Usando dados de condenados por corrupção no Brasil e um programa especialmente desenvolvido para esse fim, a FORBES deu vida a um bilionário fictício que seria o dono de toda a fortuna desviada ano a ano no país.
O valor exato é difícil – ou mesmo impossível – de mensurar. Mas, conforme dados citados por profissionais da operação Lava Jato, são desviados R$ 200 bilhões por ano. Se todo esse dinheiro fosse parar nas mãos de uma única pessoa, ela seria dona da oitava maior fortuna do mundo, segundo a lista dos Bilionários FORBES de 2018. “A FORBES quer se posicionar contra a corrupção e também chamar a atenção dos brasileiros para o tamanho desse enorme problema em nosso país”, diz Antonio Camarotti, CEO da FORBES Brasil.
"A corrupção no Brasil tornou-se algo tão corriqueiro que até as cifras mais astronômicas parecem ter perdido a ordem de grandeza. Não podemos ficar anestesiados com esse descalabro", Antonio Camarotti, CEO da FORBESPara criar a aparência dessa personificação da corrupção, a inteligência artificial analisou mais de 150 fotos de condenados por esse crime no país. Cruzando dados como cor de cabelo, dos olhos e da pele, a estrutura óssea e outras características faciais, chegou a um resultado “médio”. Para traçar a personalidade desse corrupto, o algoritmo foi alimentado com mais de 500 horas de áudio dos condenados – depoimentos, entrevistas e até conversas vazadas. Unindo aparência e personalidade, nasceu o personagem fictício Ricky Brasil – nome que remete a “Rica Corrupção Brasileira”. Ele é um homem de meia-idade, tem boa aparência, é cínico e arrogante. Com autoestima elevada, acredita estar acima do bem e do mal.
Para descobrir o que a corrupção “pensa”, Ricky Brasil foi entrevistado pela redação da FORBES. Bem-treinado, ele respondeu cada pergunta de forma assertiva e, quando lhe convinha, evasiva – como fazem tantos tristes personagens de carne e osso deste país. Perguntado sobre seus atos ilícitos, o computador disse: “Você pode até questionar meus métodos, mas não acho justo me tachar de uma coisa ou outra”. Sobre sua honestidade, respondeu: “Honestidade é um termo bem amplo. Nem sempre o que publicam sobre mim é verdade”. E tamanha fortuna, de onde veio? “Sou o que você pode chamar de oportunista. Enriqueci porque aproveitei todas as oportunidades que apareceram.”
“A corrupção no Brasil tornou-se algo tão corriqueiro que até as cifras mais astronômicas parecem ter perdido a ordem de grandeza. Mas não podemos nos acostumar com isso, não podemos ficar anestesiados com esse descalabro”, afirma Camarotti. A ONG Transparency International, conhecida por fazer o ranking de percepção da corrupção no mundo, também falou com Ricky Brasil. “É muito bem-vinda a decisão da FORBES de chamar atenção para valores como ética e integridade. Para vencermos a corrupção, precisamos criar um consenso social sobre esses valores”, diz Bruno Brandão, diretor executivo da Transparency.