Uma missão orbital tripulada para Vênus pode ser a melhor maneira de garantir uma viagem de sucesso, muito mais longa e ambiciosa, para Marte.
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A entrada e saída bem-sucedida da órbita de Vênus permitiria que a NASA testasse seu SLS (Space Launch System, um projeto de veículo de lançamento descartável) em um ambiente planetário novo bem antes de uma missão real para o Planeta Vermelho.
“Eu acho que há amplas oportunidades para montar missões tripuladas e não tripuladas [para Vênus] que iriam beneficiar nossa habilidade de conduzir outras operações mais aprofundadas no espaço”, afirma Jeff Matthews, diretor de Estratégia e Pesquisa de Risco no Space Frontier FoundationUm estudo interno de 2015 feito pela NASA Langley Research Center considerou uma missão tripulada para marte de 440 dias para implantar e inflar um balão habitável de alta altitude. A ideia é que a tripulação passe 30 dias na atmosfera de Vênus em uma altitude de 50 quilômetros da sua superfície.
Apenas para efeito de comparação, a maioria das missões orbitais de ida e volta para Marte – ou até para uma de suas luas – costumavam durar aproximadamente 700 dias terrestres ou mais. “Há mais oportunidades de lançar uma missão direta para Vênus do que para Marte, pois as janelas de missões para Vênus ocorrem, aproximadamente, a cada um ano e meio, enquanto para Marte esse intervalo é de dois anos”, afirma Jeff Matthews, diretor de Estratégia e Pesquisa de Risco na ONG Space Frontier Foundation. Além disso, ele diz que existem até opções de missões em Marte que envolvem um sobrevôo a Vênus antes de seguir para o Planeta Vermelho.
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Vênus continua a ser crucial para entender a evolução de zonas habitáveis ao redor da pletora crescente de estrelas conhecidas por abrigar planetas que pertence a um sistema planetário diferente do nosso. Situada na borda interna da zona habitável do nosso sistema solar, a densa atmosfera de Vênus tem uma superfície infernal. Com a pressão da superfície sendo 92 vezes maior do que a da Terra, temperaturas quentes o suficiente para derreter a maioria dos eletrônicos e sem água, dificilmente este planeta seria uma primeira opção para se estabelecer e viver.
“Como o planeta mais próximo e mais similar da Terra, entender Vênus é muito importante para entender o sistema solar e a natureza dos planetas parecidos com o nosso”, afirma Geoffrey Landis, um físico do NASA Glenn Research Center. “Mas ele tem sido muito pouco explorado em comparação com seu primo menor, Marte.”
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Apesar disso, está em andamento um processo de desenvolvimento de materiais e eletrônicos capazes de aguentar altas temperaturas e, assim, sobreviver na superfície de Vênus, afirma Landis, que destaca que os astronautas na órbita do planeta poderiam usar rovers de superfície com telerobótica em tempo real para explorar “virtualmente” a superfície venusiana.
Mesmo assim, a ideia por trás da primeira dessas missões orbitais seria combinar observações científicas “in loco” com um teste completo de capacidades técnicas do SLS em um ambiente interplanetário realmente desafiador. “Com uma duração menor de viagem, eu acredito que haja amplas oportunidades para montar missões tripuladas e não tripuladas [para Vênus] que iriam beneficiar nossa habilidade de conduzir outras operações mais aprofundadas no espaço”, diz Matthews.
Veja um exemplo de roteiro:
– 2020: missão orbital não tripulada para a Lua usando o SLS, da NASA;
– 2023: missão tripulada para Vênus usando a espaçonave Orion e a mesma arquitetura do SLS;
– 2027: missão orbital não tripulada para Marte ou Fobos, usando um SLS modificado e a arquitetura da Orion;
– 2031: missão tripulada para Marte ou Fobos usando o SLS e a Orion.
Tal missão provavelmente precisaria envolver uma parceria público-privada entre a NASA e seus parceiros internacionais. “Para empresas privadas como a SpaceX e startups de sensoriamento remoto, poderia haver um forte apelo para operações de demonstração de tecnologias durante uma grande missão espacial para Vênus”, afirma Matthews.
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Mesmo uma cápsula SpaceX Dragon, ou a cápsula Orion, em uma viagem ao redor de Vênus, diz Matthews, coletaria dados valiosos sobre os desafios gerados pela radiação cósmica. Uma missão tripulada para Vênus, afirma o especialista, poderia facilmente estabelecer uma conexão entre uma missão lunar e uma missão para uma das luas de Marte.