Depois de anos de pressão e pesquisas de laboratório sobre os usos médicos do metilenodioximetanfetamina, ou MDMA, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) decidiu seguir em frente.
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Na semana passada, a organização de pesquisa Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) anunciou que a FDA garantiu designação de “terapia de avanço” à droga para o tratamento de estresse pós-traumático. Popularmente conhecida como uma substância recreativa e como o principal ingrediente do ecstasy, o MDMA mostrou oferecer alívio significativo para quem sofre de estresse pós-traumático em testes de uso clínico conduzidos nos últimos anos, o que levou à decisão da agência.
Nos testes Phase 2, 61% dos 107 participantes não eram mais considerados pacientes com estresse pós-traumático depois de três sessões de psicoterapia assistida por MDMAA MAPS, que tem defendido e financiado a pesquisa do MDMA por quase 30 anos, explicou à imprensa que a designação da agência federal de terapia de avanço indica que ela “concordou que esse tratamento pode ter uma vantagem significativa e maior conformidade em relação a outras medicações disponíveis para o estresse pós-traumático”. Isso também mostra a intenção da FDA de ajudar a desenvolver o tratamento, considerado mais fácil do que outras terapias candidatas.
De acordo com a MAPS, a organização sem fins lucrativos alcançou o acordo com a FDA para a elaboração de dois testes “Phase 3” (“fase 3”, em tradução livre) para a psicoterapia assistida por MDMA em pacientes com estresse pós-traumático severo no futuro próximo.
“Alcançar o acordo com a FDA para o nosso programa Phase 3 e ter a oportunidade de trabalhar de perto com a agência eram prioridades para o nosso time”, disse Amy Emerson, diretora executiva da MAPS Public Benefit Corporation. “Nossos dados da Phase 2 foram extremamente promissores e estamos prontos para avançar rapidamente. Com a designação de terapia de avanço, nós podemos agora seguir com ainda mais eficiência pelo processo de desenvolvimento em colaboração com a FDA para completar a Phase 3.”
A capacidade da droga de ajudar pacientes nesta condição com os efeitos prolongados do trauma é atribuída, em grande parte, a sua capacidade de produzir sentimentos de euforia, empatia e sensações físicas e emocionais aumentadas – em outras palavras, oferecer a cérebros seriamente estressados o tipo de escape neuroquímico que gera um pouco de paz para a mente. Esses efeitos também parecem motivar usuários recreativos mas, diferente das doses na versão de sábado à noite, o tratamento oficial envolve três administrações da substância combinadas com técnicas estabelecidas de psicoterapia.
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“Pela primeira vez na história, a psicoterapia assistida por drogas psicodélicas será avaliada em testes Phase 3 para possível uso prescrito. E a iniciativa com MDMA para estresse pós-traumático lidera o caminho. Agora que temos um acordo com a FDA, estamos prontos para começar as negociações com a European Medicines Agency”, declarou Rick Doblin, fundador e diretor executivo da MAPS.
Nos testes Phase 2 efetuados pela associação, 61% dos 107 participantes não eram mais considerados pacientes com estresse pós-traumático depois de três sessões de psicoterapia assistida por MDMA, de acordo com o grupo. Um ano depois, esse número cresceu para 68%, sendo os participantes pessoas que sofriam de estresse pós-traumático crônico e resistente ao tratamento há, em média, 17,8 anos.
Os testes aleatórios e controlados por placebo da Phase 3 vão avaliar a eficiência e a segurança da psicoterapia assistida por MDMA em um grupo de 200 a 300 participantes com estresse pós-traumático acima dos 18 anos nos Estados Unidos, Canadá e Israel. Conforme reportado pela publicação científica “Science”, eles poderão começar em breve e terminar em 2021 se a MAPS for capaz de levantar os estimados US$ 25 milhões necessários para conduzi-los.
“Uma droga ilegal das baladas que pode se tornar um remédio promissor é um forte indicativo de que os esforços de um grupo dedicado de pesquisadores interessados nas propriedades medicinais de substâncias que alteram o estado mental está pagando dividendos”, escreveu a publicação. “Este não é um grande passo científico… Há 40 anos essas drogas são remédios. Mas é um grande passo em direção à aceitação”, acredita David Nutt, um pesquisador do Imperial College London.