O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Dentro de São Paulo, existe uma Bélgica e, ao mesmo tempo, uma África. Fartura e miséria, muito próximas.
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Este cenário gera alguns sintomas emocionais, dos mais variados. Vai depender da educação social e de como cada um enxerga o mundo. O melhor de todos os sentimentos é aquele que faz as pessoas agirem.
Um dos meus desafios, como líder social, é engajar as pessoas na ação. Como CEO do Gerando Falcões, ONG que atua na periferia e na favela, eu capto recursos e levo este dinheiro para a favela. Podemos chamar isso de transferência de riqueza.
Recentemente, vivi uma experiência inusitada. Fui apresentado a Elie Horn, fundador da Cyrela. Esse judeu, que reza duas vezes ao dia, colocou minha cabeça em pane.
Foi a primeira vez que eu pedi doação ao Gerando Falcões a alguém, e essa pessoa queria doar mais dinheiro do que eu havia pedido. Ele disse que eu estava pedindo pouco e que precisava ser mais ousado. A ideia dele é eu fazer mais, entregar mais, acelerar o impacto e, assim, ele doar mais. Um provocador nato.
A princípio, eu fiquei até confuso se estava ouvindo a coisa certa. Horn tem uma meta ambiciosa, ele quer dobrar o tamanho da filantropia no Brasil nos próximos anos.
Ele pretende influenciar os grandes donos de fortunas a dobrar sua aposta no Brasil, tirando a carteira do bolso e doando a ONGs que se dedicam a causas humanitárias.
Horn definiu 10 focos de atuação, entre eles, erradicação da pobreza, alfabetização e luta contra a prostituição infantil. Para isso, esse líder que construiu fortuna a partir do zero e faz contas matemáticas complexas de cabeça, vai criar a Rede do Bem, onde empresários podem aderir a essas causas e doar dinheiro para impactar a sociedade.
Mas não é a primeira vez que Horn dá demonstração de empatia por causas humanitárias. Ele já assinou o The Giving Pledge, doando 60% da sua riqueza à luta social. Foi o primeiro líder da América Latina a embarcar no projeto, a convite de Bill Gates e Warren Buffett.
Horn é vitorioso. Fez riqueza do zero com seu talento e visão de falcão para os negócios. Mas acredito que a sua grande façanha ainda esteja por vir. Possivelmente, ele vai entrar para a história como o maior captador de recursos do nosso país.
Criar cultura é coisa de gente grande. Agora, mudar a cultura de um país é trabalho de estadista. E Horn tem como missão implantar a cultura de filantropia na sociedade, sobretudo, entre os mais ricos. É uma cirurgia social.
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Uma pesquisa aponta que os mais ricos doam três vezes menos que os mais pobres, quando comparado às suas rendas. No ranking de solidariedade, o Brasil está na 75ª posição, entre 140 nações listadas. Não somos os últimos, mas se levarmos em conta o fato de sermos a sétima economia do mundo, isso mostra o quanto, apropriando-me de uma expressão da periferia, somos “mão de vaca” para fazer o bem.
Se você conseguiu acumular alguns milhões ou bilhões na conta bancária, Horn vai ligar pra você. Ele vai o convidar para uma reunião na Faria Lima, vai oferecer banana e maçã. Vai falar sobre Deus, Judaísmo, filosofia e, no final, vai o convidar a aderir à Rede do Bem e a doar alguns milhões.
Acredito muito que Horn vai bater sua meta. Se ele conseguir, a sociedade terá conseguido. Como líder social de favelas, afirmo: esse homem é uma ferramenta estratégica para o Brasil, para as favelas e para o povo pobre. Afinal, ele está doando um caminhão de dinheiro para melhorar a vida de quem nasceu com os direitos sociais negados.
Tirar dinheiro do bolso das pessoas é sempre uma missão dura. Mas Horn é brigador. Luta todo dia contra a doença de Parkinson, acorda às quatro da manhã, faz karatê e natação diariamente. Ele tem musculatura para o embate.
A doação de Horn está ancorada em sua fé no Judaísmo. Ele foi ensinado que seu tamanho no céu, será determinado pelo quanto doou aqui na Terra. Se sua crença estiver certa, ao que tudo indica, ele será gigante.
Se Horn está certo ou errado não sabemos. Fé é fé! Agora todos têm uma certeza mensurável, a vida de muitos está melhorando por conta da sua atitude. Eu posso atestar isso, direto da periferia e da favela.
Continue doando, Elie Horn, e fazendo os outros doarem.
Edu Lyra é um colaborador da Forbes Brasil. Sua opinião é pessoal e não reflete a visão editorial de Forbes Brasil.