Não há um só dia, nos últimos meses, em que novos casos de assédio sexual não invadam os noticiários. Em outubro do ano passado, surgiram as primeiras acusações contra o poderoso produtor norte-americano Harvey Weinstein. Atrizes, modelos e funcionárias que passaram pelas produtoras de Weinstein relataram décadas de casos de assédio sexual, incluindo estupro. Entre elas, estrelas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Cara Delevingne e, mais recentemente, Uma Thurman.
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Essa foi só a ponta do iceberg que se dirigia contra Hollywood. O primeiro episódio envolvendo o ator Kevin Spacey – denunciado pelo também ator Anthony Rapp, um mexicano de 46 anos –, no fim de outubro de 2017, desencadeou uma série de acusações de assédio que, hoje, já somam 30. A situação levou a Netflix a cancelar “House of Cards”, série da qual Spacey era protagonista e uma das mais celebradas da atualidade.
Nos esportes, o caso de Larry Nassar, ex-médico acusado de molestar mais de 100 mulheres, incluindo campeãs olímpicas de ginástica, chocou o mundo todo. Em meados de janeiro, Nassar foi condenado a até 175 anos de prisão depois de um julgamento que durou sete dias na Corte do Condado de Ingham, na cidade de Lansing, Michigan.
No mundo corporativo não é diferente. Não são poucos os casos em corporações de todos os tamanhos e países. O mais recente deles causou a renúncia do magnata dos cassinos, o bilionário Steve Wynn, do cargo de CEO da Wynn Resorts, por má conduta sexual.
A situação é tão grave que, nos Estados Unidos, a procura por seguros que cobrem empresas e executivos contra processos judiciais que podem acarretar altos gastos e perda de reputação deu um salto nos últimos anos. Em 2017, as companhias norte-americanas gastaram US$ 2,2 bilhões com apólices do tipo. A previsão é que essa soma cresça cerca de 20% em 2018.
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Aqui no Brasil o assunto ainda caminha bem devagar, principalmente por causa da falta de histórico de sentenças que envolvam grandes somas em dinheiro. Segundo especialistas, por aqui as indenizações pagas às vítimas chegam, no máximo, a 50 salários-mínimos (pouco mais de R$ 47 mil), contra safras milionárias praticadas em território norte-americano.
Veja, a seguir, 7 casos em que os abusos sexuais resultaram em grandes prejuízos financeiros:
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Reprodução/Netflix Prejuízo moral e financeiro
A Netflix, produtora de uma das séries de mais sucesso dos últimos tempos, “House of Cards”, estrelada por Kevin Spacey – alvo de mais de 30 acusações de assédio sexual -, anunciou a demissão do ator e o cancelamento da produção depois de uma última temporada sem ele. A repercussão do escândalo levou a produtora a amargar prejuízos de US$ 39 milhões anunciados em seu último balanço, relativo ao período de outubro a novembro de 2017. O ator também não saiu ileso do ponto de vista financeiro. Sua demissão fez com que ele deixasse de ganhar US$ 6,5 milhões.
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iStock Manipulação de agendas
Hideaki Otaka, ex-CEO da Toyota na América do Norte, foi alvo de um processo por assédio sexual em 2006. Nele, Sayaka Kobayashi, então assistente pessoal do executivo, pedia US$ 190 milhões em indenização por ter sido alvo de repetidas investidas sexuais durante um semestre inteiro e, em seguida, transferida contra sua vontade do cargo que ocupava. No processo, a assistente contou que o executivo manipulava sua agenda de viagens e trabalho para que eles ficassem juntos e sozinhos e para que ela o acompanhasse em eventos sociais. Sayaka revelou, ainda, que Otaka a teria apalpado em pelo menos duas ocasiões: em um hotel em Washington DC e no Central Park, em Nova York. Apesar de ter insistido em sua inocência, o executivo deixou o cargo por dizer que sua permanência iria contra os interesses da empresa. A Toyota se manifestou garantindo que fortaleceria as medidas contra assédio e discriminação, incluindo uma revisão completa das práticas da empresa e o aumento dos treinamentos de seus principais executivos para prevenir maus comportamentos.
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Getty Images Por trás das câmeras
O canal de televisão norte-americano Fox News teve um 2016 conturbado em meio a escândalos de assédio sexual, tanto contra Roger Ailes, que liderou a emissora por duas décadas, quanto contra o ex-apresentador Bill O’Reilly. Foram várias acusadoras e processos: Megyn Kelly, uma das principais estrelas da rede; Laurie Luhn, ex-agente da emissora; Lis Wiehl, analista legal; e as ex-apresentadoras Gretchen Carlson, Laurie Dhue, Andrea Tantaros e Juliet Huddy. No meio de tantas denúncias, Ailes deixou a Fox. Meses mais tarde, a 21st Century Fox concordou em pagar mais de US$ 1 milhão à Laurie Dhue para selar um acordo. Pouco depois, foi a vez de Juliet Huddy, que recebeu US$ 1,6 milhão do conglomerado das comunicações. Porém, o valor mais alto de todos saiu do bolso de Bill O’Reilly, que pagou US$ 32 milhões para encerrar o caso de Lis Wiehl, que acusou o então apresentador de 15 anos de assédio repetido, estupro e envio de pornografia homossexual e outros materiais sexualmente explícitos a ela.
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iStock Segredos inconfessáveis
Em Quebec, a mais extensa província do Canadá, 111 vítimas de abusos sexuais cometidos por nove padres da Ordem Redentorista do Seminário Saint-Alphonse, em Sainte-Anne-de-Beaupré, receberam, em 2015, US$ 14 milhões em indenizações depois de cinco anos de batalhas judiciais e um longo julgamento. As vítimas, ex-alunos da escola da ordem, começaram a se manifestar depois que Frank Tremblay abriu um processo, em 2010, contra a ordem, a escola e seu agressor, o reverendo Raymond-Marie Lavoie. Dos nove padres nomeados no processo coletivo, seis estão mortos e outros três declararam viver abaixo da linha de pobreza – por isso, apenas Lavoie foi condenado a pagar indenização. O padre foi considerado culpado por 18 crimes envolvendo 13 vítimas em um período de 11 anos, de 1973 a 1984, e foi sentenciado à prisão.
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iStock Assédio coletivo
Ashley Alford, ex-funcionária da empresa norte-americana de aluguel e venda de móveis Aaron’s, processou a companhia depois de ter sofrido assédio sexual por parte do gerente da loja em que trabalhava, em 2008. O júri concedeu a ela US$ 95 milhões em indenizações. O assédio teve início pouco depois que ela começou a trabalhar na sucursal de St. Louis, no Missouri, em 2005. Richard Moore, então gerente, tocava os seios da subordinada e fazia comentários sobre suas roupas. O comportamento estimulou os outros funcionários homens da loja a promoverem uma verdadeira campanha de assédio contra a colega. Ashley contou ter ligado para o número de denúncia da empresa, mas sua mensagem nunca foi retornada.
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iStock Todos contra uma
Linda Channon, ex-gerente da UPS, uma das maiores companhias de logística do mundo, moveu uma ação contra a empresa na qual trabalhou por 22 anos por alegar ter sido punida depois de denunciar um motorista que tocou seus seios. Em 2001, a suprema corte do Iowa fechou a questão em US$ 80,7 milhões – US$ 500 mil em danos compensatórios e US$ 80,2 milhões em danos punitivos. Linda relatou ter sido tocada pelo motorista durante uma discussão em 1993. O motorista foi demitido, recontratado e então começou a persegui-la. Segundo Linda, a UPS a moveu de posição várias vezes, evitando-a e excluindo-a de reuniões.
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iStock A retaliação da vítima
Em dezembro de 2008, Carla C. Ingraham, então assistente de vendas da UBS Financial Services em Kansas City, no Missouri, denunciou o assédio de seu novo supervisor, o vice-presidente da empresa James DeGoler – algo que vinha acontecendo há seis anos. Em suas queixas, Carla revelou que o chefe “fazia, repetidamente, comentários sobre o tamanho dos seus seios”, convidou-a para a sua sala para ver “e-mails sexualmente ofensivos em seu computador” e perguntou a ela sobre suas fantasias sexuais. Para completar, Carla recebeu inúmeras sugestões de prestar favores sexuais a um cliente e relatou um padrão de repetidos telefonemas para sua casa, à noite. Seis meses depois da denúncia, ela foi demitida. No tribunal, a empresa foi condenada em mais de US$ 10 milhões em danos punitivos, US$ 350 mil por assédio sexual e US$ 242 mil por retaliação.
Prejuízo moral e financeiro
A Netflix, produtora de uma das séries de mais sucesso dos últimos tempos, “House of Cards”, estrelada por Kevin Spacey – alvo de mais de 30 acusações de assédio sexual -, anunciou a demissão do ator e o cancelamento da produção depois de uma última temporada sem ele. A repercussão do escândalo levou a produtora a amargar prejuízos de US$ 39 milhões anunciados em seu último balanço, relativo ao período de outubro a novembro de 2017. O ator também não saiu ileso do ponto de vista financeiro. Sua demissão fez com que ele deixasse de ganhar US$ 6,5 milhões.
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