Quando a Seleção de Futebol dos EUA não se classificou para a Copa do Mundo da Rússia graças a uma inesperada derrota contra Trinidade & Tobago, pouca gente que gosta de futebol se importou. Afinal, apesar de ser a maior potência esportiva mundial, os norte-americanos ainda são coadjuvantes no futebol internacional masculino.
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O mesmo não aconteceu esta semana com a não classificação da Itália. A comoção dos torcedores foi generalizada. Todos que torcem para “Gli Azzurri” – a favor ou contra – estão de luto por não poder ver a tetracampeã mundial jogando nos gramados Russos.
Como se não bastasse o fracasso do time, os torcedores ainda tiveram que lidar com o anúncio da aposentadoria de seu principal astro, o goleiro e capitão Gigi Buffon.
A relação de italianos e americanos com suas seleções não podem ser comparadas.
Na Itália, assim como no Brasil, o futebol é uma religião. Coisa séria que divide cidades como Milão (ou você torce para o Milan ou para a Inter), Torino (Juventus ou Torino) e Roma (Roma ou Lazio).
Já nos Estados Unidos, a relação ainda está no começo. Fora algumas cidades onde a torcida é verdadeiramente apaixonada pelos seus times (Atlanta pelo United, Los Angeles pelo Galaxy e Seattle pelo Saunders), o restante dos torcedores ainda está na fase do namoro com o soccer.
Também não podem ser comparados os impactos financeiros destas duas ausências na Copa do Mundo.
Em um recente artigo que escrevi aqui para FORBES Brasil, estimei que a não classificação do Team USA para a Copa do Mundo poderá custar mais que um bilhão de dólares para a economia norte-americana.
Muitas empresas deixarão de investir em patrocínios e na transmissão dos jogos pela televisão. É bem provável que os clubes tenham suas receitas reduzidas pela falta de interesse dos torcedores nas próximas temporadas. Os jogadores também sentirão no bolso as consequências do fracasso nos campos assinando menos contratos para endossar marcas além de não receber os prêmios por participação na Copa do Mundo.
No caso da Itália, o impacto financeiro deve ser muito mais modesto.
O PIB italiano representa menos que 10% do norte-americano e, mesmo com o grande interesse local pelo esporte, a indústria de patrocínios tem um tamanho moderado quando comparado com outras economias.
Os principais patrocinadores da Seleção são locais: Tim (telecomunicações), FIAT (automóveis), ENI (petróleo) e Posteitaliane (correios). Todos sofrerão com a desclassificação, mas seus investimentos combinados não chegam a estimados $50 milhões de dólares anuais.
Outros setores da economia sofrerão mais. As indústrias do turismo e entretenimento italiano não terão um verão tão quente quanto imaginavam. Sem jogar a Copa do Mundo, espera-se menos investimentos em viagens internacionais e menor movimento em restaurantes e bares.
Internacionalmente, o futebol italiano é bastante importante, mas poucas empresas dependem dele para seu sucesso financeiro. A principal delas é a Puma.
Fornecedora de equipamentos esportivos da Seleção Italiana desde 2003, a Puma é a parceira comercial que mais investe: são $26 milhões de dólares por ano.
A Puma, que faturou $4.2 bilhões de dólares em 2016, contava com o sucesso italiano para aproximar-se de suas rivais Nike ($32.4 bilhões), a adidas ($22.4 bilhões) e a Under Armour ($4.8 bilhões).
Esta não será uma tarefa fácil. Só a venda de camisas oficiais, estimadas um milhão e meio de unidades, deve gerar uma perda de $150 milhões de dólares.
Após a desclassificação, as ações da Puma caíram levemente e a empresa se apressou em acalmar o mercado dizendo que poderá compensar as perdas com outros produtos. Os analistas ainda não estão convencidos. Eles sabem bem que sem a Itália e Buffon, as chances da Puma manter seu crescimento ficam muito comprometidas.
Uma Copa do Mundo sem a Itália pode até ser um sucesso, mas perderá muito do charme e da atratividade para os torcedores que, assim como eu, cresceram vendo Paolo Rossi fazer o Brasil chorar, Roberto Baggio fazer o Brasil sorrir e tantos outros que nos ensinaram a gostar um pouco mais do esporte e da Itália.
Nos vemos no Qatar em 2022.
Ricardo Fort (@SportByFort) é executivo de marketing internacional baseado em Atlanta, Geórgia. Sua opinião é pessoal e não reflete a visão editorial de FORBES Brasil.
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