Vou citar hoje dados que o brilhante Celso Ming trouxe à consideração de todos nós. O mundo deu e está dando um salto enorme, criando uma classe média naqueles países que se abriram e criaram cadeias de produção e de consumo integradas entre os vários continentes. Os dados são relevantes – e contrastantes também.
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Os países asiáticos expandiram suas classes médias, que, depois de tirar da pobreza absoluta 400 milhões de chineses, por exemplo, atingem hoje o valor relativo de 50% de sua população. E projetam para 2030 que 3,5 bilhões de pessoas terão quebrado os grilhões da pobreza e galgado o patamar que, por momentos, havíamos alcançado antes da grande depressão – que estamos deixando para trás.
Elas crescem no mundo à razão de 140 milhões de pessoas por ano e, em cinco anos, essa taxa poderá subir para 170 milhões ao ano. Já em 2020, serão o maior segmento da população mundial, consumindo acima de US$ 45 trilhões por ano.
Esse é o trem-bala da economia mundial, que mostra o grande salto da humanidade em busca da justa distribuição de renda e de mais benefícios para as populações desse futuro próximo – que serão cada vez mais exigentes por melhorias na prestação de serviços educacionais e hospitalares, principalmente.
Porém, se a Ásia anda nessa alta velocidade, a América Latina, ainda presa a linhas populistas e retrógradas, tem hoje apenas 9% de sua população inserida nos padrões de classe média – e deve chegar a 2030 com um número ainda menor, de cerca de 6% (ou 335 milhões). Isso significa um retrocesso na renda e nas conquistas sociais. São dados que devemos ter em mente, sabendo que parte preponderante desse refluxo é resultado da crise exclusivamente nossa, gerada em um momento em que a economia mundial deslanchava.
Graças à má gestão de anos recentes, o Brasil tem hoje uma renda per capita de US$ 15.128. Fomos ultrapassados por México (US$ 17.862), Bulgária (US$ 19.199), Iraque (US$ 17.353) e Tailândia (US$ 16.916). Sem reformas, e sem rumos políticos que nos permitam adotar as mudanças econômicas necessárias, continuaremos a perder posições mundialmente e não ultrapassaremos tão cedo a barreira de US$ 20 mil per capita, que representa a passagem de “país em desenvolvimento” para “país desenvolvido”.
Esses dados tão importantes refletem um desempenho pífio, que nos fez voltar a patamares inferiores aos de 1981, quando éramos a sétima economia mundial – e a China estava além da 20ª posição. A inversão foi de tal ordem que, em 2050, a China e a Índia, então símbolos de dominância absoluta das camadas mais pobres em seus territórios, passarão a ter metade de sua população na classe média. E as projeções as indicam como as duas maiores potências econômicas do mundo, à frente mesmo dos Estados Unidos e da União Europeia.
A China se abriu e se tornou uma neocapitalista; a Índia segue o mesmo caminho, premiando a individualidade e a livre iniciativa. Ambos os países enfrentaram, dentro dos limites políticos possíveis, as resistências inerciais às mudanças. Implementando-as, deram grandes passos à frente na produção, no consumo, na democratização do progresso.
Temos boas razões para criar uma agenda positiva, baseados nos resultados da economia, desde que o rumo político se inverteu. Com isso, a inflação despencou, as reservas externas cresceram, o emprego cresceu novamente, a abertura internacional se intensificou. Enfim, o rumo do desenvolvimento voltou a reinar.
Muito há a se fazer, todavia, e as tarefas do governo eleito em 2018 serão as de conduzir o país para uma linha de equilíbrio político e a manutenção de uma linha econômica realista. E que isso nos devolva, em cinco anos, ao menos os valores de renda individual que já havíamos alcançado e o imprescindível equilíbrio social, com o retorno da maioria da população ao gozo dos benefícios de uma classe média instruída e satisfatoriamente atendida.
Mas, acima de tudo, que a nossa política seja a da eliminação da pobreza degenerativa com a qual temos convivido há séculos. Porque uma nação com uma dívida social tão imensa não tem a consciência tranquila para desfrutar as benesses do progresso se não integrar a esse desenvolvimento as massas ainda marginalizadas em todas as regiões do Brasil.
*Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
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