Hipnotizante. Sim, a palavra é essa. Define a performance de Edu Lyra na noite de ontem, ao falar diante de uma plateia de 660 convidados que continha alguns dos mais poderosos empresários do país, artistas e integrantes de famílias cujos sobrenomes há gerações estampam o noticiário ou viram nome de rua. Em suma, o PIB nacional. Tinha Lemann, Matarazzo, Birman, Diniz… Todos acompanhando enfeitiçados o discurso do empreendedor social, criador do Instituto Gerando Falcões. O jantar buscava recursos para expandir seu projeto de transformação da vida de jovens que, como ele, cresceram nas favelas do país. E o dinheiro veio, sim: ao todo, foram R$ 2,4 milhões arrecadados — quase o triplo dos R$ 865 mil levantados no ano passado.
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Lyra, que criou o projeto em 2011 e três anos mais tarde integrou a lista Under30 da FORBES, circula entre o empresariado com invejável desenvoltura. Seu carisma e oratória facilmente o colocariam entre os líderes de audiência de qualquer televisão.
E, como um Silvio Santos do terceiro setor, mantém a plateia na palma da mão.
Diverte ao contar sobre um caldo de sururu que o teria ajudado a engravidar sua mulher, Mayara. Choca ao convocar um rapaz de Alagoas que descreve sua infância: aos 9 anos, era alcoólatra e sua mãe o deixava literalmente amarrado dentro de casa para não ser cooptado pelo tráfico. Tudo entremeado com frases brilhantes que levavam o público a calorosos aplausos: “eu faço a ponte entre a favela e a Faria Lima”, “se o Elon Musk vai conseguir chegar a Marte, vai ser uma vergonha a gente continuar tendo favela” e “o próximo Bill Gates vai vir da comunidade”.
Esta última de suas tiradas, aliás, foi lembrada no palco pela presidente da Microsoft, Paula Bellizia, uma das muitas CEOs presentes. “Venho como amiga e admiradora”, afirmou. Uma sucessão de executivos dividiu com o anfitrião os holofotes, sempre com cheques polpudos: Roberto Vilela, da RV Ímola, entregou um de R$ 60 mil e Marcel Sacco, da Hershey’s, outro de US$ 50 mil.
A empolgação foi seguida de uma onda de doações vindas das mesas. A turma da 99, de carros compartilhados, ofereceu um ano de transporte de graça aos funcionários da Gerando Falcões, o empresário Carlos Sanchez, da EMS, se comprometeu a duplicar cada R$ 1 doado, até o limite de R$ 600 mil.
Ao todo, essas doações chegaram a R$ 1,19 milhão. Houve também quem contribuísse passando o cartão em maquinetas que circularam pelo espaço. Da venda das mesas vieram outros R$ 390 mil. Um leilão com itens como experiência ao lado de Luciano Huck e Anitta amealharam mais R$ 490,5 mil.
Que bom para o país que Lyra usa seus dons para uma causa tão bonita: oferecer atividades educativas, formação profissional e artística para uma parcela da população que, de outra maneira, dificilmente teria boas oportunidades. O dinheiro levantado vai ser, como nosso showman ongueiro diz, empenhado em construir pontes. Atualmente, o Gerando Falcões está em três comunidades (Poá e Vila Prudente, em São Paulo, e Vergel do Lago, em Alagoas), com 5705 familiares de alunos impactados. “Nossa meta é passar a atuar em trinta favelas e fazer diferença para 50 mil pessoas”, diz Lyra. É para aplaudir mesmo, não?