Com foco em capacitar jovens lideranças para qualificar o Poder Legislativo, o paulistano Eduardo Mufarej fundou, no ano passado, o RenovaBR, instituto de formação de lideranças que defende a renovação política do Brasil.
VEJA TAMBÉM: Que presidente você quer para o Brasil?
O empresário é sócio da Tarpon Investimentos desde 2004. Além disso, até 2017, foi CEO da Somos Educação, maior grupo de educação básica do país, do qual hoje é Presidente do Conselho de Administração.
“Sempre quis fazer algo pelo Brasil e também penso que seja melhor, em vez de deixar dinheiro para os meus filhos, deixar um país melhor. Até o final do ano passado, eu trabalhava com educação e dava aula. Sabia que a educação era algo importantíssimo, mas, ao mesmo tempo, sentia que o Brasil não estava com tanto tempo para investir nesse processo”, explica Mufarej, sobre o que o motivou a criar o projeto.
O executivo conta que, coincidentemente, ao longo dessa reflexão, teve contato com jovens honestos e competentes que estavam dispostos a participar da vida política. “Percebi que muitos deles tinham boas ideias, mas não tinham formação e condição financeira para perseguir essa trajetória. Comecei a conversar com algumas pessoas e constatei duas coisas que me deram ânimo: de um lado, uma base de gente disposta a apoiar financeiramente e, do outro, muita gente interessada em participar”, relembra.
Assim, nasceu o RenovaBR, que, com o lema “da sociedade para a sociedade”, tem como objetivo central capacitar novos talentos com potencial para concorrer a cargos legislativos.
O programa utilizou como referência a agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que combina combate irrestrito à corrupção, gestão fiscal responsável, priorização do cidadão em detrimento da máquina pública, políticas sociais que promovam a igualdade de acesso à educação básica, saúde e segurança de qualidade, respeito às liberdades individuais e gestão sustentável dos recursos naturais. “Focamos em coisas que você não aprende quando vira político, o que faz com que tenhamos uma classe política cara e, ao mesmo tempo, muito pouco eficiente”, explica.
Uma das apostas do programa, que mescla aulas e cases, é a escolha de profissionais renomados para ministrar aulas e palestras. Armínio Fraga, por exemplo, leciona economia, enquanto o jornalista argentino Guillermo Raffo ensina construção de narrativa. Outros temas abordados são media training, imprensa, segurança pública, ética e realpolitik, conceito que define a diplomacia baseada em considerações práticas.
A formação, que inclui 240 horas de aulas presenciais e à distância, entre atividades obrigatórias e eletivas, é ancorada em quatro pilares: liderança e autoconhecimento, desafios do Brasil, marketing político e aprofundamento em áreas de interesse. Outro aspecto interessante é que cada participante é acompanhado de um coach, que o orienta.
A primeira edição do programa teve 133 participantes, sendo 76% homens e 24% mulheres; e 67% brancos e 33% pretos, pardos e indígenas. Além disso, a idade média dos participantes, que vieram majoritariamente das regiões Sudeste e Nordeste, foi de 35 anos.
Outra característica importante dos participantes do curso é a diversidade em relação à filiação partidária. Espalhados por 22 siglas diferentes, os líderes “têm em comum a crença de que a política é lugar de honestidade, diálogo e dedicação”, segundo a instituição.
Pode ser difícil imaginar um grupo que reúna pessoas com ideologias políticas diversas, mas, segundo Mufarej, foi mais fácil do que se pensa. “O que nós compreendemos é que, quando se vai da discussão ideológica para a questão de resolver problemas concretos, o grupo ganha muita convergência. Há, por exemplo, convergência em relação à reforma política e à reforma da Previdência”, explica. Além disso, o executivo pontua que o programa não tem posicionamento político: “Oferecemos uma formação baseada em evidência. Ninguém discute Marxismo ou Escola Austríaca.”
Para que os integrantes possam se dedicar exclusivamente ao processo de formação, são oferecidas bolsas mensais cujo valor varia entre R$ 5 mil e R$ 12 mil. As doações são todas feitas por pessoas físicas, com quem os bolsistas não têm nenhum contato.
Os 133 participantes foram selecionados de um grupo de mais de 5 mil pessoas que se inscreveram entre outubro e janeiro de 2017. O processo de seleção inclui etapas de teste online, vídeos de apresentação pessoal, entrevistas e banca avaliadora com especialistas em gestão pública e política e avaliações de ética.
Para Mufarej, os três grandes diferenciais de um candidato que passou pelo RenovaBR são a capacidade de diálogo e de interagir com pessoas de diferentes grupos, uma base de conhecimento e formação que poucas pessoas têm e a construção de uma rede. Dos 133 participantes do curso, 120 optaram por realmente seguirem com candidaturas.