Em momentos de crise e de grande pressão, é muito bom lembrar uma célebre frase do bem-humorado escritor americano Mark Twain: “Os dois dias mais importantes de sua vida são o dia em que você nasceu e o dia em que você descobre o porquê”. É nisso que eu penso quando lembro de um dos meus grandes sonhos: transformar o Rio Grande do Norte (e o Nordeste) na Galícia brasileira.
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Por que justamente me inspirar nessa região espanhola? Em 2009, visitei aquela área tão similar ao Nordeste brasileiro. O lugar respira vestuário e indústria têxtil. Naquela época, a crise global golpeara a Europa de forma brutal. Na Espanha, o índice de desemprego chegava a assustadores 25%. A Galícia, porém, vivia o pleno emprego. A indústria têxtil era o motor dessa economia.
De acordo com a Cointega, a Confederación de Industrias Textiles de Galicia, o setor conta com mais de 500 pequenas e médias empresas de confecção. O setor têxtil galego faturou € 20 bilhões no passado. Desse total, mais de € 5,3 bilhões vêm de exportações. Nada menos que 433 empresas galegas fizeram vendas no exterior. Um recorde.
O Rio Grande do Norte, por sua vez, sempre foi uma joia do Nordeste e da sua cultura do algodão. Isso até o trauma histórico após a praga do bicudo nos anos 1980. Mesmo assim, nada se compara à tradição potiguar, com o trabalho apurado das mulheres rendeiras. Elas sempre foram muito além da “simples” execução do serviço, colocando amor em cada peça.
Nessa inspiração da Galícia aliada à tradição potiguar, fico imaginando a Riachuelo com pelo menos mil lojas e o quanto isso pode gerar de emprego e renda em toda a cadeia produtiva. Sim, porque a cada emprego gerado no varejo, criam-se cinco na indústria. Se hoje temos 25 mil postos de trabalho nas nossas lojas, geramos 125 mil empregos em fornecedores em algum lugar do mundo.
As nossas unidades de Natal e Fortaleza já foram responsáveis por 75% da produção da companhia. A competitividade potiguar e cearense, no entanto, começou a ser bombardeada por um verdadeiro cerco burocrático.
Esse diferencial de competitividade é como uma planta frágil, que precisa ser cuidada, receber água e tomar sol. Mas essa planta foi fulminada pela ação do Estado. Perdemos nove anos por causa da regulação exagerada, da judicialização e da burocracia tóxica. Esse clima impede o investimento do empresariado, que teme uma avalanche de processos na esfera trabalhista. A postura dos ditos “defensores dos trabalhadores” quer transformar os grupos empresariais em uma espécie de legião do mal. Se é patrão, é inimigo.
Esse lamentável cenário não se restringe à indústria têxtil. É só observar com atenção o setor do turismo. Órgãos potiguares ambientais se orgulham de ter impedido 20 resorts de se estabelecer no estado. Para onde foram esses projetos? Para Bahia, Pernambuco e Ceará. Qualquer forasteiro um pouco mais observador vai se encantar por Pipa, Genipabu, Natal e outros paraísos. Essa mesma pessoa irá se perguntar por que o Rio Grande do Norte não é lotado de turistas, tendo uma economia das mais prósperas, sendo um dos mais belos do Brasil e estar a poucas horas de voo da Europa e do sul dos Estados Unidos. A resposta é óbvia: quem tenta proteger o meio ambiente muitas vezes o prejudica. Ao impedir empreendimentos sérios e sólidos, deixa grandes áreas vulneráveis a invasões, cujos grupos, logicamente, não se preocupam em nada com a sustentabilidade.
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A conclusão é que temos autoridades letradas em leis e analfabetas em capitalismo. Os órgãos estatais não entendem que as conquistas vêm com a prosperidade. Não com essa falsa proteção. É preciso libertar o Brasil dessas bolas de ferro. Esse é o meu sonho potiguar, meu sonho para todo o Nordeste. A região tem de ser forte e justa – e, para isso, precisa dar oportunidade a quem quer trabalhar.
*Flávio Rocha é presidente da Riachuelo
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