Parece-me que pouca atenção foi dada à soma algébrica do crescimento do PIB em 2017, ao não relacioná-lo à grande depressão brasileira que anotou um decréscimo de 3,5% no produto brasileiro em 2016.
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Na realidade, portanto, o crescimento do ano passado deve ser considerado como um salto positivo de 4,5%, que transformou uma posição negativa em positiva e criou uma nova base de cálculo para 2018 e anos futuros.
Naturalmente, o Brasil ficou mais pobre nos anos de 2014 a 2016 em cerca de 8% a 10% de um PIB de US$ 3 trilhões, como estima a PwC – ou seja, US$ 300 bilhões. Esse emagrecimento deve corresponder, grosso modo, ao Produto Interno Bruto da maior parte dos países da América do Sul e Caribe juntos.
Só nos superamos nos ganhos de produtividade no agronegócio, ainda que o setor sofra com a crônica deficiência de infraestrutura
É o resultado do empobrecimento geral, e a pobreza manifesta de mais de 40 milhões de brasileiros, que necessitarão de mais uma década para recuperarem o padrão de vida que alcançaram tempos atrás.
Recomeçando o emprego – em janeiro mais 78 mil vagas se abriram – e controlada a inflação em níveis ingleses, a renda do trabalhador e o salário médio tendem a crescer de maneira mais rápida. Por outro lado, há também que se notar uma reversão enorme dos fundamentos da economia brasileira, seja no déficit da balança de pagamentos (hoje em 0,48% do PIB), seja na exuberante performance do saldo comercial no ano passado e neste ano, estimado em mais de US$ 60 bilhões. E ainda o déficit do governo (cerca de 1,8% do PIB), inferior aos déficits limites dos países da União Europeia (3%), e a dívida líquida ao redor de 57% das riquezas por nós geradas.
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Temos, todavia, um fôlego curto para a tarefa de implementar ao menos duas reformas primordiais: a tributária, com a criação de um IVA nacional, e a da Previdência. E, certamente, no novo governo, uma reforma constitucional que permita quebrar o gesso das obrigações orçamentárias que estão na raiz dos desequilíbrios municipais, regionais e nacionais desde 1988.
Quando estudos internacionais como os da OCDE, da qual deixamos de nos filiar (ao contrário do México, membro há 20 anos), demonstram que nosso nível educacional levará 260 anos para que a leitura básica seja universal e 100 anos para que, na matemática, nos aproximemos dos padrões orientais, chineses e sul-coreanos, vemos que continuamos a gastar pouco e mal, ainda que a reforma educacional do ano passado tenha sido positiva.
Desse modo se alargam as distâncias entre nosso país e os Estados Unidos, por exemplo. A relação entre o PIB per capita do Brasil e o dos EUA, que era de 10% em 1950 e chegou a 27% em 2010, caiu em 2016 para 25% – mostrando claramente a perda de velocidade do crescimento relativo do país.
E se em 1981, ano em que abri o primeiro escritório de uma empresa brasileira na China, éramos a sétima maior economia do mundo e eles a 24ª, hoje somos ainda a sétima – e a China, a primeira, tendo retirado 300 milhões de chineses da linha da pobreza. Somos ainda um país lento na implementação de políticas na educação, na saúde, na tecnologia. Só nos superamos nos ganhos de produtividade no agronegócio, ainda que o setor sofra com a crônica deficiência de infraestrutura, de hidrovias a estradas e ferrovias que, se ativas, produziriam um resultado ainda mais marcante no cenário nacional e internacional.
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Estas são reflexões que estão na cabeça de todos os brasileiros, não são novidade para quem se entristece em ver uma nação tão pujante crescer aos solavancos, em ver a corrupção endêmica e as proteções e reservas de mercado que, se eliminadas, nos dariam certamente um ganho de 15% do PIB nas próximas décadas. Ainda sofremos com o patrimonialismo, com a resistência à inovação, a xenofobia e a limitação de concorrência pelo fechamento de nossa economia nos padrões coreanos (do norte).
Se a fobia de reservas de mercado para todos os setores da sociedade brasileira for corrigida e uma maior abertura da economia fizer parte das reformas, teremos saído da época das carroças da indústria automotiva dos anos 80 para uma participação proeminente na nova revolução industrial e tecnológica que já se iniciou.
*Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
Coluna publicada na edição 58, lançada em abril de 2018