Imagine a cena: 15 de julho de 2018. Moscou, Rússia. Luzhniki Stadium. 71 mil pessoas assistindo ao vivo o Brasil ser hexacampeão mundial derrotando a Argentina. Depois do apito final, as medalhas de prata são entregues para os hermanos e as de ouro para os jogadores brasileiros.
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Finalmente chegou a hora que esperávamos desde 2002. O presidente da FIFA Gianni Infantino sobe ao palco montado no centro do gramado carregando o troféu mais desejado do mundo e, sob os olhares de nossos campeões, o entrega nas mão de… Marco Polo Del Nero, o presidente da CBF.
Achou o final decepcionante? Bem-vindo ao mundo das ligas americanas, onde quem é quem paga a conta. Nos Estados Unidos, quando o time é campeão, quem recebe o troféu e discursa primeiro é o dono do time, e não o capitão.
Em fevereiro deste ano, quando o Tom Brady liderou o New England Patriots em uma virada histórica contra o Atlanta Falcons no Superbowl, garantindo seu quinto título da NFL, ele não levou troféu algum. Robert Kraft, o proprietário do time, foi quem subiu primeiro no pódio para receber a taça Vince Lombardi das mãos do Presidente da NFL, Roger Goodell.
A história é parecida no basquete. Quando o Golden State Warriors ganhou o título da NBA há algumas semanas, o segundo em três anos, os torcedores e celebridades que estavam na Oracle Arena em Oakland, na Califórnia, assistiram e aplaudiram Adam Silver, o presidente da NBA, entregar o troféu para Joe Lacob, o dono do time.
Os Patriots de Robert Kraft e os Warrriors de Joe Jacob valem R$ 11,3 e R$ 4,3 bilhões respectivamente, de acordo com FORBES norte-americana. Investindo assim, eles merecem levantar todas as taças do mundo.
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Nos Estados Unidos, não importa se você é o quarterback mais famoso da história do futebol, se é casado com a supermodelo Gisele Bündchen, se foi o cestinha da liga ou eleito o jogador mais valioso da temporada. Aqui “money talks”.
As ligas do esporte norte-americano são confrarias de bilionários que trabalham juntos para aumentar o valor coletivo de seus investimentos. Apesar de interesses pessoais em suas franquias, como são chamados os times, eles entendem bem que ganham mais quando toda a liga cresce.
Diferentemente do futebol europeu, onde os mesmos times ganham suas ligas ano após ano, nos Estados Unidos o objetivo é nivelar os times para aumentar a competitividade do esporte. Só assim eles garantem a audiência nas transmissões de TV e o interesse dos torcedores.
Duas provas do pensamento norte-americano são o “draft” e a inexistência de rebaixamento.
A primeira, é o processo de contratação dos novos jogadores saídos das faculdades. O “draft” permite que os piores times escolham os melhores jogadores. Ele é estruturado com propósito de equilibrar o nível técnico de todos os times.
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Falar em rebaixamento então é um crime. No esporte norte-americano não há perdedores. Assim como os lobos em alcateias se organizam para proteger os mais fracos e evitar que o grupo diminua e se enfraqueça, nas ligas norte-americanas os mais fortes se unem aos mais fracos e não deixam que ninguém caia.
Concordando ou não com o modelo norte-americano do esporte, não dá para negar que ele funciona muito bem. Assim é no basquete, no beisebol, no futebol americano e no hóquei no gelo. Nada supera as ligas norte-americanas. Elas têm a melhor organização, os melhores estádios, os melhores jogadores e o maior faturamento no mundo.
E tudo isso graças aos investimentos dos proprietários dos times. Por isso, eles merecem mesmo receber muitos troféus todos os anos além do agradecimento dos atletas e fãs do esporte.
Obrigado patrão.
Ricardo Fort (@SportByFort) é executivo de marketing internacional baseado em Atlanta, Geórgia. Sua opinião é pessoal e não reflete a visão editorial de FORBES Brasil.