Pesquisadores brasileiros planejam desenvolver novos métodos para o gerenciamento inteligente da água na irrigação de precisão a partir da internet das coisas – tecnologia que tem como meta conectar, à web, os dispositivos eletrônicos que usamos diariamente. O projeto, que busca criar uma plataforma inteligente para concretizar a ideia, é batizado de Smart Water Management Platform (SWAMP) e foi aprovado na 4ª Chamada Coordenada Brasil-União Europeia, destinada à pesquisa em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
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O projeto concorreu com outros 50 apresentados por mais de 300 instituições ao Programa Horizonte 2020 (H 2020), maior programa de pesquisa e inovação da União Europeia, com cerca de € 80 bilhões em financiamento para o período entre 2014 e 2020. Um dos objetivos da iniciativa proposta é a implementação de um sistema de sensoriamento e controle baseado em internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) para gerir o uso da água em dois projetos-piloto nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, além de outros dois na Europa.
“É urgente resolvermos a complexa equação de alta demanda por produção de alimentos e a crescente escassez de água”Uma unidade-piloto de irrigação inteligente será instalada na região do Matopiba, considerada a grande fronteira agrícola nacional, que compreende o cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e é responsável por grande parte da produção brasileira de grãos e fibras. O outro experimento vai contemplar pesquisas em viniculturas e está programado para ser instalado na Vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, interior paulista.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) ficará responsável pela implementação e avaliação das duas unidades-piloto contempladas pelo projeto. Além disso, vai colaborar nas pesquisas para superar, juntamente com os pesquisadores brasileiros e europeus, os desafios da instrumentação e construção da plataforma computacional para coleta, integração, armazenamento, processamento e visualização de dados oriundos dos experimentos.
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A SWAMP tem prazo de execução de três anos, com início em dezembro de 2017, e arrecadou recursos da ordem de € 1,5 milhão (cerca de R$ 5,5 milhões) para as instituições brasileiras. À Embrapa serão destinados aproximadamente R$ 1,2 milhão, 24% do total. Além deste montante, a entidade deverá receber o aporte de mais R$ 1 milhão para o compartilhamento de equipamentos e serviços.
A plataforma será integrada com ferramentas e aplicativos de gestão voltados para o uso racional da água. A ideia é fornecer ao agricultor um mapa diário dinâmico de recomendação, que se baseia em um conjunto de informações em tempo real do clima, solo e das condições de cultivo, além dos níveis e qualidade dos sistemas de fornecimento e da distribuição de água no campo, todos obtidos pela plataforma.
O SWAMP é liderado pelo professor Carlos Alberto Kamienski, da Universidade Federal do ABC (UFABC), com a participação de 11 instituições.
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Os pesquisadores Marcos Cezar Visoli, da Embrapa Informática Agropecuária (SP), André Torre Neto, Ednaldo José Ferreira e Luis Henrique Bassoi, da Embrapa Instrumentação (SP), integram a equipe. “Será uma excelente oportunidade para avançar no desenvolvimento e uso de plataformas baseadas em nuvem para armazenamento e oferta de serviços”, afirma Visoli. Torre Neto ressalta a importância do trabalho para a visibilidade e participação da pesquisa nacional no cenário mundial. “Participar do H 2020 possibilita ampliar a inserção da ciência brasileira no contexto internacional e, ao mesmo tempo, contribuir com o desenvolvimento do país, levando tecnologia de ponta para beneficiar a agricultura”, diz o pesquisador.
Para o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João de Mendonça Naime, a aprovação do projeto em parceria com a União Europeia evidencia a importância do tema e a excelência dos pesquisadores brasileiros. “Cientistas da Embrapa contribuirão com suas competências em fisiologia vegetal, tecnologias de irrigação e tratamento de grandes volumes de dados (big data). Trata-se de um investimento altamente estratégico para o Brasil, já que é urgente resolvermos a complexa equação de alta demanda por produção de alimentos e a crescente escassez de água”, conclui.