Os Jogos Olímpicos do Rio acabaram há poucos dias. Alguns dizem que eles foram os melhores de todos os tempos. Outros que foram os piores. Apesar de nenhum dos dois lados estarem totalmente certos, é importante entender como é possível o mesmo evento ser avaliado de formas tão diferentes.
O Rio 2016, o Comitê Organizador para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, veio a público no dia seguinte à cerimônia de encerramento declarando vitória. Com base no seu relatório, os Jogos foram um sucesso incontestável.
Eles estão certos em muitos de seus argumentos.
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As arenas foram entregues em tempo e passaram nos exigentes testes de qualidade impostos pelas Federações de cada esporte. Todas as quatro zonas de competições estavam operando sem problemas. Se houve algum, foi imperceptível para os atletas. Levando em conta a sofrível infraestrutura pré-olímpica, só isso já justificaria a comemoração dos organizadores.
A infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro melhorou mais nos últimos cinco anos que nos 50 anteriores. A rede de transportes públicos foi a que mais evoluiu melhorando a vida de milhares de pessoas que se locomovem diariamente entre a Barra da Tijuca e o centro da cidade.
Os atletas tiveram uma experiência inesquecível na Vila Olímpica. Apesar das reclamações australianas, os problemas foram resolvidos em tempo e os mais de dez mil hóspedes não tiveram do que reclamar.
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O esquema de segurança foi visível em toda a cidade. Graças à Guarda Nacional, ao Exército e as Polícias Civil e Militar, a famosa violência urbana simplesmente não foi assunto durante os 21 dias de evento.
Nem o vírus da Zika deu as caras!
Para fechar a história de sucesso carioca, o custo dos Jogos foi bastante razoável comparado com eventos anteriores além de uma parte importante ter sido paga com dinheiro privado. O time da Rio 2016 fez um excelente trabalho em manter as despesas sob controle apesar das crises econômica e política.
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Mas assim como o Presidente George W. Bush foi tendencioso quando declarou “Missão Cumprida” em seu famoso discurso a bordo de um porta-aviões norte-americano falando sobre a invasão no Iraque, o discurso do time da Rio 2016 acabou contando uma versão parcial da história dos Jogos.
Para todos envolvidos com a execução do evento, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram os mais difíceis da história. O Comitê Olímpico Internacional (COI), as Federações Internacionais, patrocinadores, redes de televisão, agências, etc. sofreram como há muito tempo não sofriam para fazer seus trabalhos.
Voluntários não apareceram além de terem sido mal treinados. Durante a primeira semana de competições a maioria deles não tinha a menor ideia de como ajudar os fãs. Os jovens tinham a maior boa vontade mas incapazes de fazer seu trabalho.
As horas que antecederam a cerimônia de abertura foram de sofrimento para milhares de convidados VIPs. Como só havia duas catracas operando, a espera para entrar no Maracanã chegou a levar quase três horas. Alguns CEOs de empresas globais, celebridades de Hollywood e bilionários do mercado financeiro tiveram que enfrentar um tumulto literalmente olímpico para assistir o espetáculo.
Apesar das pesadas multas, as faixas de trânsito olímpicas não foram respeitadas fazendo a viagem às arenas muito mais demorada do que o planejado.
A decoração das arenas limitou-se ao básico. Na maioria delas era quase impossível dizer que se tratava de uma competição olímpica. O dinheiro acabou e os organizadores simplesmente desistiram de colocar as marcas do evento e a sinalização fazendo a tarefa das emissoras de TV muito mais complicada.
A falta de mão de obra levou também ao desabastecimento dos bares e restaurantes. Comprar os bilhetes que valiam bebidas e comida demorava uma eternidade e, depois de enfrentar as filas, os consumidores descobriam que já não havia nada para comer e beber. A Coca-Cola e a Ambev tinham seus produtos prontos, mas não havia pessoas suficiente trabalhando nos bares para estocá-los a tempo.
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Nas áreas de competição, faltou fiscalização para evitar a entrada de produtos concorrentes aos dos patrocinadores. No Engenhão e no Vôlei de Praia por exemplo, muitas marcas que não deveriam estar presentes, estavam.
Para concluir, os assentos vazios. Desta vez não havia como culpar patrocinadores ou a Família Olímpica. Eram ingressos que deveria ter sido vendidos e não foram. Problemas de precificação acontecem em todos as indústrias, mas não nesta dimensão. Alguns eventos foram embaraçosos de tão vazias que as arenas estavam.
O COI fez tudo o que podia ter feito para diminuir os problemas. Muitos funcionários se mudaram para o Rio meses antes do evento e muitas contas que eram do Rio 2016 foram pagas com verbas do COI. Eles resolveram a maioria dos problemas e muitos que não eram de sua responsabilidade. Tudo em nome de um grande evento. Graças ao COI, a Olimpíada funcionou bem e os problemas acabaram invisíveis para o público.
No final, se o evento não foi o melhor, também não foi o pior. A Olimpíada do Rio foi a melhor Olimpíada que o Brasil pode fazer nas atuais circunstâncias. Foi uma grande festa, foi competitiva e foi muito bem organizada para os padrões brasileiros. Mas não foi a melhor de todos os tempos de forma alguma. Passamos raspando, sem destaque. Mas passamos. Isto é o que todos vão se lembrar.
Ricardo Fort (@SportByFort) é executivo de marketing internacional baseado em Atlanta, Geórgia
Ricardo Fort é um colaborador de FORBES Brasil. Sua opinião é pessoal e não reflete a visão editorial de FORBES Brasil.