O corpo de Charles Manson – um dos maiores assassinos dos Estados Unidos – continua no limbo enquanto acontece uma batalha legal por seu controle – e dos possíveis lucros que seu patrimônio poderia gerar.
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A questão é realmente intrigante. Por que alguém estaria disposto a lutar pelo espólio de um homem que passou quase cinco décadas na prisão? Mesmo que ele seja um dos criminosos mais desmoralizados da história, o que poderia valer tanto a pena?
E, caso haja algum dinheiro, como alguém poderia reivindicar lucros gerados por um homem que matou tanta gente e dormir tranquilamente a noite?
Esse argumento, no entanto, não desmotiva os três homens que estão disputando o poder sobre a propriedade e o legado de Manson. Ávido colecionador de memorabilia, Michael Channels, tornou-se amigo por correspondência do presidiário depois de enviar cerca de 50 cartas a ele. Os dois se conheceram, pessoalmente, em 2002. Nesse mesmo ano, o criador da comunidade alternativa na Califórnia escreveu um testamento que nomeava Channels seu executor, autorizando-o a lidar com seu corpo e doando a ele todo o seu patrimônio.
Esse documento direcionou a Channels todo o lucro obtido com os direitos autorais das músicas escritas por Manson, assim como os direitos sobre sua imagem e de publicação. O mesmo também tirou de qualquer pessoa que alegasse ser filho ou parente do “guru” qualquer chance de exploração.
Jason Freeman é o segundo competidor nessa batalha. Ele é neto de Manson, filho de um dos dois filhos reconhecidos do assassino, Charles Manson Jr. (que mudou de nome e cometeu suicídio). Freeman e seu advogado contestam a validade do testamento de 2002. No estado da Califórnia, são necessárias duas testemunhas para a assinatura de um testamento, mas nesse só aparece uma. A lei ainda considera o documento válido caso uma das testemunhas seja também beneficiária – e não apenas alguém sem nenhum interesse -, mas essa pessoa tem que convencer o tribunal de que o testamento não foi redigido sob coação, ameaça, fraude ou influência indevida.
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Para complicar ainda mais o caso, Matt Lentz afirma que é filho biológico do criminoso, destinado à adoção quando era recém-nascido. Ele diz que tem um testamento de 2017 que o nomeia como único herdeiro e a Ben Gurecki, um colecionador de memorabilia, como o executor. Se o documento for considerado válido, substituiria o anterior, fazendo de Lentz o beneficiário e dando a Gurecki controle tanto do corpo quanto das propriedades, royalties e direitos de imagem. Lentz pretende fazer um teste de DNA para provar sua ligação biológica com Manson. E, até que a disputa legal não seja resolvida, o corpo de Manson não ficará em paz.
Patrimônio
O primeiro testamento de Manson alega que ele foi autor de mais de 100 músicas, sendo que, pelo menos, duas foram gravadas comercialmente, incluindo “Look at Your Game, Girl”, do Guns N’ Roses (1993), e “Never Learn Not to Love”, do grupo Beach Boys (1969). A pergunta é: onde estão os pagamentos dos royalties dessas – e potencialmente – de outras canções? Provavelmente as vítimas de Manson teriam direito a eles, mas essas reivindicações podem ter expirado ao longo dos 50 anos que transcorreram desde os assassinatos.
Além das músicas, há os produtos propriamente ditos. Colecionadores estão sempre dispostos a pagar uma fortuna por itens relacionados a assassinos em série. No ano passado, por exemplo, uma cabeceira de cama Vitoriana foi vendida por US$ 14 mil em um leilão pois estava ligada a um dos crimes de Manson. Agora que um filme de Tarantino, estrelado por Leonardo DiCaprio, está sendo planejado, o interesse nesses objetos só vai aumentar.
Lucrar sobre a morte de um homem responsável pelos assassinatos brutais de, pelo menos, nove pessoas é repugnante. Ainda assim, muitos estão dispostos a passar por um longo e caro processo jurídico para ganhar o controle sobre o patrimônio e dar a Manson um enterro “adequado”.
Talvez demore meses, até anos, para que a validade do testamento seja resolvida. Depois disso, o vencedor ainda terá que lidar com os problemas legais e éticos sobre o que fazer com o corpo e o espólio de um dos assassinos mais notáveis dos Estados Unidos.
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