Estou na Califórnia (EUA) de férias, ou a trabalho. Não sei. Tanto faz. Se a ideia era descansar, acabo de embarcar na Rede Gerando Falcões um novo patrocinador, que vive aqui: Thiago Oliveira. Este empreendedor de 38 anos, um periférico da Zona Leste de São Paulo, é outro que ousou desafiar a lógica social e tentar mais de uma vez até alcançar seus sonhos.
Com o recurso doado por Thiago, o time do GF tem o desafio de investir em negócios sociais para garantir sustentabilidade para as novas unidades que estamos abrindo nas favelas. No geral, as ONGs, no Brasil, dependem de doações para sobreviver. Eu quero quebrar esta lógica e criar novas fontes de receita para não depender unicamente e sempre de doações. Uma coisa não exclui a outra, mas uma não pode depender da outra.
Enquanto tento construir estratégias para trazer receitas com vendas de produtos e bater as minhas metas, leio uma frase de Jeff Bezos, que transformou o mercado e serve de inspiração: “A melhor maneira de escapar de uma caixa é inventando seu próprio caminho para fora”. Ele fez isso.
Ninguém vai o salvar da caixa. Sair de lá é um game de superação, acerto, erro e muitas, muitas tentativas. E Thiago escapou da caixa em que o meio tentou colocá-lo. Agora tem assento, como investidor do GF, ao lado de Jorge Paulo Lemann, Elie Horn, Flávio Augusto da Silva, Daniel Castanho, Charles Wizard e Marcus Sanchez.
Se para mim, nascido na favela, juntar este time era improvável, Thiago sentar ao lado dos maiores empresários do país também parecia mais que improvável. Eu digo sempre que ele é um filho da improbabilidade.
Thiago nasceu em São Miguel Paulista. Lá perto da Curva da Morte. Estudou a vida toda em escola pública. Não tinha as melhores notas da turma. Não era tido como gênio. Família simples, contou com o apoio de outra família, a Quintana, que praticamente o adotou e reforçou valores e conduta de vida.
Com as habilidades que Thiago tem, se não fosse a união das famílias, Quinta e Oliveira, talvez, ele poderia ter se tornado líder de tráfico de drogas, chefe de quadrilha. Mas ele foi na contramão. Começou a vida como office-boy e depois de enxergar uma oportunidade, coisa de empreendedor atento, fundou, com R$ 17 mil que pegou emprestado, a IS Logística, hoje IS Entrega.
Como já era de se esperar, Thiago quase quebrou. Dívidas. Pressão. Ele engordou, ficou com mais de cem quilos. Mas este jovem, como na música do Raul Seixas, não teve medo de tentar outra vez e, com o apoio de sua esposa, Fabiane Oliveira, também empreendedora e forte como uma rocha, deu a volta por cima, como naqueles roteiros de filmes de Hollywood.
Oito anos atrás, já fascinado por Jorge Paulo Lemann, e ainda sem conhecê-lo, Thiago foi buscar o modelo de gestão da Ambev e implantou o sistema de metas, bônus, rituais e processos, que ele conduzia com braço de ferro. A decisão deu resultado. O menino da periferia foi coroado. E, três anos atrás, com apenas 35 anos, vendeu a empresa para um fundo, também da Califórnia, por centenas de milhões de reais.
Thiago escapou da caixa. Onde nasceu, estava quase que sentenciado a não acontecer. Mas o empreendedorismo tem dessas: dá a chance de quebrar a banca. Thiago tem um livro chamado “Pense Dentro da Caixa”. Eu concordo com ele. Para sair da caixa, antes, precisa pensar dentro dela. Estou na casa do Thiago, na Califórnia, com minha família, pegando, não somente o cheque, mas também aulas de liderança e gestão de gente, com este palmeirense que adora surfar e levar os filhos para a escola.
Quando eu voltar ao Brasil, entre as prioridades do meu foco, vai ser quebrar a dependência da filantropia. Não vou fazer isso porque não quero mais doações para o GF. Ao contrário. Eu sou captador. Se eu conseguir fazer isso, meus doadores vão doar mais. Assim, o dinheiro doado não morre. Multiplica. E gera mais impacto.
O Thiago fez a façanha de criar a IS Logística a partir do nada. Agora vai realizar outra: ajudar-me a transformar o jeito de fazer impacto social e mandar as favelas para o museu. Bem-vindo, irmão.