A busca pela independência a partir do empreendedorismo ou da remuneração derivada de investimentos aplicados é cada vez maior à medida que o nível de educação da população aumenta. Centenas de livros e páginas de auto-ajuda financeira se proliferam, deixando as pessoas mais desorientadas do que informadas com uma quantidade absurda de dados disponíveis que, muitas vezes, soam contraditórios.
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Mas este não parece ser o caso dos ensinamentos do nipo-americano Robert Kiyosaki. As ideias do empresário, investidor e autor expressas em livros, nas redes sociais e em jogos de tabuleiros fizeram dele um dos autores mais vendidos do segmento, como prova o best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”, que teve 32 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. As palavras proferidas por Kiyosaki são referências no assunto, sem deixar a polêmica de lado.
"Você tem que encontrar o professor verdadeiro, a maioria dos professores universitários não sabe do que está falando"O escritor conversou com FORBES Brasil em setembro, antes de sua participação no National Achievers Congress (NAC Brasil 2017), evento sobre desenvolvimento pessoal e profissional. Resumiu a ideia central do seu livro, recomendando que as pessoas procurem seus “pais ricos”, ou seja, pessoas que realmente sabem ganhar dinheiro. Kiyosaki diz ter encontrado o seu aos 9 anos, apesar da desconfiança que algumas pessoas têm sobre sua real existência.
O autor não titubeou em criticar o sistema de ensino, por não abordar a questão financeira na educação de crianças e adolescentes. Tampouco os cursos de MBAs escaparam das críticas: ele acusou as instituições universitárias de estarem loteadas com “falsos professores”, que lecionam matérias com as quais nunca tiveram experiência.
Por fim, Kiyosaki explicou por que o dinheiro atualmente é irreal e fala quem são seus verdadeiros “pais ricos”. Leia, a seguir, a conversa com o escritor de “Pai Rico, Pai Pobre”.
FORBES BRASIL: Qual foi a inspiração para escrever “Pai Rico, Pai Pobre”?
ROBERT KIYOSAKI: Uma história verdadeira. Quando eu tinha 9 anos, perguntei ao meu professor na escola: “Quando vamos aprender sobre dinheiro?”. O professor respondeu que não se ensina isso na escola. Retruquei: “E por que não?”. Ele disse, então, que o dinheiro era uma coisa ruim. Quando cheguei em casa, fiz a mesma pergunta ao meu pai pobre – que era PhD em Stanford. Ele me respondeu que o governo não permitia os ensinamentos sobre dinheiro na escola. Aquilo me soou estranho. Por isso, aos 9 anos, fui ao meu pai rico – que nunca tinha ido à escola – e começou a me ensinar sobre dinheiro.
FB: As escolas melhoraram o ensino sobre dinheiro depois do lançamento do livro?
RK: Nossa economia está pior, com o real e o dólar se desvalorizando, a dívida pública norte-americana subindo. Essa dívida, depois de 2008, é uma bomba relógio, e os EUA vão entrar em colapso, pois temos políticos que não sabem fazer dinheiro. Donald Trump e Steve Forbes, meus amigos, são pessoas ricas e sabem fazer dinheiro. Por isso eles não precisam roubar as pessoas.
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FB: Aprender sobre dinheiro, então, é somente na prática?
RK: Você tem que encontrar o professor verdadeiro. Não pegue conselho com gente pobre. A maioria dos professores de escola é pobre, que precisa do contracheque, do emprego e da pensão. Não os ouça. Eu ouço Steve Forbes e Donald Trump, enquanto não dou ouvidos para professores universitários, como Janet Yellen, presidente do Federal Reserve [o Banco Central dos EUA], e o ex-presidente Barack Obama.
FB: Qual é o principal conselho financeiro que você dá para as pessoas?
RK: Ouça os professores de verdade, que são as pessoas ricas, como Trump e Forbes. Além disso, é preciso saber que dinheiro, atualmente, é irreal. Não há mais dinheiro de verdade, pois em 1971, o presidente Richard Nixon tirou o dólar do Padrão Ouro*, permitindo aos EUA imprimir dinheiro. Hoje, todo o dinheiro é contrafactual: dólar americano, real, iene, yuan. Esse dinheiro é baseado em dívida, portanto dinheiro é dívida. E todo mundo contrai muita dívida. Trump e eu usamos dívida, nós sabemos como usá-la como dinheiro. A educação financeira, por isso, deveria ensinar como se usa a dívida para se tornar rico.
Nota do editor: *Kiyosaki se refere ao fim do Padrão Dólar-Ouro, que se estabeleceu depois da Conferência de Bretton-Woods, em 1944, ainda sob o conflito da Segunda Guerra Mundial, que se encaminhava para o final. Durante a conferência, os participantes desenharam as instituições que regulariam a economia internacional no pós-Guerra, fixando a conversão fixa do dólar para o ouro – de US$ 35 a onça do metal dourado. O republicano Richard Nixon encerrou o acordo com a crescente inflação nos EUA, que levava a uma desvalorização real do dólar (mesmo com a conversão fixa) e, por sua vez, à iminência de compra generalizada de ouro pelos países com reservas internacionais em dólar – principalmente os europeus e os japoneses -, reduzindo assim o estoque de ouro dos EUA e sua legitimidade de organizar o sistema monetário internacional. A decisão unilateral de Nixon foi a desvalorização do dólar em relação ao ouro e marcou o início da moeda norte-americana como o único lastro das transações financeiras internacionais.
FB: Você diz que as pessoas devem encontrar um mentor que as inspire e guie?
RK: Sim, é preciso que ele seja um professor real, e esses professores reais não estão nas universidades. Quando eu tinha 26 anos, fui fazer o MBA. Durante a aula de contabilidade, perguntei ao professor: “Você alguma vez foi contador?”. Ele respondeu: “Eu aprendi contabilidade na universidade, e depois me tornei um professor”. Apenas lhe respondi: “Eu sei mais contabilidade do que você, aliás, a contabilidade real”. Retirei-me da sala, porque aquilo era falso. Depois fui à aula de marketing internacional, fiz a mesma pergunta e o professor respondeu: “Eu tenho uma loja de bicicleta”. Então eu lhe disse: “Você está de brincadeira?”. Eu sabia mais de marketing internacional do que ele! Os professores universitários não sabem do que estão falando. É o mesmo que eu ensinasse português aos brasileiros, mas eu não sei falar português!
FB: O que significa, de verdade, dinheiro?
RK: Dinheiro é poder. Com poder, podemos fazer o que queremos. Eu não preciso de um emprego, tampouco de um plano de aposentadoria. Não me importo com os ciclos econômicos, a bolsa de valores e o mercado cambial. É poder, e é libertador, porque eu faço dinheiro com um estalar de dedos.
FB: Quais conselhos você dá às pessoas que querem ficar ricas, além de buscarem seu “pai rico”?
RK: Essa pergunta me lembra a história de Jesus Cristo. A história começa com os três homens sábios, que seguem a estrela. As pessoas estão sempre à procura da estrela, como, onde. Eu tenho muitos professores diferentes, mas eles não estão na escola, eles estão fazendo o que é real. Meu contador faz contabilidade de verdade, assim como meu advogado.
As pessoas param de buscar os seus verdadeiros professores porque elas vão à escola, mas os professores não têm emprego, não poupam, e o dinheiro está se desvalorizando. Tudo isso porque temos professores ruins também. Muita gente está nessa espiral, mas se você quiser sair dele, você não vai precisar de dinheiro depois.
FB: Você mencionou Donald Trump e Steve Forbes como pessoas que servem de inspiração. Quem mais você citaria?
RK: Muitas pessoas não sabem que tenho os dois como professores. Eu fui em uma conferência, encontrei com Steve Forbes, e ele estava falando sobre ouro, que é o dinheiro real. Ele disse uma coisa muito importante anos atrás: por que há muitas guerras hoje? É porque o dinheiro é irreal. Se houvesse um único dinheiro, seria o ouro, daí nós dois não precisaríamos confiar um no outro. Eu posso lhe dar ouro, e você confiaria no ouro. Mas hoje o dinheiro é irreal, então precisamos confiar um no outro. Se eu não confio em você, você tampouco em mim, nós vamos lutar. É por isso que temos que mudar o dinheiro, porque ele é falso. É por isso que eu adoro o Steve Forbes, porque explica a existência do terrorismo, da disputa entre Democratas e Republicanos e do racismo a partir da desconfiança entre as pessoas, cuja origem está na falsidade da moeda.
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FB: A sociedade se desintegra porque a moeda é falsa?
RK: Sim. Isso é o que Steve Forbes me disse. Eu confiava no dinheiro, agora eu devo confiar em você. É por isso que precisamos do dinheiro de verdade, que é o ouro. Não professores e dinheiro falsos.
FB: E é por isso que a taxa de juros é baixa nos EUA, por que ninguém confia no outro?
RK: A taxa de juros é baixa porque eles querem que pessoas como eu peguem dinheiro emprestado. Eu não entendo, parece que é uma operação de caridade. Eu pego dinheiro emprestado a 2% nos EUA. Eu empresto para o Brasil, aplico aqui, retorno em dólares e o real se desvaloriza. É porque nós temos dinheiro falso que tudo é inflacionado, inclusive a bolsa de valores.
FB: Qual é a mensagem/conselho que você deixa para os brasileiros?
RK: Siga os professores de verdade e evite a moeda falsa. Escola nunca vai te ensinar a ganhar dinheiro, porque os professores são pobres, eles não tiveram nenhuma educação financeira. Ph.Ds de Stanford são pobres e despreparados. A maioria dos professores não está preparada para seus empregos.
FB: Você pode mencionar um brasileiro que é um professor de verdade?
RK: Não conheço. Donald Trump e Steve Forbes são meus amigos, eles são os Pais Ricos.