Escavações em andamento no sítio arqueológico de Pompeia, nos arredores de Nápoles, na Itália, revelaram novos grafites que poderiam pôr fim ao debate dos estudiosos sobre a data exata da erupção do Vesúvio, que destruiu a cidade em 79 dC.
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O registro da tragédia pelo autor romano Plínio, o Jovem, foi feito 25 anos depois da explosão do vulcão, em resposta a um pedido do historiador Tácito para obter informações sobre a morte de Plínio, o Velho, seu tio. Em uma carta, Plínio, o Jovem, escreveu que a data da erupção era “nonum kal. Septembres”, o que, na convenção de datação latina, significa nove dias antes de 1º de setembro — ou 24 de agosto.
A data, do final do verão europeu, temporada em que romanos tiravam férias em Pompeia, foi aceita por séculos por historiadores, arqueólogos e filólogos, até ter início a pesquisa sobre vestígios botânicos e roupas encontrados na cidade. A presença de romãs frescas e nozes na área sugere uma data do outono local, assim como o vinho feito a partir de uvas que provavelmente não teriam sido colhidas até setembro. Além disso, alguns especialistas afirmam que as roupas quentes encontradas sobre os corpos petrificados pela lava do Vesúvio seriam parte do guarda-roupa do outono, estação que fica entre o calor do verão e o frio do inverno.
O anúncio feito ontem (16), pelo Parco Archeologico di Pompei, de um recém-descoberto grafite de Pompeia pode pôr fim ao debate. No grafite, escrito a carvão na parede de uma sala na área Regio V da cidade, que é escavada agora, lê-se: “XVI K Nov”. Apertando o SAP: o 16º dia antes dos kalends (primeiro) de novembro, ou 17 de outubro.
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O novo grafite não traz o ano explicitado; no entanto, a natureza da escrita sugere que ele foi feito pouco antes da erupção do Vesúvio. O escrito foi encontrado na área de uma casa que estava em reforma, provavelmente pouco antes do vulcão entrar em trabalho, já que a obra não foi concluída. Além disso, foi feito com carvão, material que é frágil e mais difícil de ter se preservado por anos antes da destruição total de Pompeia. É claro que não se sabe se a data de 17 de outubro se referia ao dia em que foi escrito, ou a um dia específico no passado ou no futuro.
No Instagram, o Prof. Massimo Osanna, diretor do Parco Archeologico di Pompeii, postou a inscrição completa encontrada:
“XVI (ante) K (alends) Nov (inclui) em [d] ulsit pro masumis esurit [ioni].
Il 17 ottobre lui indulse al cibo in modo smodato.”
[tradução livre: Em 17 de outubro, ele se entregou à comida]
Essa nova evidência arqueológica de um pedaço da vida cotidiana de Pompeia, muito depois da data canônica de 24 de agosto, pode finalmente levar os estudiosos da Roma Antiga a mudar os livros de história. Pelas mudanças, a próxima quarta-feira seria o 1939º aniversário da destruição da cidade, de Herculano e das vilas periféricas na Baía de Nápoles, numa tragédia que explodiu crânios e vaporizou corpos.
Uma diferença de dois meses – do final do verão até o início do outono – é importante para pesquisadores que lidam com análise orgânica, como ecologia de doenças, evolução de patógenos e mortalidade. Vale lembrar que muitas doenças são sazonais, ou pelo menos têm pico em certas estações, como a gripe no inverno. Esse novo grafte pode não reescrever toda a história, mas ajudar a interpretar e reinterpretar dados dos restos mortais do esqueleto humano.