Bill Gates é um cara muito esperto, além de ter um grande conhecimento sobre saúde global. Portanto, quando ele dá um aviso sobre uma potencial catástrofe, é uma boa ideia ouvir com atenção. No último sábado (18), durante a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, o homem mais rico do mundo segundo FORBES e co-presidente da Bill e Melinda Gates Foundation afirmou: “Seja por um capricho da natureza ou pela ação de um terrorista, os epidemiologistas afirmam que um patógeno de movimento rápido no ar pode matar mais de 30 milhões de pessoas em menos de um ano. E, segundo eles, há uma probabilidade razoável de o mundo experimentar um surto nos próximos 10 a 15 anos”.
"Há uma probabilidade razoável de o mundo experimentar um surto nos próximos 10 a 15 anos”Lamentavelmente, nossa sociedade não está preparada para uma pandemia. Isso era óbvio em 2009, quando Bruce Lee – professor associado de saúde internacional na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e na Johns Hopkins Carey Business School, diretor executivo na Global Obesity Prevention Center e diretor de pesquisas no International Vaccine Access Center – e Shawn Brown – PhdD e diretor de aplicações de saúde pública na Pittsburgh Supercomputing Center (PSC) – foram incorporados ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) para usar modelos computacionais que tinham como objetivo ajudar na resposta nacional à pandemia de gripe H1N1. As pessoas do HHS estavam trabalhando arduamente para dar uma resposta nacional. Entretanto, a resistência externa que eles encontraram era um problema. Muitos parceiros colocaram seus interesses pessoais ou de negócios na frente da segurança nacional e se mostraram relutantes em compartilhar informações. Felizmente, o vírus não foi tão danoso inicialmente como muitos haviam imaginado e o mundo foi poupado de um grande desastre. A pandemia do H1N1 foi um alerta para a sociedade? Não muito.
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Após a pandemia H1N1 correr seu curso, a atenção foi centrada na persistência da epidemia de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e em outras bactérias resistentes aos antibióticos. Ela levou a grandes mudanças no controle das infecções e no desenvolvimento de antibióticos capazes de combater uma pandemia? Novamente não. Embora alguns avanços tenham sido conquistados, a falta de recursos para o controle de infecções e investigação continua sendo um desafio. O uso excessivo de antibióticos continuou e são poucas as novas drogas em desenvolvimento.
Além disso, entre 2014 e 2016 houve o surto de Ebola na África Ocidental, um vírus que matava metade das pessoas infectadas. De repente, o Ebola passou a ocupar as manchetes dos jornais – apesar de existir há anos – e o número de mortes na Libéria, Serra Leoa e Guiné subiu, aumentando as preocupações de que o patógeno pudesse se espalhar para outros lugares, incluindo os Estados Unidos. A necessidade de uma vacina era urgente e pessoas que nunca tinha ouvido falar no vírus um ano antes davam sugestões ingênuas para eliminar a ameaça. Felizmente para o resto do mundo, a epidemia acabou por desaparecer sem qualquer vacina ou novas tecnologias. Como Gates mencionou durante seu discurso em Munique, “seríamos sábios se considerássemos o turbilhão social e econômico que poderia acontecer se algo como o Ebola atingisse os centros urbanos”.
Mas, no fim, esses surtos mudaram o mundo? Não o suficiente. Depois de tudo isso, a epidemia da Zika, que causa sérias consequências e defeitos de nascimentos, surgiu como a quarta doença infecciosa endêmica a ganhar atenção global na última década. E, apesar de ser a quarta vez que o mundo enfrenta um problema de saúde sério como este, a reação à epidemia não foi exatamente como deveria ser.
Bill Gates lembrou, na conferência na Alemanha, que menos de 100 anos atrás, mais precisamente em 1918, uma versão particularmente virulenta e mortal da gripe matou entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas. Em seu discurso, ele enfatizou: “Você pode estar se perguntando o quão real são esses cenários catastróficos. O fato de uma pandemia mundial mortal não ter acontecido recentemente não quer dizer que ela não ocorrerá no futuro”.
Em outras palavras, a sorte que tivemos em relação às epidemias nas últimas décadas não pode criar, na sociedade, uma falsa confiança. A complacência se tornou uma dos nossos maiores inimigos, nos fazendo ignorar problemas e vulnerabilidades e nos tornando mais vulneráveis à “surpresas”. Ignorar esses sinais vai manter a população desprotegida de qualquer tipo de doença epidêmica infecciosa.
E qual será o próximo grande patógeno? Pode ser uma nova gripe, algo como o SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), Ebola ou Zika, uma bactéria ou algum outro problema do qual ainda nem sequer ouvimos falar. Como disse Gates, as coisas que precisamos fazer para nos proteger contra uma pandemia de ocorrência natural são praticamente as mesmas que precisamos para nos preparar para um ataque biológico intencional. “A preparação para uma pandemia global é tão importante quanto a dissuasão nuclear e o combate à catástrofe climática. Inovação, cooperação e planejamentos cuidadosos podem atenuar dramaticamente os riscos de cada uma dessas ameaças.”
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Bill Gates está certo. Ele diz, frequentemente, que é um otimista. Portanto, seu aviso não é pessimista, e sim realista. Não se trata de ter dúvidas sobre o surgimento de uma grande epidemia mortal, mas sim de quando ela vai ocorrer. Os seres humanos não são invencíveis e não são os únicos organismos na Terra. A questão é: o que é preciso para que todos acordem, prestem atenção, comecem a trabalhar juntos e realmente façam o que é necessário?