Existe uma grande diferença entre quem fez e faz fortuna dentro das regras do jogo e da lei e
quem enriquece de forma assumidamente criminosa. Há poucos dias, FORBES Brasil promoveu um café da manhã em torno dos Melhores CEOs do Brasil, tema de nossa edição de julho. Na plateia, um seleto grupo formado por acionistas, C-suite, controladores e investidores de alguns dos mais importantes grupos do país – empresários com “E” maiúsculo, merecedores de todos os louros e de figurarem na prestigiosa lista. Independentemente da indústria, do número de funcionários ou da receita, uma coisa era comum a todos eles: todos gozam da mais ilibada reputação.
A edição de FORBES que está nas bancas traz mais uma exclusiva lista – talvez a mais famosa desta icônica marca, que faz 100 anos em 2017, e pela qual ela é mundialmente cultuada e respeitada: a Lista dos Bilionários. Conforme se aproximava a data de sua publicação, um incômodo crescia em mim: como encarar o fato de que mais de uma dezena daqueles nomes enfrentam acusações de malfeitos e estão, foram ou talvez sejam presos a qualquer momento? Esse incômodo tomou maiores proporções quando um cidadão admitia, diante das câmeras e sem grande constrangimento, um sem-fim de crimes que o ajudaram a chegar aonde chegou. O país via a descoberto aquilo que se comentava nos bastidores sobre alguns dos nossos falsos “heróis nacionais”.
Não que eu ache o exercício da economia de mercado um poço de bondade. Não, o capitalismo não é uma instituição de caridade. Em algum momento, alguém vai lançar mão de uma jogada desleal para aumentar seu lucro ou tirar um concorrente do caminho. Mas meu dilema era publicar o nome da grande maioria de mãos limpas ao lado daqueles que estão sob a espada da Justiça, respondendo por práticas criminosas. Em consulta ao time de editores que produz a lista de bilionários da FORBES mundial, nos EUA, eles foram taxativos: FORBES publica as fortunas – inclusive de quem está preso, como um sul-coreano que está na cadeia há dois anos – pelo fato de que é impossível distinguir quanto daquela fortuna veio de práticas ilícitas. A fortuna existe e está lá, visível aos olhos atentos dos jornalistas. FORBES reporta os números. Ponto.
Nem tanto. Talvez num país onde a população lida bem com a riqueza alheia e onde as leis valem para todos, como lá, essa postura seja mais facilmente digerida. Mas no Brasil, onde o capital é visto como pecado e a riqueza é considerada por muitos como um passe livre para a impunidade, é melhor separar o joio do trigo – até porque, ao contrário de um espertalhão político que insuflou o famoso “nós contra eles”, sabemos que há maçãs boas e maçãs podres em qualquer lado do espectro político e econômico deste imenso país. Por isso, para cumprir nosso dever jornalístico, a partir desta edição dos Bilionários Brasileiros, os nomes que estiverem sob investigação de corrupção, formação de quadrilha, evasão de divisas e outro crime de lesa-pátria terão essa indicação nos seus respectivos verbetes.
E por último, mas não menos importante: conversando com o juiz Sérgio Moro, um dos principais responsáveis pela mudança no establishment até então vigente no Brasil, onde ricos e poderosos de fato não iam para a cadeia, ele confessou-me que uma das coisas que mais o incomodam é quando, nas oitivas, alguém se refere ao condenado como “doutor”. Para ele, “doutor” é tratamento de merecimento acadêmico: “É para médicos e magistrados”, resumiu. (Obrigado, doutor Moro, o Brasil deve muito a seu trabalho e determinação.)
A mesma indignação sinto eu quando vejo órgãos de imprensa referindo-se a Joesley Batista como empresário. É um insulto aos milhões de empresários brasileiros que acordam todos os dias e enfrentam a via-crúcis que é ser um empreendedor no Brasil. São homens e mulheres sérios que, como eu, pagam seus impostos, geram emprego, disputam mercado sem gozar das benesses de um Estado corrupto e que sofrem as consequências de uma crise que foi agravada – veja só – por esse “empresário”, um criminoso confesso, com seu covarde estratagema de delação contra a maior autoridade do país para se livrar da cadeia.
Feitos o desabafo e os esclarecimentos, reforço aqui meus sinceros parabéns a todos os EMPRESÁRIOS sérios que fazem parte de nossa lista – e aos muitos outros que não estão nela, mas que também são merecedores de todos os nossos elogios. O Brasil deve muito a vocês. Sucesso, sempre!
*Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil