Uma broca automatizada controlada por computador, similar às utilizadas para fabricar partes de automóveis, pode exercer um papel crucial nos procedimentos cirúrgicos do futuro. A nova máquina é capaz de realizar um tipo complexo de cirurgia craniana 50 vezes mais rápido do que os procedimentos padrões.
O equipamento, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Utah, produz cortes rápidos, limpos e seguros, reduzindo o tempo que a ferida permanece aberta e o paciente anestesiado, o que diminui a incidência de infecção, de erros humanos e o preço das cirurgias. As descobertas foram divulgadas online na edição do último dia 1º de maio da publicação científica “Neurosurgical Focus”.
A novidade pode reduzir a duração da cirurgia translabiríntica de duas horas de perfuração manual por um cirurgião experiente para dois minutos e meioPara realizar cirurgias complexas, especialmente as cranianas, os cirurgiões normalmente fazem aberturas delicadas com brocas manuais, o que faz com que o procedimento dure horas. “É como um processo arqueológico”, explica William Couldwell, neurocirurgião da Universidade de Utah. “Nós precisamos perfurar o osso lentamente para evitar estruturas sensíveis.”
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O médico percebeu a necessidade de um dispositivo que pudesse atenuar este fardo e tornar o processo mais eficiente. “Nós sabíamos que a tecnologia já estava disponível no mundo das máquinas, mas ninguém a havia aplicado na área médica”, conta. Couldwell liderou um time interdisciplinar na Universidade para trazer a peça ao mundo real.
“Minha especialidade é lidar com a remoção rápida de metal, então uma broca neurocirúrgica era um conceito novo para mim”, explicou A. K. Balaji, professor associado da área de Engenharia Mecânica da universidade. “Eu estava interessado em desenvolver uma broca de baixo custo que pudesse fazer uma grande parte do trabalho duro e reduzir o cansaço do cirurgião.” O time criou a broca do zero para atender às necessidades da unidade neurocirúrgica, além de desenvolver um software que estabelece um caminho seguro para os cortes.
Primeiro, o paciente passa por tomografias computadorizadas para observar os ossos e identificar a localização exata de estruturas sensíveis, como nervos, veias e artérias principais que devem ser evitadas. Os cirurgiões utilizam essas informações para programar o caminho de corte que a broca vai fazer. “O software permite que o cirurgião escolha um trajeto do ponto A ao ponto B, como no Google Maps”, explica Balaji. Além disso, o cirurgião pode programar barreiras de segurança ao longo do caminho de corte dentro de uma área 1 milímetro de distância de estruturas sensíveis. “Pense nas barreiras como uma zona de construção. Você desacelera para passar por ela com segurança.”
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Couldwell usou o procedimento em uma abertura translabiríntica, uma forma de corte particularmente complexa que contorna a orelha. “O acesso é pelo osso temporal, que é duro e tem ângulos estranhos”, diz Balaji. De acordo com Couldwell, este corte, em particular, requer muita experiência e habilidade. “Por isso, achamos que seria a prova perfeita para demonstrar a precisão da tecnologia”, disse ele.
A cirurgia translabiríntica é realizada milhares de vezes ao ano para expor tumores de crescimento lento e benignos que se formam ao redor dos nervos auditivos. O corte é difícil e deve evitar muitas partes sensíveis, como nervos faciais e o seio venoso, uma veia grande que drena o sangue do cérebro. Um dos riscos da cirurgia é a perda do movimento facial.
O dispositivo tem também um interruptor de desligamento automático para emergências. Durante a cirurgia, o nervo facial é monitorado para detectar qualquer sinal de irritação. “Se a broca chegar perto demais do nervo facial e alguma irritação for monitorada, ela é desligada automaticamente”, explica Couldwell.
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A novidade pode reduzir a duração desta complexa cirurgia de duas horas de perfuração manual por um cirurgião experiente para dois minutos e meio. Uma cirurgia mais rápida diminui a chance de infecção e melhora a recuperação pós-operatória. Tem também potencial para baixar o custo da cirurgia significativamente, porque reduz horas do tempo na sala de cirurgia.
Couldwell enfatiza que a tecnologia pode ser aplicada a muitos outros procedimentos cirúrgicos. “A broca pode ser usada em uma variedade de cirurgias”, diz. A aplicação versátil realça outro fator que levou Balaji ao projeto. “Eu fui motivado pelo fato de que essa tecnologia poderia democratizar a saúde ao nivelar todos os cirurgiões, de modo que mais pessoas possam receber tratamento de qualidade”, diz. Couldwell e seu time estão examinando oportunidades para comercializar a broca para garantir que esteja disponível para outros procedimentos cirúrgicos.