Um capitalista não se define pelo tamanho, mas pelo espírito. Um pipoqueiro, da mesma maneira que um capitão de indústria, é um capitalista. Ambos investem, arriscam e ganham (ou perdem) de acordo com a competência, a capacidade de adequação e a visão do mercado. Aliás, não hesito em afirmar que o pipoqueiro é mais capitalista que o bilionário que viu sua fortuna crescer à custa do Estado, que expandiu seu negócio ao largo da concorrência acirrada, financiado pelo dinheiro público.
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O Brasil é um país de empreendedores de verdade. Somos em torno de 20 milhões. Há mais capitalistas aqui, proporcionalmente, do que na pátria-mãe do capitalismo, os Estados Unidos. Não convém, no entanto, romantizar a situação. É claro que muitos dos pequenos empreendedores brasileiros o são por falta de alternativa. Centenas de milhares perderam seus empregos nos últimos anos, em decorrência da profunda crise que enfrentamos, e foram empurrados para a iniciativa própria como meio de sobrevivência.
Mas o fato central permanece: somos um país de empreendedores, um país de pessoas que adiam o impulso de consumo para investir num futuro melhor, de cidadãos que querem fazer as pazes com a prosperidade e legar um porvir com mais oportunidades para as próximas gerações.
Pois nada mais natural para uma nação de empreendedores do que almejar um CEO para a Presidência da República. A crítica, tão corriqueira quanto rasteira, de que não se pode presidir um país como se preside uma companhia privada é ingênua, na melhor das hipóteses – na pior, é de má-fé. É claro que não – ninguém com um mínimo de discernimento sugeriria isso. A questão é que uma pessoa com intensa vivência empresarial aprendeu ao longo da vida a lidar com conflitos, a agir sob pressão, a fazer e aceitar críticas, a negociar com aliados e adversários, a buscar a excelência, a agregar equipes, a maximizar a eficiência, a prestar contas de seu desempenho, a gerar milhares de empregos – enfim, todos aqueles predicados bem-vindos a um presidente.
Não é preciso olhar para fora e identificar paradigmas de gestões exitosas de empreendedores para concluir que o perfil calça como uma luva para o papel de presidente da nação. A lógica se impõe. Aquele que acredita na sabedoria suprema do livre mercado e age de acordo com suas regras dispõe da experiência e da credibilidade necessárias para aplicar seus preceitos no governo federal.
A esquerda, retrógrada e anacrônica, diria que falta nessa equação o elemento social. Nada mais distante da verdade. O livre mercado pressupõe o enxugamento de um Estado inchado. Não se trata de defender o Estado mínimo, mas o Estado de tamanho ideal. O Estado avantajado suga recursos da sociedade que, de outra maneira, poderiam ser canalizados para áreas como saúde e educação. É nessa brecha, que não é pequena, que se vislumbra a oportunidade de implementação de uma política social que não se reduza ao assistencialismo.
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Sugerir que um empreendedor seria, por natureza, desprovido de visão social é desconhecer a realidade do mundo corporativo contemporâneo. Hoje, um CEO consciente de sua missão, e sob pena de ser deixado para trás, não se reporta mais apenas aos acionistas, mas presta satisfação a todos os colaboradores – afinal, são eles, tanto quanto os altos executivos, os responsáveis pelo resultado da empresa –, aos clientes e à sociedade.
Um exemplo talvez ajude a mostrar como, na prática, um CEO do Brasil poderia contribuir decisivamente para encaminhar soluções simples e eficientes. Na educação, apenas para citar um setor em que o país enfrenta dificuldades estruturais, a população em geral estaria mais bem servida com o apoio da gestão privada. É fundamental que o Estado arque com o custo da educação pública, claro, mas não precisa, necessariamente, gerir as escolas. Além disso, famílias com filhos em idade escolar receberiam vouchers-educação e poderiam escolher livremente no mercado uma escola boa, de acordo com seus valores.
São ideias assim, desvinculadas da ideologização que sequestrou nossas instituições, que apontam para um futuro venturoso. A Presidência da República já foi ocupada por um operário, uma tecnocrata, um intelectual, por militares, além de inúmeros políticos profissionais. Nenhum deles conseguiu colocar a nação na rota de um crescimento sustentável que fizesse jus às condições naturais favoráveis do Brasil.
É chegada a hora de darmos a chance a um CEO.
Coluna publicada na edição 60, lançada em julho de 2018.