Mesmo com 30% do país jogando contra, estamos finalmente avançando e tirando os pés do lamaçal.
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Se ainda não é o caminho do paraíso, ao menos nos afastamos, aos poucos, da tragédia da recessão imposta a cada um de nós por erros políticos e econômicos que só um povo conciliador e trabalhador poderia aguentar em silêncio.
Este povo, mesmo sofrendo, apoiou a primazia da Constituição e, nos momentos mais críticos, postou-se a favor da manutenção dos pilares democráticos e extirpou qualquer pretensão de nos levar para regimes bolivarianos ou assemelhados, acentuando sempre o matiz verde-amarelo.
Passados os momentos de depressão, que desde 1929 não sentíamos tão agudos, começam os negócios a se reestruturar e o emprego a ressurgir ao lado de impressionantes números de redução de uma inflação de 13% a 14%, de uma balança comercial recorde, trazendo mais de US$ 75 bilhões ao país, e uma entrada de recursos e investimentos de mais US$ 80 bilhões, elevando nossas reservas a US$ 500 bilhões. Não estamos entre os frágeis países – como são listados aqueles que têm problemas cambiais.
O percurso ainda é longo, mas alvissareiro. Como diz a Folha de S.Paulo, a terceirização não reduzirá os salários – vai, sim, ampliar o número de vagas; a reforma da Previdência, ao lado da fundamental reforma tributária, trará significativo alívio às contas públicas, aos cidadãos e às empresas, hoje perdidos na enorme maranha de impostos e taxas.
O Brasil já não está entre os frágeis países – como são listados aqueles que têm problemas cambiaisPerdemos nos últimos dez anos, com um crescimento anêmico, o ritmo do desenvolvimento. Como bem demonstrou o brilhante economista inglês Jim O’Neill, saímos da vanguarda dos Brics para nos instalarmos em sua rabeira. Ao mesmo tempo, o presidente Xi Jinping mostrou a rota do progresso da China e da Índia, num primoroso discurso em recente reunião dos Brics.
Todos nos passaram em termos de crescimento, melhora de renda per capita e avanço de suas infraestruturas, itens capitais para um desenvolvimento constante e autossustentável.
Mas com 30, e logo mais com 63 partidos, o que podemos esperar? Sem vontade política para mudar e reformar esse sistema – ao lado da luta feroz e diária contra a corrupção que guindou o país à condição de referência mundial em propina e acordos espúrios –, nossos pés dificilmente se livrarão da lama da recessão e da depressão.
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Euclides da Cunha escreveu: “Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desapareceremos”. Nosso “desaparecimento” está estampado nos rostos tristes dos famintos, que voltam com força à cena nacional, e das vítimas do assalto aos recursos públicos e das mazelas administrativas do Estado brasileiro, vítimas que aumentam em número assustador, consumidas pela falta de moradias e serviços de saúde dignos, entre muitas outras vicissitudes.
Mas não só os homens públicos e das administrações governamentais são culpados por tudo isso. Também o são a falta de transparência, de concorrência e de abertura da economia, além, logicamente, dos empresários que os corrompem.
A luta pela justiça social é uma luta de cada um de nós. O correspondente respeito às normas da ética nos negócios e na vida pessoal contribui, certamente, para um país mais aberto e mais equânime.
Vamos crescer perto de 1,5% este ano. Crescimento irrisório, é certo, mas não muito distante de nossa média de 2006 até hoje. São 11 anos de andar de caranguejo, alguns passos para a frente, outros para trás.
Com as reformas implantadas e as eleições em 2018, sairemos desse momento turbulento de nossa história. Nisso somos mestres, pois não há hiato de constância e calmaria política neste país para um crescimento linear previsível de 4% a 6% ao ano, com juros saudáveis, impostos realistas, infraestruturas privatizadas, estatais reduzidas em número e com qualidade de gestão, indústria competitiva por força de uma abertura internacional, agronegócio em plena expansão e com o setor de serviços altamente eficiente e modernizado.
Se esse quadro se concretizar, poderemos dizer que um governo que seria apenas de transição foi o governo das reformas que mudaram o rumo do país.
*Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
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