Por que os republicanos do Congresso se digladiaram com relação à revogação e substituição do Obamacare? Por que a opinião pública ficou contra eles num assunto que foi fundamental para a conquista, pelo Partido Republicano (conhecido como Grand Old Party, ou GOP), do controle do Senado e da Câmara, sem mencionar a Presidência? A lei do Obamacare, aprovada há mais de sete anos, foi extremamente impopular desde o início.
Resposta: o Partido Republicano, numa mancada incrível, deixou seus oponentes definirem os termos do debate. De repente, a questão passou a ser quantos milhões de pessoas ficariam sem seguro de saúde. Os doentes e os cronicamente enfermos logo se veriam sem cobertura e seriam forçados a acampar em salas de emergência superlotadas.
A verborreia dos republicanos sobre quantas centenas de bilhões de dólares tirariam do Medicaid – dinheiro que seria usado para “bancar” os cortes de impostos para os ricos – simplesmente reforçou a percepção do público de que, por pior que fosse o Obamacare, ele seria preferível a qualquer proposta dos republicanos. Foi por isso que todos os projetos de lei de saúde do Partido Republicano saíram-se pior do que o Obamacare nas pesquisas de opinião. Criou-se o seguinte clima: vamos tentar consertar o execrável programa de Obama em vez de levarmos miséria a milhões de concidadãos. O Partido Republicano virou o partido dos sovinas.
Os ataques dos democratas eram bobagem, em grande parte, mas pegaram. Somou-se a esse equívoco a “pontuação” dada pelo Gabinete de Orçamento do Congresso, que há muito não faz uma previsão correta e estava repleto de extremistas de esquerda quando os democratas controlavam o legislativo. Tanto o projeto aprovado pela Câmara quanto a legislação proposta pelos líderes do Senado alocavam bilhões para assegurar que as pessoas com doenças crônicas não ficassem de fora. A enorme ampliação do Medicaid feita por Obama e os subornos orçamentários federais para induzir os estados a concordarem com ela foram tratados com cautela pelos redatores de projetos de lei do Senado.
Mesmo nessa questão, os democratas conseguiram fazer de serviçais alguns governadores republicanos, quando estes reverberaram os ataques demagógicos dos primeiros.
O Medicaid é o pior sistema de seguro de saúde já concebido por um país livre: o gasto é ilimitado e os resultados são pífios. A única maneira de reverter isso é dar flexibilidade aos governadores para formularem reformas que aumentem a cobertura – 30% dos médicos já se recusam a aceitar novos pacientes do Medicaid porque os reembolsos são baixos e pagos meses depois. Rhode Island, Indiana e outros estados fizeram algumas mudanças positivas, mas tiveram de enfrentar os burocratas de Washington para obterem as “dispensas” necessárias para tanto.
Alguns dias antes de uma votação no Senado, a Casa Branca realizou um evento com a presença de algumas pessoas que foram prejudicadas pelo Obamacare, sendo que há milhões delas. Mesmo assim, não foi feita uma grande divulgação nem campanha nas redes sociais para mostrar os horrores do sistema na vida real ou para enaltecer o que o Partido Republicano estava fazendo.
A batalha de relações públicas tinha acabado antes de começar.
E não confie nos republicanos para se saírem melhor no futuro.
Republicanos molengões
A saúde não é o único tema importante no qual o Partido Republicano vem passando por dificuldades. Surpreendentemente, nos impostos também. Quando os democratas lançam a acusação de que as propostas de redução de impostos do partido rival “beneficiam os ricos”, muitos republicanos tremem na base. Entre os inúmeros impostos do Obamacare, por exemplo, estão tributos adicionais sobre dividendos e ganhos de capital, que inibem a criação de capital e o investimento produtivo. Sem investimento, nós não progredimos; o padrão de vida fica estagnado e depois cai. Não obstante, os senadores republicanos decidiram manter esses impostos anticrescimento para não serem acusados de “beneficiar os ricos”.
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Há anos, muitos republicanos autoproclamados “populistas” difundem políticas que, segundo eles, ajudarão os norte-americanos de classe média e de renda mais baixa; ao mesmo tempo, desprezam os “ricos” e as “elites”. Os amplos cortes de impostos que geraram os milagres econômicos de John F. Kennedy e Ronald Reagan? “Antiquados”, desdenham eles, como se fossem progressistas falando da Constituição.
Ouvem-se rumores sobre aumento de alíquotas de imposto de renda dos “super-ricos” por parte de republicanos, como maneira de conquistarem o apoio de democratas e mostrarem aos eleitores que o coração deles está com a classe média. “Os esquerdistas do Vale do Silício vão nos adorar”, fantasiam.
Tudo isso é uma triste descrição de um partido que diz ainda admirar Ronald Reagan.
Essa postura populista causaria náuseas no ex-presidente. Ele entendia que os eleitores querem uma economia em crescimento e salários que cresçam em sintonia com ela. Eles não estão nem aí para o fato de Bill Gates ser abastado – só querem saber que os Estados Unidos voltaram a ser uma vibrante terra de oportunidades.
Os republicanos são tolos de entrarem no jogo da inveja de classe. Sempre vão perder para os Bernie Sanders e as Elizabeth Warrens da vida. Os eleitores querem resultados, não uma versão republicana do socialismo “light”. Se, nos próximos meses, a economia sair do marasmo, as pessoas não darão a mínima para as críticas semi-marxistas da mídia e dos democratas.
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A fórmula da prosperidade não é nenhuma novidade: impostos baixos e moeda sólida.
O projeto de lei fiscal do Partido Republicano deveria deixar a cautela de lado e reduzir fortemente as alíquotas. Deveria derrubar para 15% a alíquota de 35% de pessoa jurídica. Não deveria tributar lucros obtidos no exterior. Deveria dobrar as isenções pessoais. Os republicanos deveriam efetuar um corte de impostos generalizado de 10% ou mais. E deveriam reduzir drasticamente a tributação dos ganhos de capital – isso sempre tem como efeito a geração imediata de mais receita.
Muito importante: o Partido Republicano deve tornar essas reduções retroativas ao início de 2017. Queremos que esse projeto de lei fiscal estimule a economia o quanto antes.
O Gabinete de Orçamento do Congresso vai espernear, mencionando déficits. Serão declarações ignorantes, merecedoras de indiferença. A expansão da economia é a única maneira pela qual os republicanos reduzirão de maneira realista os prejuízos do Tio Sam. Se os EUA tivessem vivido um crescimento econômico normal nos últimos dez anos, hoje não haveria um déficit orçamentário.
O crescimento faz maravilhas.
O que esses republicanos tão sensíveis deveriam entender é o seguinte: não importa o que eles façam (a não ser uma capitulação total a Elizabeth Warren), serão rotulados de lacaios de Wall Street, dos grandes bancos, das grandes empresas e dos ricos. Superem isso e façam o que é certo. E então vejam os democratas se desintegrarem.
Quanto a uma grande reforma da legislação do imposto de renda federal, esqueçam. Já é tarde demais.
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Vocês cometeram dois grandes erros. Abordaram primeiro a questão da saúde devido à sua devoção servil àquelas falsas estimativas de receita do Gabinete de Orçamento do Congresso. Os eleitores preferiam que os impostos fossem tratados em primeiro lugar, mas quem são eles para entender dessas coisas? Depois, vocês se delongaram com a estranha obsessão do presidente da Câmara, Paul Ryan, pelo imposto de 20% sobre vendas transnacionais, que teria sido um golpe para as famílias de trabalhadores que vivem de seu salário. Portanto, façam cortes simples agora e dediquem-se a uma grande reforma tributária após as eleições do ano que vem.
A Nova Mystery Woman
Michael Connelly, um dos melhores e mais prolíficos romancistas dos EUA, já criou duas personagens memoráveis: o detetive Hieronymus “Harry” Bosch (base da série Bosch, da Amazon Prime) e o advogado de defesa Mickey Haller (base do filme O Poder e a Lei, estrelado por Matthew McConaughey). Em sua mais nova obra-prima, The Late Show (Little, Brown & Co.), Connelly apresenta uma terceira, Renée Ballard, detetive jovem e motivada que foi exilada no Departamento de Polícia de Los Angeles – no turno da noite –, após ter tomado a atitude de prestar queixa de assédio sexual contra seu poderoso supervisor. O parceiro dela na época foi testemunha do incidente, mas se recusou a respaldá-la. Esse suspense cativante mostra uma Ballard que não se deixa abater e se envolve em três casos, entre os quais um massacre numa casa noturna que tem uma reviravolta de arrepiar. Pedem que a detetive saia do caso, mas ela não sai, mesmo indo implacavelmente atrás dos outros dois.
*Steve Forbes é editor-chefe de FORBES
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