Cada vez que lemos uma reportagem sobre crimes de colarinho branco – e sempre há um caso mais escandaloso do que outro – nos perguntamos: “Por que eles fazem isso? Por que esses indivíduos colocam em prática comportamentos autodestrutivos?”.
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Crimes não violentos cometidos por funcionários ao longo de suas carreiras são definidos como crimes de colarinho branco. As violações incluem fraude, suborno, esquema de investimento do tipo pirâmide, desfalque, uso de informações privilegiadas, crimes digitais, violação da propriedade intelectual, extorsão, lavagem de dinheiro, roubo de identidade e falsificação, entre outros.
Segundo o FBI, o custo anual desse tipo de crime é de mais de US$ 500 bilhões, valor muito maior do que os US$ 15 bilhões de prejuízo registrado com os crimes contra o patrimônio.
Mas quais são as motivações por trás desse comportamento?
Os indivíduos têm vários graus de tolerância em relação ao comportamento consciente e ético. Pesquisas acadêmicas mostram que os sinais e indícios do meio podem incentivar as pessoas a se comportarem de forma diferente quando confrontadas com escolhas éticas. A maioria dos crimes de colarinho branco ocorre devido à ambiguidade percebida nos sinais e nas sugestões. Ambientes de trabalho podem induzir comportamentos bons ou maus, sendo que propostas de duplo sentido seduzem os indivíduos a seguirem caminhos que agravam transgressões éticas, levando a atos criminosos. Certas pessoas sucumbem às tentações e comprometem seus valores morais nessa área cinzenta. Raramente os funcionários recebem uma ordem direta de seus superiores para quebrar a regra.
Veja, na galeria de fotos a seguir, as motivações para a prática de crimes de colarinho branco:
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iStock 1) Incentivos de trabalho mal elaborados
Os profissionais de finanças são, normalmente, remunerados e recompensados por lucros obtidos no curto prazo. Para maximizar suas compensações baseadas em desempenho, alguns decidem contornar as leis existentes. Bradley Birkenfeld, um cooperador federal no caso de fraude fiscal da UBS, declarou ao juiz na audiência de seu pedido de recurso: “Fui incentivado a fazer isso”. No caso Enron, os Planos Executivos de Opções de Compra de Ações (ESOP, da sigla em inglês) pretendiam “maximizar a riqueza dos acionistas”, e ,de fato, motivaram os funcionários a criar a enorme fraude na contabilidade. No escândalo Wells Fargo, o CEO Tim Sloan afirmou: “Nós tivemos um plano de incentivo em nosso grupo bancário de varejo que levou a comportamentos inadequados”. Milhares de funcionários estavam envolvidos.
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iStock 2) Indiferença dos gestores em relação à ética
Muitas empresas de investimento usam redes especializadas para legitimar o uso de informações privilegiadas para negociar ações. Essas pistas levam os analistas dessas empresas a violarem leis de segurança. Em um dos maiores escândalos de contabilidade, a administração do MCI-WorldCom foi direta com os contadores: “Façam a dívida desaparecer”. Desde então, os funcionários passaram a manipular as informações. Outro caso é o da Siemens. Ano após ano, funcionários da companhia usavam métodos contábeis sofisticados para organizar de US$ 20 a US$ 50 milhões usados para pagar subornos. Um porta-voz da investigação criminal disse que “o suborno era o modelo de negócios da Siemens”. No escândalo de emissões de poluentes da Volkswagen, a cúpula orquestrou a criação de um dispositivo que burlava os testes instalado em vários modelos da montadora por muitos anos.
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iStock 3) Comportamento antiético visto como inofensivo
Muitos empresários e executivos responsáveis por lidar diretamente com o mercado de ações envolvidos no uso de informações privilegiadas enxergam isso como um crime sem vítimas – o que não verdade. Muita gente não percebe que está sendo enganada. Vendedores que subornam seus clientes sentem que estão fazendo seu trabalho sem prejudicar ninguém. Pessoas que cometem fraudes de contabilidade começam com a justificativa de que “é uma vez só”. Criminosos pensam: “Eu estou tomando um empréstimo, mas vou devolver o dinheiro”. E acreditam que essa atitude não causará danos no longo prazo.
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iStock 4) Objetivos agressivos
Metas agressivas são característica de uma cultura baseada no mérito. No entanto, a ideia de “fazer o que é necessário”, normalmente incutida pelas diretrizes da gestão para alcançar esses objetivos, incentiva táticas antiéticas. A administração da empresa tende a delegar instruções ambíguas para os demais funcionários e a se fazer de “cega” para comportamentos questionáveis e antiéticos. O time de líderes da Wells Fargo estabeleceu novas metas de cotas agressivas, levando os funcionários a criarem milhões de contas falsas. Na Volkswagen, os colaboradores tiveram medo de admitir que os automóveis da companhia não eram capazes de cumprir padrões de emissão e, portanto, decididiram trapacear. A Theranos, startup de tecnologia médica, manipulou e inflou as capacidades de seus dispositivos de teste de sangue. Outra empresa unicórnio, o Uber, criou uma ferramenta chamada “Greyball” para evadir regulamentos locais em vez de trabalhar com os órgãos de cada cidade para obter licenças operacionais.
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iStock 5) Perigo moral
Quando outras pessoas assumem a desvantagem, aqueles que assumem os riscos são incentivados a tomar decisões mais ousadas. O seguro de saúde abrangente, por exemplo, cria um estímulo para que os médicos prescrevam procedimentos em excesso. As políticas de seguro de propriedade pessoal podem criar incentivos para arquivar reclamações falsas. Os resgates governamentais de instituições financeiras instigam uma tomada de riscos excessiva. No caso das grandes corporações, promotores estão oferecendo, cada vez mais, acordos de delação premiada que, normalmente, implicam na imunidade dos executivos. As empresas pagam enormes multas e estão comprando “cartões de saída da prisão” para seus dirigentes. Os responsáveis por essas instituições escolhem ignorar os comportamentos errados, pois eles recebem os benefícios de atos ilegais e não enfrentam nenhuma desvantagem ou repercussão pessoal.
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iStock 6) Desconsideração com as leis
Muitos executivos discordam das leis existentes, sejam elas regras contra suborno ou de proibição de doping. Alguns profissionais da área financeira parte da máxima “se não há vítima, a lei é estúpida”. A mentalidade do pensamento coletivo encoraja esses maus comportamentos e minimiza consequências severas. Discordar da legislação não absolve ninguém que tenha praticado atos ilícitos das consequências criminais.
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iStock 7) Tolerância para a infração das regras
A húbris – conceito grego que se refere a tudo que passa da medida – pode levar à sensação de invencibilidade e aumentar os efeitos das tomadas de decisões. O indivíduo começa a pensar que a lei não se aplica a ele, o que pode induzir comportamentos duvidosos e até criminais. Essas atitudes podem criar ou alimentar uma cultura de “tolerância para o ato de quebrar as regras”.
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iStock 8) Motivação às cegas
A falha no reconhecimento de comportamentos antiéticos para evitar consequências autodestrutivas é muito comum. As empresas responsáveis pela supervisão das demonstrações financeiras dos clientes são incentivadas a ignorar transgressões contábeis. As agências de classificação de risco, como Moody’s e S&P, que avaliam os instrumentos financeiros, também são instigadas a influenciar favoravelmente suas notas. Uma posição indulgente em relação àqueles que pagam as contas pode ser responsável por comportamentos antiéticos.
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iStock 9) Roubar de entidade públicas ou privadas
Roubar de uma grande empresa ou do governo pode ser tentador, pois existe a sensação de que não há uma “pessoa” prejudicada. Segundo o CMS (Centers for Medicare and Medicaid Services), estima-se que o gasto dos Estados Unidos com saúde tenha alcançado US$ 3,5 trilhões em 2017 – o que é muito dinheiro e um terreno fértil para oportunidades de apropriação indevida. Médicos, farmacêuticos e, até mesmo, pacientes, conspiram para burlar o sistema. Exemplos de fraudes incluem faturamento por serviços não prestados, sobreutilização de serviços, prescrição excessiva de medicamentos que viciam e conspirações com empresas farmacêuticas.
1) Incentivos de trabalho mal elaborados
Os profissionais de finanças são, normalmente, remunerados e recompensados por lucros obtidos no curto prazo. Para maximizar suas compensações baseadas em desempenho, alguns decidem contornar as leis existentes. Bradley Birkenfeld, um cooperador federal no caso de fraude fiscal da UBS, declarou ao juiz na audiência de seu pedido de recurso: “Fui incentivado a fazer isso”. No caso Enron, os Planos Executivos de Opções de Compra de Ações (ESOP, da sigla em inglês) pretendiam “maximizar a riqueza dos acionistas”, e ,de fato, motivaram os funcionários a criar a enorme fraude na contabilidade. No escândalo Wells Fargo, o CEO Tim Sloan afirmou: “Nós tivemos um plano de incentivo em nosso grupo bancário de varejo que levou a comportamentos inadequados”. Milhares de funcionários estavam envolvidos.
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