Procurar por um sinal, mínimo que seja, da existência de uma civilização alienígena remota é uma coisa. Buscar trabalhos em escalas galácticas é outra. Porém, uma série de astrônomos tem esperança de que, se civilizações extraterrestres avançadas pudessem sobreviver através do tempo cósmico, elas poderiam projetar galáxias inteiras detectáveis no espectro eletromagnético.
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“Se uma civilização projetou metade de uma galáxia, uma fração da energia utilizada deveria brilhar no espectro infravermelho”, diz James Annis, astrofísico do laboratório espacial norte-americano Fermilab. Annis e seus colegas conduziram a primeira pesquisa por civilizações KIII em 1999.
Segundo cientista, a energia coletada poderia ser usada para abastecer computação em escalas inimagináveisAs estrelas são brilhantes no espectro óptico, e qualquer civilização que utilize ou projete estrelas eliminaria a sua luz ou modificaria sua aparência natural, diz Annis. “Nós acreditamos que a maioria das galáxias visíveis são naturais”, diz o cientista. “Então, procuramos aquelas que são diferentes da maioria. Normalmente isso é facilmente explicado como uma fusão de galáxias em curso.”
Em 1964, o físico soviético Nicolai Kardashev apresentou, pela primeira vez, a ideia de que o nível de avanço tecnológico de uma civilização extraterrestre poderia ser dividido em três: de KI a KIII. Há algumas décadas, nós iríamos nos qualificar como uma civilização KI, ou seja, um povo capaz de aproveitar toda a sua radiação solar vinda das estrelas. Uma civilização KII estaria apta a usar diretamente a energia de sua estrela-mãe, normalmente via um mecanismo como uma esfera de Dyson.
Estas esferas artificiais hipotéticas foram apresentadas pelo físico Freeman Dyson como uma maneira de envolver e capturar completamente toda a energia de uma estrela. Assim, tais esferas seriam majoritariamente detectáveis por meio do vazamento de sua sobra de calor no espectro infravermelho. Uma civilização KIII seria capaz de aproveitar diretamente toda essa energia em sua galáxia ou galáxias-sede. Elas podem possivelmente usar bilhões das tais esferas Dyson – ou alguma outra maneira de aproveitar a energia de suas galáxias que nós sequer imaginamos.
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Se a luz estelar radiada de toda a galáxia for coletada, no espectro óptico isso será anormalmente escuro, mas emitirá uma sobra de energia no infravermelho térmico, segundo Brian Lacki, um astrônomo do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.
Em um estudo recente, Lacki usou dados da nave espacial Planck, da Agência Espacial Europeia, para procurar fontes de microondas com um espectro de sobras de calor. Lacki conta que calculou que uma estrutura KIII muito fria que envolvesse uma grande galáxia espiral como a Via Láctea seria detectável a cerca de 2 bilhões de anos luz.
“Se uma galáxia tivesse muitas de suas estrelas [cercadas por] estruturas gigantes, você esperaria que a luz parecesse mais fraca”, diz Jason Wright, um astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia. “Em comprimentos de onda infravermelha médios, nós esperaríamos ver toda essa luz bloqueada.”
Há alguns anos, Wright e seus colegas procuraram excesso de emissão termal de 100.000 galáxias no catálogo de busca do telescópio Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE). “Nós não encontramos nada, mas nossa sensibilidade estava muito baixa. Esperamos fazer mais buscas no futuro”, disse.
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Em uma outra pesquisa, Lacki também procurou estruturas muito frias, que encobririam galáxias inteiras. É possível que os alienígenas cobrissem galáxia após galáxia nestas estruturas, diz Lacki. Nós veríamos, então, uma bolha de centenas de milhões de anos luz, diz ele, onde todas as galáxias seriam invisíveis no óptico, mas brilhariam nos espectros infravermelhos ou de microondas. “Nós não vemos tais bolhas, então elas devem ser muito, muito raras”, disse.
Por outro lado, o especialista diz que se os alienígenas escolhessem simplesmente rearranjar as estrelas de suas galáxias em vez de envolvê-las, tais galáxias teriam formatos bizarros. No entanto, estes projetos de macro engenharia poderiam também envolver o rearranjo das estrelas em uma determinada galáxia.
O Objeto de Hoag, classificado como uma peculiar galáxia em anel a cerca de 600 milhões de anos luz de distância na constelação de Serpens, foi proposto por alguns como sendo um potencial projeto de macro engenharia. Porém, Annis diz que ele é, provavelmente, uma fusão de duas galáxias.
O projeto Galaxy Zoo, diz Lacki, classificou quase um milhão de galáxias, das quais todas pareciam ser naturais.
É difícil entender o que motivaria tais civilizações a conduzir o que, segundo a estimativa de Annis, seria um projeto de 100 milhões de anos. Mas Lacki diz que elas podem utilizar a energia coletada para abastecer computação em escalas inimagináveis. Ou até para experimentos de física de partículas hiper avançados.
Para experimentar com a física em sua escala mais fundamental (Planck), Lacki diz que é necessário construir um acelerador de partículas tão brilhante quanto uma galáxia, usando energias no nível yotta elétron-volt (YeV). Isto é cerca de 100 bilhões de vezes a energia giga elétron-volt (GeV) arquivada no Grande Colisor de Hádrons do CERN, perto de Genebra, que é atualmente o acelerador de partículas de maior energia da humanidade. No entanto, em um artigo recente publicado no portal de astrofísica “ArXiv”, Lacki foi capaz de demonstrar que estes aceleradores galácticos são raros.
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Para aprofundar a busca por tal tecnologia, seria necessária uma maior extração de dados de uma variedade de pesquisas astronômicas, e buscas por anomalias e oscilações, além de fontes de curto prazo, diz Dan Werthimer, um astrônomo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele pontua que a ideia é procurar falhas em dados de pesquisas existentes e futuras.
Após vários trilhões de anos, diz Lacki, pode não haver escolha senão tornar-se uma civilização KIII. Como a expansão do universo continuará a acelerar, o cientista diz que a maioria das galáxias perderá contato umas com as outras e o gás entre elas vai se diluir.
Assim, se uma sociedade galáctica quiser se preparar para o futuro, diz Lacki, ela pode construir uma reserva de gás galáctico molecular. Desta forma, a civilização poderia garantir que sua galáxia tivesse um estoque de estrelas estável e amplo que continuaria a gerar metais e outros elementos que não podem ser feitos artificialmente. “As sociedades que aprenderem a trabalhar em escalas galácticas podem ser as únicas daqui a trilhões de anos”, diz Lacki.