Cláudio Galeazzi, 76 anos, é a figura mais temida do mercado empresarial brasileiro. Dentro de uma companhia, a pronúncia de seu nome costuma provocar tremores entre empregados e arrepios entre executivos. Fora, sua menção é logo entendida como um atestado de que algo não vai bem.
E com razão: Galeazzi é o maior reestruturador de empresas do Brasil. Fundada em São Paulo em 1995, a Galeazzi & Associados tem no currículo o processo (ou tentativa) de reorganização de mais de uma centena de companhias em alerta vermelho. Entre elas, nomes de pedigree como Pão de Açúcar, Vulcabrás/Azaleia, Lojas Americanas, Artex e BRF.
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Reservado, avesso a holofotes e módico em entrevistas, nesta terça-feira Galeazzi fez uma rara aparição no fórum de gestão da HSM Expo 2016 em São Paulo. Foi a primeira vez em que falou em um evento de grande porte. Mãos de Tesoura, como é chamado no mercado, contou que sua “universidade” foi a sua primeira empresa, que entrou em concordata. Ele se lembra de ter ficado hospitalizado e de ter aprendido a dar injeção em si mesmo por falta de dinheiro para pagar um enfermeiro. Depois de sete anos, conseguiu recuperar a companhia.
Respeitado entre os empresários brasileiros pelo pulso firme que costuma adotar ao assumir o comando de navios quase emborcados, o consultor confessou que não é fácil aterrissar em uma empresa que precisa de reestruturação. Principalmente se, em outro momento, já foi uma companhia bem-sucedida. “Entrar na empresa como salvador é difícil. Depois vira deus, depois vira amigo e quando tudo está superbem de novo, dizem que qualquer um teria feito”, ironiza.
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A fórmula de Galeazzi para reerguer companhias combina eficiência gerencial, enxugamento de custos (e de pessoal) e otimização de lucros – doa a quem doer. Mas ele lembra que existe uma barreira para esta equação funcionar: “vontade real de implementar a mudança”. “Às vezes não existe essa vontade, apenas uma intenção sem a vontade, aí não é possível”.
Abaixo, um pouco da cartilha que Galeazzi revelou no fórum da HSM Expo 2016:
Os erros mais comuns dos empresários
“O mais relevante é o que vive do sucesso do passado. As coisas mudam, e o sucesso do passado não continua sem atualizar”.
Os sintomas de que as coisas não vão bem em uma empresa
“São claros, evidentes: queda nas vendas. aumento dos estoques, no perfil de endividamento, dos custos de despesas. E o pior, é que não se tomam ações. As justificativas são todas inaceitáveis: dólar, chuva, o governo, etc. Justificando em vez de tomar medidas”.
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Quando o fundador é o problema
“O fundador tem toda razão de ser vaidoso, mas tem muita dificuldade em aceitar mudanças. Sá aceita mudanças quando está perdendo, apanhando. E tem uma tendência natural de, depois do turn-around dar certo, voltar ao comportamento ruim anterior”.
Como mudar a cultura de acomodação
“Sendo pouco ortodoxo. A cultura e tradição de uma empresa devem ser respeitadas até certo ponto, até o ponto em que esta cultura não prejudique os negócios. A cultura não prevalece sobre o declínio da empresa”.
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De onde vem a resistência nos processos de transformação
“A maior resistência é normal nos níveis mais altos. Porque vêm agindo desta forma há muito tempo e estão confortáveis, mesmo que os resultados não sejam bons. O medo do desconhecido cria um desconforto enorme”.
Conselho para ser bom empreendedor e com carreira de longo prazo
“A primeira condição é admitir que você não sabe tudo. Depois, que, por mais você ache que é bom, posso te garantir que você não é tão bom. Convém reconhecer suas limitações, para crescer. E saber escutar. Aprendi em reuniões no Japão que o silêncio é mágico”.