Nome de maior destaque num segmento em que todos os profissionais buscam exatamente essa posição, o decorador Sig Bergamin escreveu ao longo de suas quatro décadas de carreira uma história marcada pelo sucesso. Projetou casas de gente (muito) rica e (muito) famosa a ponto de virar ele mesmo as duas coisas. Conhecido e prestigiado pelo high society paulistano — e pelo carioca, pelo parisiense, pelo nova-iorquino —, ele tem na agenda uma sequência de lançamentos de seu novo livro, “Maximalism”, que sai com o selo da editora Assouline.
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O lançamento em São Paulo acontece neste sábado. Na mesma noite, voa para Nova York, onde assina exemplares, na terça, no Plaza. No dia 6, em Miami, recebe convidados para autografar durante a feira Art Basel. A tiragem inicial tem 4.000 exemplares, e o livro custa 85 euros (pelo câmbio desta sexta, R$ 374). Os detalhes da capa refletem a personalidade dele: traz um de seus projetos impresso em seda na Itália, que seguiu para encadernação na China. Tem prefácio do artista Vik Muniz e, entre os 15 projetos fotografados pelo sueco Björn Wallander, estão casas decoradas em Londres, Nova York, Trancoso, Paris e Guarujá.
Em seu imenso escritório no Jardim América, em São Paulo, ele conversou com FORBES sobre o livro, a decoração e os decoradores de hoje, a vida de casado com o arquiteto Murilo Lomas e sua grande paixão: os cachorros. O casal é “pai” das buldogues francesas China e Índia, e Sig mantém em sua mesa de trabalho as cinzas de América e Ásia, cadelas que amou e a quem se dedicou até seu último latido.
FORBES: Maximalismo é uma marca sua. Tem fases em que as pessoas querem projetos minimalistas. Como lida com isso?
SIG BERGAMIN: Não é um problema. Eu gosto de minimalismo quando a arquitetura é perfeita. Agora, já fui a lugares em que não tinha onde apoiar um copo. Aquele frio terrível, você sentado numa cadeirinha. Gosto de casa que abraça. Acho que só seria minimalista na minha oitava casa. Eu tenho quatro. Quer dizer, ainda precisaria de mais três até pensar em algo minimalista. Seria na Grécia, com aquela arquitetura sem nada, o mar turquesa e duas cadeiras Butterfly.
F: Você gosta de tudo muito?
SB: Muito. Se amar, amo muito. Se faço sexo, adoro fazer muito. Só comer que não como muito.
F: Onde ficam suas quatro casas?
SB: Nova York, Paris e São Paulo. Agora vai ter a de Miami, mas ainda não posso contar detalhes por não estar assinado. Comprei no mesmo dia que vendi a de Trancoso. Considerei que não tinha sentido manter algo que eu não usava. Minha fase Trancoso acabou. Não adianta pagar uma fortuna num tênis se ele fica guardado. Dinheiro não leva desaforo.
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F: Você é controlado com dinheiro?
SB: Às vezes acho que estou gastando muito, então entro numa pão-durice incrível.
F: O que é gastar muito para Sig Bergamin?
SB: Entrar no Tom Ford e gastar US$ 10 mil. Gastar US$ 1.500 num jantar. Não sou de pedir vinho caro. Nessas coisas sou pão duro. Mas para livro e obra de arte, não. Detesto comer comida metida, fresca, em restaurante em Paris. Prefiro omelete com vinho rosé numa brasserie.
F: Em qual das suas casas passa mais tempo?
SB: A daqui, por causa das minhas filhas, que amo: China e Índia. Sou superpai. Essa noite dormi mal porque a China está doentinha. Minha labradora, América, morreu com dezoito anos e meio. Acho que é um recorde cachorro dessa raça viver tanto. E foi assim porque eu cuido muito. Se eu tivesse filho, não dormiria nunca. Sou muito preocupado.
F: Com seu marido também?
SB: Muito. Ele é superfiel, graças a Deus. Porque eu já tive problemas horríveis de infidelidade. Mas ele é de sair para comprar uma cerveja e voltar com copo Baccarat. Eu sei que a cerveja demora dez minutos. Depois de uma hora e meia eu fico preocupado. Eu sou uma pessoa muito preocupada.
F:Hoje em dia as pessoas se levam a sério demais?
SB: Eu acho. Elas estão muito expostas. Acho que é por causa de celular, das blogueiras. Ando super anti-social. Meu foco é outro. Antigamente, adorava festa. Achava mais elegante, mas não gosto de falar de passado, de parecer que queria que voltasse. Agora é outro foco.
F: Qual?
SB: Hoje as pessoas que tem mais seguidores são as mais importantes. Antigamente era a pessoa mais chique. Pega todas essas blogueiras, que metade eu não sei nem o nome, elas que são as convidadas. Uma versão delas, que é muito minha amiga, muito chique, é a Marina Ruy Barbosa. Ficamos amigos, ela ficou no meu apartamento de Paris com a mãe dela cinco dias. Ela não se expõe como as outras.
F: Ela sabe o que expor.
SB: Exato. E tem as gays agora, que é uma coisa. Você pega o Matheus Mazzafera atacada… E aquele outro lá que usa chapeuzinho, como é que é o nome?
F: Hugo Gloss? Kadu Dantas?
SB: Hugo Gloss. Eles ficam com essa mulherada posando. A festa não existe. É só foto.
F: A festa hoje só existe se existir na internet.
SB: Fui a uma galeria anteontem, entrei e tinha três fotógrafos. Eu queria falar com o dono do lugar, e eles não deixavam. Acho uma falta de educação a pessoa ir a um lugar e, em vez de cumprimentar o anfitrião, ficar posando na porta. Hoje em dia, o dono da festa não é mais importante. Nem o evento em si. O mais importante são as pessoas. Agora todo mundo está se achando muito mais que antigamente.
F: Antes a pessoa ia curtir o momento.
SB: E dois dias depois dava uma olhada no jornal se tinha uma fotinho.
F: Você viveu a São Paulo das décadas de 1980 até hoje.
SB: Cheguei em 1980, abri meu escritório, fiz a boate Gallery. Aí foi o auge de São Paulo. Os jantares mais chiques, Andrea Moroni…
F: Qual foi a melhor década?
SB: Os anos 1980. Época de night clubs, as chiques iam ao Gallery…
F: As pessoas mais ricas, hoje, não vão a evento com fotógrafo?
SB: Os ricos andam entre eles. Eles têm medo. Se vão a restaurante, vão eles com eles. Todos têm apartamento em Nova York ou Miami. Uma parte é cliente meu. Eles não se expõem, não saem em foto, não tem foto de filho, de festa. Não convivem com blogueiras. E se a blogueira for da família, não pode tirar foto quando está em coisa da família. Ela fica anunciando cosmético, sutiã, carros… A família, não.
F: O gosto do brasileiro para decoração mudou?
SB: O novo rico impera.
F: Faz tempo, não?
SB: O novo rico está parecido com o jogador de futebol. No sentido de mau gosto. Mas eu adoraria fazer a casa de um jogador de futebol. Nunca fiz. Ia deixar colorida, bacana. Acho que quem eles pegam é de mau gosto. Acho que eles não me chamam por medo.
F: Como faria uma casa para o Neymar, por exemplo?
SB: Supercolorida, modernérrima, lugar para dançar, um clubinho para dançar. Ele adora uma balada, uma churrasqueira. Acho bacana proporcionar uma coisa de nível, de bom gosto. E, ao mesmo tempo, discutir com ele: quer um quarto vermelho ou azul? Gosto que a casa tenha a cara da pessoa que mora.
F: Hoje em dia o que mais pedem?
SB: Tomada, por causa dos celulares.
F: As pessoas tentam decorar sozinhas, com tutorial da internet?
SB: Hoje uma senhora estava aqui e me disse que copia todas as minhas mesas. Eu posto uma poltrona, a pessoa sabe de onde é. Mas o meu olho não tem como elas pegarem da internet. Foi treinado pra isso. Eu sempre quis me arriscar. Nunca quis o óbvio. Elas fazem e vira um showroomzinho. Fica tudo composé, combinandinho. As pessoas não sabem usar cor, aí fica tudo cinza, creme, bege, cru e um toque preto. É triste ao mesmo tempo.
F: Qual a coisa mais cafona que as pessoas fazem?
SB: Uma casa que não tem alma. Que evidencia que a pessoa tem dinheiro, mas não tem alma. Você entra e fala: “Quem é que mora aqui?” A casa é uma junção de brincadeiras. Pode por um quadro superimportante com um pôster vintage. As pessoas põem foto de casamento enorme na sala. Colocam foto esquiando, a família inteira. Ninguém da família esquia. É só para a foto.
F: Mas não pode foto de casamento?
SB: Deveria ter na parte íntima da casa. Não numa mesinha na sala.
F: As televisões hoje são gigantes. Isso é um problema?
SB: Não. Tenho cliente que tem duas televisões na sala. Hoje as pessoas ficam mais em casa, é natural. Comodidade, praticidade, conforto. Eu sou viciado em filme e série.
F: Qual está vendo no momento?
SB: Acabei de ver a “Rainha Victoria”. Vi “La Casa de Las Flores”. É muito louca! É kitsch. Eu achava que era feito nos 1980. Murilo que me mostrou que o carro era de agora. A maconha no meio das flores!
F: A série mostra uma família da alta sociedade mexicana. Consegue ver ali figuras do high paulistano?
SB: Tem muito. A filha que trabalha, a outra que não. O gay que não sai do armário. O que vai embora com o dinheiro da família. O pai que vai para a prisão. Eu acho que ele até fazia sexo na prisão.
F: Com tudo que fez e acumulou, poderia tranquilamente se aposentar e curtir a vida. Pensa nisso?
SB: Não sei tirar férias de mais de dez dias. Não consigo ficar parado. Não conseguia mais ir para Trancoso ficar embaixo de um coqueiro. Fui para Aspen com Murilo no Réveillon passado. Era pra voltar no dia 10, viemos embora no dia 6. Começou a me dar agonia nas montanhas, aqueles lobos. Uuuuuu. Sabe?
F: Ter 63 anos é como você imaginava?
SB: É melhor. Achava que estaria velhinho. Mas me cuido: não como carne, arroz, pão branco, nem leite. Vou para Paris e não como um queijo, uma baguete. Nada.
F: E bebida?
SB: Não gosto mais de tomar champanhe. Vinho tinto, um pouco. Gosto de Aperol e gim tônica. E ressaca para mim não existe. Murilo fica bravo, porque ele bebe quase nada. Aniversário da Marina Ruy Barbosa enchemos a cara e, no dia seguinte, ele não conseguia se mexer. Eu estava ótimo.
F: Nos anos 1980 você era agitado assim?
SB: Era.
F: E o povo que usava aditivos acelerantes…
SB: Pó.
F: Sim.
SB: Cheguei a usar, mas nunca mais vi na vida. Eu não era tão ligado. Era tipo se me davam. Acho que não conheço mais ninguém que cheire pó. Eu que mudei de festa, acho. O Murilo odeia também. A companhia é tudo, para o bem ou para o mal. Um casamento pode te levantar ou te afundar.
F: Tem alguém do seu ramo que estaria a altura de um livro como seu?
SB: O Isay [Weinfeld], que acho muito bom. E o Marcio Kogan.
F: Mais alguém?
SB: [pensa uns instantes antes de continuar] Para por aí.
F: Egos inflados ainda são comuns na sua profissão?
SB: Na nossa profissão ninguém é amigo. Não tenho nada contra ninguém, mas não é unida. Os fashion designers são mais unidos.
F: Por quê?
SB: É uma competição muito chata. Eu fico tão na minha. Quero bem pra todo mundo. É difícil turminha de decoradores almoçando juntos, todos se beijando. De arquiteto é pior ainda. O ego é muito grande.
F: Gosta mais de cachorro que de gente?
SB: Sim. Eles dão tanto amor e não pedem nada em troca. E eles viram anjinho da gente quando morrem.