O assunto da semana foi a transferência nababesca de Neymar para o Paris Saint-Germain. Enquanto a imprensa esportiva debate se a mudança será boa para a sua carreira, se ele terá o destaque que merece em Paris e se conseguirá ganhar a Liga dos Campeões, o resto do mundo fala mesmo do valor obsceno pago pelo jogador: € 222 milhões.
As teorias de conspiração estão por toda parte. O Qatar passa por momentos difíceis com todos os seus vizinhos. Suas fronteiras estão fechadas e o mundo todo critica suas leis trabalhistas. Muitos acreditam que os investimentos no esporte servem para provocar seus vizinhos ricos de Dubai.
Mas avaliar esta transação olhando só para o curto prazo é um erro. A compra de Neymar é só mais um passo do Qatar para tornar-se uma referência do esporte mundial. A sua presença no esporte impressiona não só pelo volume dos investimentos mas também por sua diversidade.
O mais visível de todos os investimentos no esporte é a Copa do Mundo da FIFA de 2022. A África do Sul investiu US$ 4 bilhões em 2010. O Brasil, recordista em investimentos, gastou US$ 11 bilhões. Mesmo que o Qatar economize muito, não deverá gastar menos que US$ 5 bilhões. Isso sem contar toda a infraestrutura de hotéis, transporte e turismo.
A iniciativa privada também investe pesado no futebol em diversas áreas. Há poucos meses, a Qatar Airways tornou-se patrocinadora da FIFA a um custo estimado de US$ 600 milhões até 2022. Além disso, a “Qatar Foundation” e a própria Qatar Airways já investiram no patrocínio dos uniformes do Barcelona desde 2010, um custo estimado de aproximadamente US$ 300 milhões.
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O Paris Saint-Germain foi comprado pelo fundo de investimento privado “Qatar Sports Investments” em 2011. Nos últimos anos, os novos proprietários investiram pesado para colocar o PSG no topo do futebol mundial. Somando os investimentos em jogadores, incluindo Neymar, o clube já investiu quase US$ 1 bilhão.
Os investimentos não param no futebol. A lista dos outros esportes é longa. Só em 2016, o Qatar foi sede de mais de 30 eventos regionais e mundiais em diversos esportes, categorias e idades.
No golfe, por exemplo, o Qatar Masters atrai alguns dos maiores nomes do esporte. O evento, parte do circuito europeu, acontece no Doha Golf Club desde 1998.
O mesmo acontece no tênis. Tanto o ATP (o circuito masculino de tênis profissional) quanto o WTA (seu equivalente feminino), tem eventos anuais no supermoderno “Khalifa International Tennis Complex”. Doha também sediou as finais do WTA em 2008 e 2010.
No atletismo, Doha tem sido uma parada constante desde 1997. Alguns dos principais eventos do calendário mundial acontecem por lá. Em 2010, Doha também foi sede do Campeonato Mundial Indoor.
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A lista não para por aí. Ainda há eventos de motovelocidade, handebol, natação, etc.
Chegar a resultados assim requer determinação, estratégia e muito dinheiro. Tudo indica que o Qatar tem todos os ingredientes de sobra.
O país investiu em arenas e estádios, na contratação dos eventos e nas suas premiações, na estrutura administrativa do esporte e em muitas outras áreas. Com ou sem Neymar, o Qatar é hoje um dos países mais ativos no esporte mundial.
Antes de criticar quanto o PSG gastou com a contratação do nosso camisa 10, é importante avaliar este investimento neste contexto histórico. Nas duas últimas décadas, foram investidos mais de US$ 20 bilhões no esporte.
Os US$ 222 milhões pagos pelo nosso camisa dez representam aproximadamente 1% de tudo o que foi gasto. Apesar de cara para um jogador de futebol, é apenas uma pequena gota no oceano de petrodólares investidos.
Pensando assim, até que ele não foi tão caro assim.
Ricardo Fort (@SportByFort) é executivo de marketing internacional baseado em Atlanta, Geórgia. Sua opinião é pessoal e não reflete a visão editorial de FORBES Brasil.