibus, emitiu uma nota dizendo que continuará fazendo testes nas próximas semanas, mas que tudo depende do estado atual das operações das companhias associadas e dos contratos do governo.
Repórteres da Xinhua News Agency descobriram que a TEB Technology ainda não assinou nenhum contrato com o governo da província de Henan, onde havia supostamente estabelecido um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. O local onde esse centro estaria localizado não passa de um campo aberto. Xinhua descobriu que quase todas as parcerias que a TEB Techonology disse que tinha, na verdade, não existem.
LEIA MAIS: Ex-engenheiros do Google querem criar caminhão autônomo
A fundação da empresa também está sob rigorosa investigação. A empresa mãe por trás da TEB é uma investidora chamada Huaying Kailai. De acordo com um relatório da ECNS.cn – o site oficial em inglês da China News Service -, a Huaying Kailai já embolsou bilhões com empréstimos ponto a ponto (P2P).
O mercado de finanças online alternativo estourou recentemente na China, e um lado mais obscuro de suas operações chegou aos ouvidos e conquistou a atenção dos reguladores financeiros do país.
Nos primeiros seis meses de 2016, 264 credores P2P foram fechadas na China, com reguladoras prometendo uma fiscalização mais restrita.
LEIA MAIS: Por que a Mazda acredita que o futuro não está nos carros autônomos
A história também foi noticiada pelo jornal “Global Times”, que lançou no domingo um dossiê sobre o porquê da Huaying Kailai não liberar nenhuma informação sobre o TEB para potenciais investidores antes que eles façam uma reunião com um representante de vendas.
Investidores citados pelos jornais “Global Times” e “Beijing News” disseram que haviam prometido um retorno entre 10% e 20% do capital aplicado. Porém, apesar dos bilhões arrecadados desde 2014, segundo informações do site da Huaying Kailai, eles apenas investiram 200 milhões de yuan (ou US$ 15 milhões) em dois projetos na época.
LEIA MAIS: Designer cria camisetas que detectam poluição
Parece que o sonho de um ônibus capaz de driblar o congestionamento está se tornando cada vez menos provável após essas investigações.