O bilionário Yvon Chouinard, fundador da empresa de vestuário norte-americana Patagonia, costuma evitar discussões quando o assunto é política. Mas as coisas mudaram para o pescador e alpinista após a eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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No último dia 28, a companhia de Chouinard anunciou que, neste ano, teve um lucro adicional de US$ 10 milhões na venda de livros devido ao “corte de impostos irresponsável” de Trump no ano passado, que reduziu a alíquota de taxas corporativas de 35% para 21%. Em vez de investir esse dinheiro nos próprios negócios, a empresa disse que doaria a quantia para grupos que lutam contra as mudanças climáticas, incluindo organizações que trabalham com agricultura orgânica regenerativa, para ajudar a reverter o aquecimento global.
“Nosso governo continua a ignorar a seriedade e as causas da crise climática. É pura maldade”, disse Chouinard. “Precisamos de um sistema de agricultura que apoie ranchos e fazendas de pequenas famílias, e não de um que recompense a intenção de companhias químicas de destruir nosso planeta e envenenar a nossa comida”, completou. “Precisamos proteger os terrenos públicos, porque eles são tudo o que nos restou.”
Ao citar novos relatórios sobre o clima, a Patagonia declara que a indústria de petróleo e gás tem sido a mais beneficiada com o corte de impostos, com bilhões sendo adicionados às receitas dessas empresas. Enquanto isso, o U.S. Global Change Research Program (“Programa de Pesquisa Norte-Americano Pela Mudança no Mundo”, em tradução livre), em seu quarto boletim de análise do clima nos EUA, apontou uma mudança intensa e frequente nos fenômenos climáticos do país, além de um futuro ainda mais tumultuoso.
“O timing para esse corte de impostos não poderia ser pior”, escreve a Patagonia.
Esse posicionamento ousado da empresa surge um ano após de seu fundador declarar oposição à decisão de Trump de reduzir o tamanho da área de reserva ambiental das “Bear Ears” (nome dado ao par de colinas localizado no Estado de Utah e protegido pelos governos Obama e Clinton) e do Monumento Nacional Grand Staircase-Escalante (também localizado em território protegido pelo governo em Utah). Em resposta, Chouinard apagou a página inicial do site de sua empresa e a substituiu por uma simples mensagem: “O presidente roubou as suas terras”.
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O bilionário, com fortuna estimada pela FORBES em US$ 1,5 bilhão, apareceu, então, na CNN para anunciar que tinha planos de entrar na Justiça contra o presidente. “Eu irei processá-lo”, afirmou na época. “Parece que a única coisa que essa administração entende são processos.” O governo Trump tentou levar o caso às cortes de Utah, mas foi julgado que o processo precisará ser levado à Corte federal, na capital do país. O caso continua em aberto.
Ter um posicionamento abertamente contra as políticas de Trump não prejudicou os negócios da Patagonia. Na verdade, parece que só ajudou. “Sempre que fazemos algo bom para o meio ambiente, fazemos mais dinheiro”, disse Rose Marcario, CEO da empresa, para estudantes da Universidade da Califórnia em Berkeley, em abril de 2017.
A missão da empresa em prol da conservação ambiental e da luta contra as mudanças climáticas já existia muito antes do governo Trump. A Patagonia tem arrecadado fundos para a causa desde 1985, já tendo doado um total de US$ 100 milhões. Em 2002, Chouinard cofundou a 1% for the Planet, organização internacional cujos membros contribuem com pelo menos um por cento de suas vendas anuais para causas ambientais. Até hoje, a organização juntou US$ 175 milhões em fundos para esforços ambientais.
Aos 80 anos de idade, Chouinard não faz parte das operações diárias da Patagonia, mas não parece que tem planos de parar de se pronunciar sobre outros assuntos. Quando perguntado sobre por onde o fundador tem andado, um representante do bilionário disse à FORBES: “Ele está longe do trabalho, dando uma pausa merecida para pescar”.